Tese de Doutoramento em Ciências da Educação A mudança na conceção de escola, essencialmente no que concerne às suas dimensões aprendente e colaborativa, implica um novo conceito de desenvolvimento profissional. As modernas conceções de desenvolvimento profissional defendem a necessidade deste ser em contexto, colaborativo e entre pares, no seio de Comunidades de Aprendizagem Profissional. Estas comunidades, designadas por Wenger (2001 e 2006) como Comunidades de Prática, possibilitam o desenvolvimento profissional através de interação sistemática, baseada na partilha da mesma paixão ou preocupação relativamente a algo que os profissionais fazem e pretendem aprender a fazer melhor. Nas Comunidades de Aprendizagem Profissional os professores, através da partilha reflexiva e da liderança partilhada, colaboram na análise de problemas educativos, que assumem como de todos e reúnem esforços para os solucionar. Desprivatizam a sua prática atuando de forma mais dinâmica, criativa, reflexiva e investigativa, com o objetivo de potenciarem o sucesso dos alunos e melhorarem a sua satisfação profissional (Hembree, 2010; Krischesky, 2013; Little & Horn, 2007). Tomando em consideração as orientações internacionais (NCLE, 2013; OCDE, 2012) e a legislação portuguesa (Despacho n.º 9590/99, de 14 de maio; Decreto-Lei n.º15/2007, de 19 de janeiro; Decreto-Lei n.º41/2012, de 21 de fevereiro; Decreto-Lei n.º 22/2014, de 11 de fevereiro) sobre o desenvolvimento profissional, realizou-se um estudo exploratório de caso que teve como objetivo principal: - Inferir, a partir do ponto de vista dos professores, de que forma a pertença a uma Comunidade de Aprendizagem Profissional pode contribuir para o seu desenvolvimento e satisfação profissionais e para as aprendizagens dos alunos. Foram estudadas duas Comunidades de Aprendizagem Profissional, uma delas constituída por 14 elementos e a outra por 15 elementos. Estas comunidades pertencem a dois distritos distintos e ambas, na altura da realização do estudo, tinham 3 anos de existência. Os dados foram recolhidos através de entrevistas semiestruturadas realizadas a quatro elementos de cada uma das comunidades, da observação não participante de três reuniões de cada uma das comunidades, da análise de documentos de trabalho das mesmas, como Diários de Bordo e Planificações das atividades realizadas e através das notas descritivas realizadas pela investigadora durante a observação das reuniões. O tratamento dos dados recolhidos com os diferentes instrumentos foi feito com recurso à abordagem qualitativa através da análise de conteúdo ao discurso utilizado pelos professores nas entrevistas e nas reuniões, dos documentos produzidos em ambas as comunidades e das notas descritivas que serviram para complementar e clarificar alguns aspetos do discurso dos professores. Ainda no que diz respeito às entrevistas, foi quantificado o número de professores que salientaram a mesma subcategoria de discurso. O mesmo procedimento foi efetuado no que se refere ao cálculo do número de ocorrências da partilha de um mesmo assunto nas reuniões das comunidades. Quantificou-se também as palavras-chave no discurso dos professores nas entrevistas e nas reuniões, selecionadas com base nos contributos que a literatura especializada destaca sobre as Comunidades de Aprendizagem Profissional, com recurso ao software de análise qualitativo NVivo 8. Os resultados obtidos permitem concluir que o trabalho colaborativo que os professores participantes do estudo realizam nas Comunidades de Aprendizagem Profissional contribui favoravelmente para o seu desenvolvimento profissional, para a sua satisfação pessoal e profissional e que, na perspetiva destes, teve reflexos positivos nas aprendizagens dos alunos. Na opinião dos professores, de ambas as comunidades estudadas, para isso contribui a responsabilidade individual e coletiva assumida pelos diferentes elementos e a partilha reflexiva e colaborativa que lhes permitiu passar do trabalho individual ao coletivo e, através da desprivatização da sua prática, enriquecerem-se profissionalmente de forma permanente pela partilha de conhecimentos, de experiências e pela entreajuda. A partilha de conhecimentos e de experiências que possibilita a melhoria da prática pedagógica, assegurando que os alunos atinjam bons resultados a nível socioafetivo e a nível cognitivo, é a vantagem que os professores das duas comunidades mais apontam ao facto de pertencerem a uma comunidade de aprendizagem. O único constrangimento referido pelos professores no que respeita à sua participação nas mesmas é a falta de tempo devido à sobrecarga de trabalho a que atualmente estão sujeitos nas escolas. Para a resolução de dificuldades e/ou conflitos que podem surgir no âmbito da colaboração nas Comunidades de Aprendizagem Profissional estudadas, nomeadamente o que se prende com a falta de tempo apontada para a realização do trabalho, os professores contam com o empenhamento da coordenadora da comunidade em conseguir alternativas para reunirem e a boa vontade e abertura de todos para que isso seja possível, apesar da sobrecarga de trabalho que consideram ter atualmente nas escolas. A colaboração na resolução de problemas e o incentivo à crítica construtiva, com vista a melhoria da prática pedagógica, são também estratégias que os professores utilizam e que permitem ultrapassar os constrangimentos encontrados. Para além destas estratégias para ultrapassar os constrangimentos que identificam, os professores afirmaram utilizar práticas colaborativas nas Comunidades de Aprendizagem Profissional, salientando o incentivo à colaboração a nível da escola, a experimentação conjunta de métodos a utilizar posteriormente com os alunos, a partilha de experiências e a produção colaborativa de recursos. No que respeita aos motivos e/ou expetativas que conduziram os professores a integrar uma Comunidade de Aprendizagem Profissional, os resultados obtidos revelam que a curiosidade, a melhoria da prática pedagógica e a possibilidade de aprender entre pares são aspetos de suma importância para eles. Os resultados mostram que os professores atribuem muita importância à colaboração que se estabelece na Comunidade de