Orientadora: Profa. Dra. Dulce Regina Baggio Osinski Tese (doutorado) - Universidade Federal do Paraná, Setor de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação. Defesa : Curitiba, 29/10/2021 Inclui referências: p. 331-390 Resumo: Esta pesquisa analisa o percurso histórico do conceito de "livre expressão infantil" no Brasil, buscando problematizar suas marcas no pensamento educacional entre as décadas de 1920 e 1970. O recorte temporal abrange desde o período das primeiras experiências de valorização do desenho espontâneo infantil por artistas ligados ao movimento modernista até o contexto de obrigatoriedade do ensino da arte nas escolas pela promulgação da Lei nº 5.692 de 1971. Através de um olhar ao mesmo tempo semasiológico e onomasiológico, como objetivos específicos pretendeu-se: perceber a presença do sentido de liberdade de expressão infantil antes mesmo de sua enunciação no Brasil, além de observar possíveis designações correlatas e antitéticas, verificando quando o conceito passou a ser considerado relevante para o debate educacional em arte no país e se os significados a ele atribuídos foram objeto de disputas e com quais propósitos. Parte-se da hipótese de que, no Brasil, os sentidos relacionados à liberdade e à espontaneidade infantil já eram esboçados no início do século XX por artistas modernistas e por defensores do Movimento pela Escola Nova. Foram, entretanto, compostos de forma mais clara e objetiva como um conceito no contexto da Segunda Guerra, a partir da exposição de escolares ingleses, organizada por Herbert Read (1893-1968), passando a constituir formulação marcante nos discursos relacionados à educação em arte no país entre as décadas de 1940 e 1970 com consequentes desdobramentos nas práticas pedagógicas implementadas no período. O problema de pesquisa incide em questionar de que maneira ocorria a circulação de sentidos relativos à expressão da criança pelo contato com a arte e quando a formulação "livre expressão infantil" passou a ser relevante para o debate educacional no Brasil. Enquanto aporte teórico-metodológico, privilegiou-se o diálogo com a história dos conceitos em Reinhart Koselleck (2004, 2006a, 2006b), mobilizando categorias interpretativas como "camadas semânticas", "espaço de experiência" e "horizonte de expectativa". Como fontes, foram interrogadas publicações, periódicos e documentos iconográficos. Na análise, foi possível identificar que o conceito encontrou suas bases na noção de "arte infantil", perspectiva internacionalmente mirada por artistas, psicólogos e educadores preocupados com os objetivos do desenho para a educação das crianças. Portanto, a tese defendida é de que, na transição para o século XX, no bojo dos debates entre a psicologia, a estética modernista e movimentos renovadores da educação, esboçavam-se sentidos relativos ao conceito de "livre expressão infantil" como método instrumental para a catarse infantil, como inspiração estética e como prática propedêutica do ensino de desenho. Já em meados do século, o conceito passou a ser orientador de políticas educacionais cujos pressupostos da não interferência passavam a ser hegemônicos nos discursos político e educacional, vindo a rarear com a afirmação do campo docente em arte e dos conteúdos artísticos na educação. O estudo conclui ainda que o conceito foi apropriado como símbolo de modernidade educativa por meio das categorias temporais "passado" e "futuro", ora servindo-se da oposição entre elas, como fenômeno de superação do passado, ora apoiando-se na tradição para nomear, no tempo presente, as expectativas para o futuro. Abstract: This research investigates the historical trajectory of the concept of children's "free expression" in Brazil, aiming to problematize its influences in educational thought between the 1920s and 1970s. This time period ranges from the very first experiences in which children's spontaneous drawing was valued by artists linked to the modernist movement until the enactment of Law N. 5,692/1971, which turned art teaching in schools into a mandatory subject. Taking both a semasiological and an onomasiological approach, the study intended: 1) to verify the presence of the meaning regarding children's "free expression" even before its enunciation in Brazil, and 2) to observe correlated and antithetical conceptions, exploring when the concept came to be considered relevant to the discussion of art education in the country and whether the meanings attributed to it were object of disputes, and if so, with which purposes. It is our hypothesis that, in Brazil, the meanings related to children's freedom and spontaneity were already drawn at the beginning of the 20th century by modernist artists and by defenders of the