Orientador: Thiago Martins Santos Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Ciências Médicas Resumo: Introdução A necessidade de ventilação mecânica prolongada (VMP) é comum em pacientes com diagnóstico de choque séptico. Nesses pacientes, a persistência de um padrão hiperdinâmico, com aumento do Débito Cardíaco (DC) e queda da Resistência Vascular Periférica (RVP), está associada a maior mortalidade. A Ecocardiografia, por sua vez, vem sendo cada vez mais utilizada para avaliação hemodinâmica no choque séptico, com finalidades diagnóstica e terapêutica. No entanto, seu valor na determinação prognóstica ainda é incerto, e não há estudos relacionando parâmetros ecocardiográficos e a necessidade de VMP. Objetivos Estudar o papel da Ecocardiografia na avaliação hemodinâmica, nas primeiras 24 horas após admissão na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), de pacientes em choque séptico, submetidos a intubação orotraqueal por insuficiência respiratória aguda, com relação à evolução para VMP. Métodos Neste estudo observacional prospectivo, foi realizada avaliação hemodinâmica de pacientes em choque séptico e ventilação mecânica (VM), através da Ecocardiografia, dentro das primeiras 24 horas de internação na UTI, e não mais do que 72 horas após a intubação orotraqueal. Os seguintes parâmetros ecocardiográficos foram calculados: DC, Índice Cardíaco (IC) e onda s', este último apresentando relação inversamente proporcional com a RVP em estudos prévios. A avaliação da função diastólica foi realizada através da relação E/e'. Os sinais vitais e exames laboratoriais registrados na admissão dos pacientes na sala de Emergência foram coletados retrospectivamente e aqueles provenientes da UTI, prospectivamente. A evolução dos pacientes para VMP foi considerada após um total de 14 dias em VM. Resultados Entre julho de 2018 e junho de 2019, de 162 pacientes elegíveis, 43 foram excluídos devido dificuldades técnicas do exame, arritmias, cardiopatias e baixa expectativa de vida, e 55 por outros motivos. Ao final do período de recrutamento, 64 pacientes foram incluídos, e 26 preencheram critérios para VMP. Os pacientes que evoluíram com VMP apresentaram valores médios maiores de DC (5.49 vs 4.2 p = 0.023), IC (2.95 vs 2.34, p = 0,041) e onda s' (12.56 vs 9.81, p = 0.01), em relação àqueles que foram retirados da VM com sucesso em até 14 dias. Houve também correlação estatisticamente significativa entre o IC e a onda s' (r = 0.374, p = 0.007). As áreas sob a curva (ASC) para o DC, IC e a onda s' em relação à capacidade de predizer VMP foram, respectivamente, de 0.707 (± 0.06, p = 0.01), 0.69 (± 0.07, p = 0.01), e 0.679 (± 0.08, p = 0.03). Pacientes com valores de DC, IC e onda s' acima de, respectivamente, 4.82 L/min, 2.54 L/min/m2 e 13.85 cm/s, apresentaram maiores chances de VMP. Conclusões A avaliação hemodinâmica precoce do paciente em choque séptico e em VM, com Ecocardiografia, associa-se à necessidade de VMP ao longo da internação, demonstrando valor prognóstico. Os pacientes com perfil hiperdinâmico, caracterizado por DC, IC e onda s' aumentados, apresentaram maiores chances de VMP. No entanto, tais parâmetros não podem ser usados isoladamente para prever VMP. Tais achados podem abrir perspectivas para realização de futuros estudos com maior número de pacientes Abstract: Introduction Prolonged mechanical ventilation (PMV) is common in septic shock patients. The persistence of a hyperdynamic profile, with an increase in Cardiac Output (CO) and a decrease in Systemic Vascular Resistance (SVR), is associated with increased mortality in these patients. On the other hand, Echocardiography has been increasingly used for hemodynamic evaluation in septic shock, for diagnostic and therapeutic purposes. However, its role in determining prognosis is still uncertain, and there are no studies associating echocardiographic parameters with PMV. Objectives Evaluating the Role of Echocardiography in the hemodynamic assessment of patients in septic shock undergoing orotracheal intubation for acute respiratory failure, in the first 24 hours from admission to the Intensive Care Unit (ICU), concerning the need for PMV. Methods In this prospective observational study, hemodynamic assessment of septic shock patients in mechanical ventilation (MV) was performed using Echocardiography, in the first 24 hours from ICU admission, and no later than 72 hours after orotracheal intubation. The following echocardiographic parameters were calculated: CO, Cardiac Index (CI), and s' wave, the last one inversely proportional to the SVR in previous studies. The assessment of diastolic function was performed using the E/e' ratio. Vital signs and laboratory data recorded upon admission to the Emergency Room were collected retrospectively, and those collected from the ICU, prospectively. The evolution to PMV was considered after a total of 14 days in MV. Results Between July 2018 and June 2019, of 107 eligible patients, 43 were excluded due to poor echocardiographic windows, heart diseases, arrhythmias, and low life expectancy, and 55 for other reasons At the end of the recruitment, 64 patients were enrolled, and 26 met the criteria for PMV. Patients who needed PMV had higher mean values for CO (5.49 vs 4.2, p = 0.023), CI (2.95 vs 2.34, p = 0.041), and s' wave (12.56 vs 9.81, p = 0.01), compared to those that were successfully weaned within 14 days from orotracheal intubation. There was also a statistically significant correlation between CI and the s' wave (r = 0.374, p = 0.007). The areas under the curve (AUC) for the CO, CI, and s' wave in predicting PMV were, respectively, 0.707 (± 0.06, p = 0.01), 0.69 (± 0.07, p = 0.01), and 0.679 (± 0.08, p = 0.03). Patients with CO, CI, and s' wave values higher than 4.82 L/min, 2.54 L/min/m2, and 13.85 cm/s, respectively, needed PMV more frequently. Conclusions Early echocardiographic hemodynamic assessment of septic shock patients in MV relates to the need for PMV during hospitalization, demonstrating prognostic value. Patients with a hyperdinamyic profile, with increased CO, CI and s' needed PMV more frequently. However, these echocardiographic parameters should not be used isolated to predict PMV These findings may open perspectives for carrying out studies with a greater number of patients Mestrado Clínica Médica Mestre em Ciências