Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Florianópolis, 2018. Os desastres naturais na região Sul do Brasil, especificamente no Vale do Itajaí/ SC, são recorrentes e, em sua grande maioria, ocorrem devido às enchentes e atingem crianças e adultos. No caso das crianças, a experiência de ser exposta ao desastre natural pode culminar em uma situação de vulnerabilidade ou ainda deixar marcas na vida adulta. Sendo assim, por meio da presente tese, pretendeu-se compreender as repercussões psicológicas em crianças atingidas por desastre natural. Para responder ao supracitado objetivo a pesquisa teve caráter exploratório, de abordagem qualitativa, foi realizada com participantes escolhidos intencionalmente, isto é, crianças e familiares que passaram pela enchente de 2011 e embasou-se no referencial psicanalítico. Ao total, 44 pessoas fizeram parte dessa investigação, dentre as quais 22 eram crianças e 22 seus respectivos familiares. Para a coleta de dados foi utilizada uma entrevista semiestruturada com o familiar, outra com a criança e, em seguida, a aplicação da técnica desenho-estória com tema. Nessa, solicitou-se que a criança realizasse cinco desenhos com temas específicos: livre, como se sentiu com a enchente, como se sentiu durante a enchente, como se sentiu após a enchente e, por último, o que ou quem a auxiliou no enfrentamento das experiências ligadas ao evento de 2011. Todos os áudios foram gravados, transcritos e sistematizados com o auxílio do Atlas/Ti 7.0. Em seguida, para a análise das entrevistas e da história foi utilizada a análise de conteúdo categorial, proposta por Bardin. Ao compilar os dados obtiveram-se as seguintes categorias de análise: 1. A enchente, 2. A enchente e seus impactos, 3. Fatores de risco, 4. Fatores de proteção e 5. Redes de apoio. Com o primeiro elemento de análise, constatou-se que a enchente de 2008 ficou marcada pelas Lembranças da destruição e o Inesperado em 2008. Com a enchente de 2011, reforçou-se a Preparação da comunidade, as Mudanças na rotina familiar durante e após o evento, as Perdas materiais e a Reconstrução por parte dos atingidos. Como impactos, destacaram-se: a Ambivalência e a Tristeza por parte das crianças; o Medo , a Alegria , a Hipervigilância e o Esquecimento por parte dos familiares e das crianças frente ao evento de 2011 e a Ansiedade e os Pesadelos por parte dos adultos. A Vulnerabilidade social , os Vínculos familiares fragilizados e o Silenciamento sobre a enchente foram os fatores de risco predominantes. Já os fatores de proteção apontados foram: a Espiritualidade , o Acolhimento na escola , o Fortalecimento dos vínculos , o Brincar , a Solidariedade , isto é, a importância daquele para a criança e a solidariedade entre vizinhos. O Desempenho escolar e os Cuidados maternos também foram apontados como fatores protetivos. E, por fim, para caracterizar as redes de apoio os Familiares foram assim reconhecidos por meio das palavras de conforto e na preparação das refeições. Portanto, reitera-se o olhar da Psicologia sobre o fenômeno da enchente, uma vez que no Plano Municipal de Contingência deveria ser abordado também acerca da saúde mental ao serem enfatizados os cuidados com as crianças durante e após o período das cheias. Destaca-se a importância de trabalhar a prevenção junto às crianças com a finalidade de que as perdas não sejam reativadas e, mais, que as marcas do evento sejam evitadas. Abstract : The "natural disasters" in the southern region of Brazil, specifically in Vale do Itajaí / SC, are recurrent and mostly occur due to floods, affecting children and adults. With regard to children, they are in a stage of life characterized as vulnerable in which, when associated with natural disasters, can have repercussions on the development of the child or even leave marks in adult life. Therefore, the aim of this thesis was to understand the psychological repercussions in children affected by natural disaster. In order to respond to the aforementioned, the research had an exploratory, qualitative approach and was performed with participants chosen intentionally. In total, 44 people were part of the research, of which 22 were children and 22 were their respective relatives. For data collection, a semi-structured interview was used with the relative, another with the child, and then it was applied the drawing and story with theme procedure. The latter consist in asking the child to make five drawings with specific themes: free drawing, how he/she felt with the flood, how he/she felt during the flood, how he/she felt after the flood, and lastly, what or who assisted him/her to cope with the experiences related to the 2011 event. All the audios were recorded, transcribed and systematized with the assistance of the Atlas/Ti 7.0.Then, for analysis of interviews and stories, a categorical content analysis was used, proposed by Bardin. When compiling the data, the following categories of analysis were obtained:1. The flood, 2. The flood and its impacts, 3. Risk factors, 4. Protection factors and 5. Social support networks. On the first element of analysis, it was verified that the 2008 flood was marked by the Remembrances of the destruction and The Unexpected in 2008. About the 2011 flood, "Preparation" of the community, "Changes in the family routine" during and after the event, "Material losses" and "Reconstruction" were reinforced by those affected. As impacts, stood out: "ambivalence" and "Sadness" by children; "Fear", "Joy", "Hypervigilance" and "Oblivion" by family members and children whom faced the 2011 event and "Anxiety" and "Nightmares" by adults. "Social Vulnerability", "Fragile Family Bonds" and "Flood Silencing" were the predominant risk factors. On the other hand, the protection factors pointed out were: "Spirituality", "Welcoming in school", "Strengthening of bonds", "Playing", "Solidarity", that is, the importance of playing for the child and solidarity between neighbors."School performance" and "Maternal care" were also identified as protective factors. And, finally, to characterize the social support networks, "Relatives" were thus recognized through their words of comfort and in the preparation of meals. Therefore, the Psychology's perspective on the flood phenomenon is reiterated, since in the Municipal Contingency Plan it should also approached about mental health when it emphasizes child care during and after the flood period. It highlights the importance of prevention work with the children in order that losses are not reactivated and more, so that the marks of the event are prevented.