Escola Nova Movement. Such meanings, however, were more clearly and objectively constructed as a concept after an exhibition of drawings by English schoolchildren made during World War II, organized by Herbert Read (1893-1968). This exhibition came to be an outstanding formulation in discourses related to art education in Brazil between the 1940s and 1970s with effects on the pedagogical practices implemented by then. The research problem focuses on questioning how the circulation of meanings related to children's expression through their contact with art used to happen, as well as when the formulation "children's free expression" became relevant to the educational debate in Brazil. As for the theoretical-methodological framework, this research drew from Conceptual history by Reinhart Koselleck (2004, 2006a, 2006b), using his interpretative categories such as "semantic layers", "space of experience", and "horizon of expectation". As sources, it considered publications, journals, and iconographic documents. The analysis suggested that the bases of the concept were found in the notion of "children's art", a perspective that had been internationally considered by those who were concerned with the objectives of drawing for children education, i.e. artists, psychologists, and educators. Therefore, we argue that meanings regarding the concept of children's free expression arose amidst the debates between psychology, modernist aesthetics, and renovating movements of education in the transition to the 20th century as an instrumental method for catharsis in children, as aesthetic inspiration, and as a propaedeutic practice in the teaching of drawing. In the middle of the century, the concept began to guide educational policies whose assumptions of noninterference became hegemonic in political and educational discourses. Such a scenario was only altered with the consolidation of the art teaching field and the artistic content in education. Finally, the research demonstrates that the concept was meant a symbol of educational modernity through the temporal categories "past" and "future", sometimes using the opposition between them as a phenomenon of overcoming the past, and sometimes relying on tradition to name, in the present time, expectations for the future. Résumé: Cette recherche analyse le parcours historique du concept de " libre expression " des enfants au Brésil, en cherchant à problématiser ses marques dans la pensée éducative entre les années 1920 et 1970. L'horizon temporel s'étend de la période des premières expériences d'appréciation du dessin spontané des enfants par des artistes liés au mouvement moderniste, au contexte de l'enseignement artistique, obligatoire dans les écoles par la promulgation de la loi 5.692 de 1971. À travers un regard à la fois sémasiologique et onomasiologique, les objectifs spécifiques sont les suivants : apercevoir la présence du sens de la liberté d'expression des enfants avant même son énonciation au Brésil, en plus d'observer les possibles désignations corrélées et antithétiques, en vérifiant quand le concept est devenu pertinent pour le débat éducatif en art dans le pays et si les significations qui lui sont attribuées ont été objet de contestation et à quelles fins. On suppose qu'au Brésil, les sens liés à la liberté et à la spontanéité de l'enfant étaient déjà esquissées au début du XXème siècle par les artistes modernistes et les adhérents du Mouvement pour l'Éducation Nouvelle. Ils ont toutefois été composés de manière plus claire et objective en tant que concept dans le contexte de la Seconde Guerre Mondiale, à partir de l'exposition des lycéens anglais organisée par Herbert Read (1893- 1968), devenant une formulation importante dans les discours liés à l'éducation artistique dans le pays entre les années 1940 et 1970, avec des conséquents développements dans les pratiques pédagogiques mises en oeuvre à cette époque. La problématique de la recherche se concentre sur questionner de quelle manière se produisait la circulation des sens liées à l'expression de l'enfant par le contact avec l'art et quand la formulation " libre expression des enfants " est devenue pertinente dans le débat éducatif au Brésil. Comme contribution théorique et méthodologique, on a mis accent sur le dialogue avec l'histoire des concepts de Reinhart Koselleck (2004, 2006a, 2006b), en mobilisant des catégories interprétatives telles que les " couches sémantiques ", " l'espace d'expérience " et " l'horizon d'attente ". Comme sources, on a interrogé des publications, des périodiques scientifiques et des documents iconographiques. Dans l'analyse, il a été possible d'identifier que le concept a trouvé ses bases dans la notion de " l'art infantile ", une