OBJETIVO: Investigar os fatores predisponentes individuais, do contexto ocupacional e relativos à necessidade de saúde que predizem uma elevada utilização de serviços de saúde em 12 meses de seguimento em uma coorte de trabalhadores siderúrgicos de BH. MÉTODOS: A coorte foi constituída por trabalhadores ativos, do sexo masculino, de uma indústria siderúrgica de grande porte de BH, cobertos por plano de saúde privado vinculado ao contrato de trabalho e participantes de um inquérito de saúde realizado dentro da unidade sede da indústria em 2006. As informações do inquérito foram obtidas por meio de entrevista utilizando questionário estruturado contendo características sócio-demográficas, ocupacionais, fatores comportamentais relacionados à saúde, morbidade referida, utilização prévia de serviços de saúde e exposição a condições psicossociais adversas no trabalho, determinadas pelo modelo de “demanda-controle” proposto por Karasek. A informação sobre utilização de consultas médicas nos 12 meses seguintes ao inquérito foi obtida junto ao plano de saúde. Informações sobre data de admissão na empresa, data de demissão ou óbito, se existente, data de exclusão do plano de saúde e tipo de vínculo salarial durante o período de seguimento foram obtidas de registros do setor de recursos humanos da empresa. A variável resposta foi definida pela soma das consultas (em regime de urgência e eletivo) realizadas durante os 12 meses subsequentes à data de participação no inquérito de saúde. Os trabalhadores que realizaram 10 ou mais consultas durante o período de 12 meses correspondem ao maior quintil de utilização e foram comparados aos demais trabalhadores com relação ao conjunto de informações existentes, agrupadas conforme proposto pelo modelo comportamental de RM Andersen (1995). Os fatores que predizem de forma independente a maior utilização de serviços de saúde durante o seguimento foram investigados por meio da regressão logística múltipla. RESULTADOS: 11,15% dos indivíduos elegíveis não tiveram registro de consultas eletivas ou de urgência durante o período de acompanhamento. A incidência de pelo menos uma consulta em 12 meses foi de 88,85%. A média e mediana de consultas em um ano foram 5,54 (DP= 5,37) e 4,00, respectivamente. O risco de realizar 10 ou mais consultas foi maior entre trabalhadores com idade igual ou superior a 50 anos (OR=2,14;IC95%:1,27-3,61); ex12 tabagistas (OR=1,51;IC95%:1,18-1,94); que relataram doença da coluna ou das costas (OR=1,58; IC95%:1,22-2,05); tendinite, tenossinovite ou LER (OR=1,48; IC95%:1,05-2,08); depressão (OR=2,30;IC95%:1,59-3,34); e expostos à alta exigência no trabalho (OR=1,61;IC95%=1,17-2,23). O risco de maior utilização cresceu diretamente com o número de consultas realizados no ano anterior ao inquérito (1-2 consultas: OR=2,02;IC95%:1,04- 3,93; 3-4 consultas: OR=3,89;IC95%:1,98-7,65; 5 ou mais consultas: OR=5,23; IC95%:2,61- 10,48) e com o número de medicamentos utilizados nos 15 dias precedentes ao início do seguimento (1 medicamento: OR=1,53;IC95%:1,20-1,95; 2 ou mais medicamentos: OR=2,56;IC95%:1,90-3,46). Trabalhadores com renda igual ou superior a 10 salários mínimos tiveram uma menor risco de realizarem 10 ou mais consultas (OR=0,51;IC95%:0,32-0,83). CONCLUSÕES: A mediana do número de consultas em um ano de seguimento foi elevada, e o ponto de corte para definir grande usuário é bem superior ao descrito em populações trabalhadoras ativas do sexo masculino. Os fatores que aumentaram o risco de ser um grande usuário de consultas médicas estão relacionados ao aumento das necessidades de saúde, como a idade mais velha, e a presença de problemas de saúde anteriores, como indica a história de tabagismo e o maior uso prévio de consultas eletivas e de medicamentos. O maior risco associado à presença de doenças osteomusculares ou depressão, e ao trabalho sob alta demanda psicossocial reforçam o papel das condições de trabalho sobre a saúde e atenção em saúde. A renda familiar superior a 10 salários mínimos foi um fator protetor para a maior utilização de serviços de saúde, sugerindo melhores condições de saúde desse grupo. OBJECTIVE: To investigate factors predisposing individual, context and occupational factors related to health need that predict increased use of health services in 12 months of follow up in a cohort of steel workers in Belo Horizonte, Brazil. METHODS: The cohort was composed of active male workers of a large steel manufacturing plant in Belo Horizonte. All workers were covered by private health insurance tied to employment contract and participated in a health survey conducted at the headquarters unit of the industry in 2006. Survey information was obtained through interview using a structured questionnaire containing socio-demographic, occupational, health behavioral factors, morbidity, previous use of health services and exposure to adverse psychosocial conditions at work, measured by the Job Stress Scale. Data on number of physician visits in the 12 months following the survey were obtained from the health plan. Information on duration of employment, date of resignation or death, date of exclusion from the health plan and type of wage contract during the study period were obtained from the company human resources records. The response variable was defined as the upper quintile of the distribution of the total number of medical visits (both, emergency and elective) during the 12 months of followup. Workers who performed 10 or more visits during the 12 months were compared to all the other employees with respect to all existing information using multiple logistic regression analysis. RESULTS: From 3121 elegible workers, 11.15% had no record of elective or emergency consultations during the monitoring period. The incidence of at least one visit in 12 months was 88.85%. The mean and median numbers of consultations in one year were 5.54 (SE= 5.37) and 4.00, respectively. The risk (OR/95%CI) of making 10 or more visits was higher among workers aged 50 years and above (2.14/1.27-3.61), former smokers (1.51/1.18-1.94), who reported back pain (1.58/1.22-2.05), tendinitis, tenosynovitis or work-related osteomuscular disorders (1.48/1.05-2.08), depression (2.30/1.59-3.34), and who were exposed to high strain at work (1.61/1.17-2.23). The risk of high use increased directly with the number of appointments made in the year preceding the survey (1-2 queries: 2.02/1.04-3.93; 3-4 queries: 3.89/1.98-7.65; 5 or more visits: 5.23/2.61-10.48) and the number of drugs used in 15 days immediately prior to the follow up (a drug: 1.53/1.20-1.95, and two or more14 medications: 2.56/1.90-3.46). Workers who earned more than 10 minimum wages had a lower risk of performing 10 or more medical visits (0.51/0.32-0.83). CONCLUSIONS: The median number of medical consultations in one year of follow-up was high and the cutoff to define major user is much higher than that found among most male active working populations. Most of the predictors of being a major user of consultations indicate increased health needs, as they are more common among older individuals and those who already have some health problem, such as former smokers and those who were already greater users of elective consultations and medicines. The greater risks for employees with musculoskeletal disorders or depression, potentially related to work, and for individuals working under high demand reinforce the role of psychosocial work conditions in health care needs. Family income above 10 minimum wages was a protective factor for greater use of health services, possibly reflecting better health and life quality of this group.