Aprendizagem Profissional dada a aprendizagem profissional pela partilha que possibilita e consideram essa aprendizagem mais eficaz do que aquela que se realiza em outras reuniões, designadamente as de grupo disciplinar ou departamento. The changes in the conception of the school regarding its dimensions of a learning and collaborative process imply a new concept of professional development. Modern professional development conceptions defend the necessity of this being held in a collaborative and peer context and within Professional Learning Communities. These communities, designated by Wenger (2001 and 2006) as Communities of Practice, enable professional development through systematic interaction, based on the sharing of the same passion or concern about something that the professionals are doing and want to learn to do better. In Professional Learning Communities teachers, through reflective sharing and shared leadership, collaborate on analysis of educational problems, which are assumed to be everybody’s concern and all together make effort to solve them. They desprivatizate their practice, working with a more dynamic, creative, reflective and investigative attitude, in order to potentiate the success of students and improve their job satisfaction (Hembree, 2010; Krischesky, 2013; Little & Horn, 2007). Taking into account international guidelines (NCLE, 2013; OECD, 2012) and the Portuguese legislation (Order No. 9590/99 of 14 May; Decree-Law No. 15/2007 of January 19; Decree-Law No. 41/2012 of February 21; Decree-Law No. 22/2014 of 11 February) on professional development, an exploratory case study was accomplished that aimed to: - Infer from the teachers' point of view, how the membership of a Professional Learning Community can contribute to their professional development and satisfaction and student learning. Two Professional Learning Communities, one of which consists of 14 elements and the other of 15 elements were studied. These communities belong to two different districts and both, at the time of the study, had three years of existence. The data were collected through semi-structured interviews to four elements of each of the communities, non-participant observation of three meetings of each of the communities, the analysis of working documents, such as logbooks and design plans of the activities and through descriptive notes held by the researcher during the observation of meetings. The processing of the data collected with the different instruments was made using a qualitative approach through content analysis to the speech used by teachers in interviews and meetings, of the documents produced in both communities and descriptive notes, which served to supplement and clarify certain aspects of the speech of the teachers. As far as the interviews are concerned, the number of teachers who stressed the same subcategory of speech was quantified. The same procedure was carried out regarding the calculation of the number of instances sharing the same subject at the meetings of the communities. The keywords in the discourse of the teachers in the interviews and meetings are also quantified, and were selected based on the contributions that the specialized literature highlights on Professional Learning Communities, by using the qualitative analysis software NVivo 8. The results showed that the collaborative work that teachers who participated in this study perform in Professional Learning Communities contributes positively to their professional development, for their personal and professional satisfaction and that, from the perspective of these had a positive impact on student learning. In the opinion of teachers from both communities studied, for that contributes individual and collective responsibility assumed by the different elements and the reflective and collaborative sharing that allowed them to move from individual work to the collective and through the desprivatization of practice, enrich themselves professionally and permanently by sharing knowledge, experience and through assistance. The sharing of knowledge and experience that enables the improvement of pedagogical practice, ensuring that students achieve good results in the socio-emotional level and the cognitive level, is the most important advantage that the teachers of the two communities most point out in belonging to a learning community. The only constraint reported by teachers with regard to their involvement in this is the lack of time due to work overload to which they are currently subject in schools. For the resolution of difficulties and/or conflicts that may arise in the collaboration in the studied Professional Learning Communities, and in particular the ones related to the lack of time appointed for performing the tasks, teachers can rely on the commitment of the community coordinator in finding possible alternatives to meet and the willingness of all to make this possible, despite the workload they consider to have currently in schools. The collaboration in problem solving and encouraging constructive criticism in order to improve teaching practice are also strategies that teachers use and which can make possible to overcome the constraints. In addition to these strategies to overcome the constraints that the sometimes identify, teachers reported the use of collaborative practices in Professional Learning Communities, emphasizing the promotion of collaboration within the school, joint testing methods to use later with students, sharing experiences and collaborative production of resources. With regard to the reasons and/or expectations that led teachers to integrate a Professional Learning Community, the results reveal that teachers are compelled by curiosity, improving teaching practice and the opportunity to learn from peers are major important aspects to them. The results show that teachers place considerable emphasis on the collaboration that is established in the Professional Learning Community and give particular importance to the professional learning by sharing and consider that more effective learning than what is achieved in other types of meetings, including those of disciplinary group or department.