RESUMO. No presente artigo analisamos o material clínico da autista Donna Williams com objetivo de pesquisar o trabalho de transformação do sensorial-perceptual por intermédio da apresentação perceptiva. Dialogamos com as contribuições dos psicanalistas Cesar e Sara Botella e com as contribuições do psicanalista Roussillon, acerca da importância da reflexibilidade para a percepção e para o reconhecimento enquanto apoio para o processo de simbolização dos primeiros traços perceptivos que precisam ser investidos e associados entre si. No decorrer do texto, tecemos a hipótese de que ao inventar modalidades de espelhamento compensatório, Donna pôde reapresentar traços perceptuais ainda não representados, cuja apresentação perceptiva é preliminar à própria capacidade destes serem representados. Nesse âmbito nos apoiamos nos estudos da psicanalista Laznik acerca da premência da elisão na clínica com os autistas para pensar a existência de traços mnêmicos no autismo que existem, mas não são investidos. Por ficarem completamente sem investimento, não se instalam trilhamentos e ligações, impedindo o surgimento de representações e a complexificação do psiquismo oriundo da organização de representações. Em contraponto, abarcamos um trabalho psíquico de simbolização do registro sensorial por meio da projeção destes traços e, nessa linha de argumentação, demonstraremos como a transferência desses traços, por meio da figuração, favoreceu uma especularidade através desses anteparos que propiciaram a função compensatória de espelhamento. RESUMEN. En el presente artículo se ha analizado el historial clínico de la autista Donna Williams con objeto de investigar el trabajo de transformación de lo sensorial-perceptual por intermedio de la presentación perceptiva. Dialogamos con los aportes de los psicoanalistas Cesar y Sara Botella, y del psicoanalista Roussillon acerca de la importancia de la reflexión para la percepción y el reconocimiento en tanto apoyos en el proceso de simbolización de los primeros rasgos perceptuales que precisan ser investidos y asociados entre sí. A lo largo del texto, presentamos la hipótesis de que, al inventarse modalidades de espejo como compensación, Donna Williams pudo volver a presentar rasgos perceptuales todavía no representados. Tal presentación perceptiva es, a su vez, preliminar a la propia capacidad de que dichos rasgos sean representados. En este sentido, nos basamos en los estudios de la psicoanalista Laznik sobre la urgencia de la elisión en la clínica con los autistas, a fin de pensar la existencia de rasgos mnémicos en el autismo, presentes, pero que no son investidos. Al estar totalmente ausente la investidura, dejan de instalarse aperturas de paso y ligazones, impidiéndose así el surgimiento de representaciones y la complexión del psiquismo oriundo de la organización de representaciones. En contraposición, abordamos un trabajo psíquico de simbolización del registro sensorial por medio de la proyección de estos rasgos y, siguiendo esa línea argumentativa, buscaremos demostrar cómo la transferencia de ellos, a través de la figuración, favoreció una especularidad mediante tales mecanismos que propiciaron la función compensatoria de espejo. ABSTRACT. This paper is based on the clinical material of the autistic Donna Williams in order to investigate the work of transformation of the sensorial-perceptual through perceptual presentation. We discuss the contributions of the psychoanalysts Cesar and Sara Botella and the contributions of the psychoanalyst Roussillon on the importance of reflexivity for perception and recognition as supports for the process of symbolization of the first perceptive traits that need to be invested and associated with each other. Throughout the text, we hypothesized that by inventing compensatory mirroring modalities, Donna was able to re-present perceptual features not yet represented, whose perceptual presentation is preliminary to their own ability to be represented. In this context we based ourselves in the studies of the psychoanalyst Laznik about the urgency of the elision in the clinic with the autists to think about the existence of mnemic traits in autism that exist, but are not invested. Because they are completely without investment, they do not install paths and connections, blocking the appearance of representations and the complexification of the psyche based on the organization of representations. In contrast, we study a psychic work of symbolization of the sensorial through the projection of these traits and, in this line of argument, we will demonstrate how the transfer of these traits, by means of the figuration, favored a specularity through these mirrors that provided a compensatory function of mirroring.