perspective internationalement considérée par les artistes, les psychologues et les éducateurs concernés par les objectifs du dessin pour l'éducation des enfants. Par conséquent, la thèse défendue est que, dans la transition vers le XXème siècle, au milieu des débats entre la psychologie, l'esthétique moderniste et les mouvements rénovateurs de l'éducation, on esquissait des significations concernant le concept de libre expression pour les enfants, comme une méthode instrumentale pour la catharsis de l'enfant, comme inspiration esthétique et comme pratique propédeutique pour l'enseignement du dessin. Au milieu du siècle, le concept est devenu le principe directeur des politiques éducatives dont les présupposées de non-interférence sont devenues hégémoniques dans les discours politique et éducatif, en diminuant avec l'affirmation du domaine d'enseignement de l'art et des contenus artistiques dans l'éducation. Cette étude conclut encore que le concept a signifié un symbole de la modernité éducative à travers les catégories temporelles "passé" et "futur", tantôt en utilisant l'opposition entre elles, comme un phénomène de supération du passé, tantôt en s'appuyant sur la tradition pour nommer, dans le temps présent, les attentes pour l'avenir. Resumen: Esta investigación analiza la trayectoria histórica del concepto de "libre expresión infantil" en Brasil, buscando problematizar sus marcas en el pensamiento educativo entre las décadas de 1920 y 1970. El recorte temporal abarca el período que va desde las primeras experiencias de valoración del dibujo espontáneo infantil, hecha por los artistas vinculados al movimiento modernista, hasta la promulgación de la Ley 5692, de enseñanza obligatoria del arte en las escuelas, en 1971. Mediante una mirada a la vez semasiológica y onomasiológica, se pretende, como objetivos específicos: percibir la presencia del sentido de libertad de expresión infantil aún antes de su enunciación en Brasil, observar posibles denominaciones correlacionadas o antitéticas, verificar cuándo el concepto comenzó a considerarse relevante para el debate educativo en el arte en el país, si los significados que se le atribuyeron fueron objeto de controversias, y con qué fines. Se parte de la hipótesis de que, en Brasil, los significados relacionados con la libertad y la espontaneidad en los niños ya fueron esbozados a principios del siglo XX por artistas modernistas y defensores de la Escuela Nueva. Sin embargo, fueron compuestos más claras y objetivamente como concepto en el contexto de la Segunda Guerra Mundial, a partir de la exposición de escolares ingleses, organizada por Herbert Read (1893-1968), convirtiéndose en la formulación más influyente en los discursos relacionados con la educación artística en el país entre las décadas de 1940 y 1970, con consecuencias en las prácticas pedagógicas del período. El problema de investigación se centra en cuestionar cómo se produjo la circulación de significados relacionados con la expresión del niño a través del contacto con el arte y cuándo la formulación "libertad de expresión infantil" cobró relevancia para el debate educativo en Brasil. Como aporte teórico-metodológico, se privilegió el diálogo con la historia de los conceptos en Reinhart Koselleck (2004, 2006a, 2006b), movilizando categorías interpretativas como "capas semánticas", "espacio de experiencia" y "horizonte de expectativas". Como fuentes, se sso consultaron publicaciones, periódicos y documentos iconográficos. En el análisis se pudo identificar que el concepto encuentra sus bases en la noción de "arte infantil", una perspectiva vista internacionalmente por artistas, psicólogos y educadores preocupados por los objetivos del dibujo para la educación de los niños. La tesis que se defiende es que, en la transición al siglo XX, en medio de debates entre psicología, estética modernista y movimientos renovadores en la educación, se perfilaron significados en torno al concepto de "libre expresión infantil", como método instrumental para la catarsis infantil, como inspiración estética y como práctica propedéutica en la enseñanza del dibujo. A mediados de siglo, el concepto comenzó a orientar las políticas educativas cuyos supuestos de no injerencia se volvieron hegemónicos en los discursos políticos y educativos, volviéndose más raros con la afirmación del campo docente en el arte y los contenidos artísticos en la educación. El concepto fue apropriado como un símbolo de la modernidad educativa a través de las categorías temporales "pasado" y "futuro", a veces utilizando la oposición entre ellas, como un fenómeno de superación del pasado, a veces apoyándose en la tradición para nombrar, en tiempo presente, las expectativas sobre el futuro. more...