Resumo Em alinhamento com os estudos organizacionais históricos (Decker, Hassard, & Rowlinson, 2021; Maclean, Harvey, & Clegg, 2016) e buscando uma reorientação geográfica mais ao sul global, no foco nas pesquisas históricas e em estudos organizacionais e de gestão (A. S. M. Costa & Wanderley, 2021; Wanderley & A. Barros, 2019), este artigo tem como objetivo compreender o posicionamento ideológico e a atuação político-discursiva do jornal Folha de S. Paulo no período inicial da ditadura civil-militar brasileira (1964-1985). Para tanto, construiu-se um referencial teórico sustentado por duas correntes historiográficas (Empresariado e Ditadura; História e Imprensa) e pelos conceitos de discurso, ideologia e poder articulados pela análise crítica de discurso. Em termos de fontes documentais, foram coletados 112 editoriais diários, publicados de janeiro a junho de 1964 e disponíveis no arquivo histórico da empresa pesquisada. Para a realização da análise dos dados coletados, foram utilizados o aporte teórico-metodológico do modelo tridimensional de Norman Fairclough (2016) e a sua proposta de utilização do modelo de análise de estratégias de construções ideológicas de J. B. Thompson (2011). Como resultado, foi possível identificar três momentos na trajetória de construção discursiva do jornal Folha de S. Paulo em relação ao golpe militar de 1964 no Brasil: 1) significativa contribuição para a desestabilização do governo democrático do presidente João Goulart; 2) forte alinhamento com o golpe militar e seus desdobramentos imediatos; e 3) apoio ao posterior governo Castelo Branco, mas já com a enunciação de algumas ressalvas. Por fim, é possível afirmar que essa organização jornalística atuou fortemente não apenas como instrumento de informação, mas, principalmente, como produtora e reprodutora de discursos específicos em prol de determinado grupo social e de seus atos ditatoriais subsequentes. Diante desse quadro, tornam-se cada vez mais necessárias pesquisas históricas sobre as relações políticas e socioeconômicas entre empresas, governo e sociedade ao longo do tempo e seus desdobramentos na atualidade. Resumen En consonancia con los estudios organizativos históricos (Decker, Hassard, & Rowlinson, 2021; Maclean, Harvey, & Clegg, 2016) y buscando una reorientación geográfica más hacia el Sur global, en el enfoque de la investigación histórica y en los estudios organizativos y de gestión (A. S. M. Costa & Wanderley, 2021; Wanderley & A. Barros, 2019), el artículo pretende comprender el posicionamiento ideológico y la actuación político-discursiva del periódico Folha de S. Paulo en el período inicial de la dictadura cívico-militar brasileña (1964-1985). Para ello, se construyó un marco teórico apoyado en dos corrientes historiográficas (Empresariado y Dictadura e Historia y Prensa) y en los conceptos de discurso, ideología y poder articulados por el análisis crítico del discurso. En cuanto a las fuentes documentales, se recogieron 112 editoriales diarios, publicados de enero a junio de 1964 y disponibles en el archivo histórico de la empresa investigada. Para llevar a cabo el análisis de los datos recogidos, se utilizó el aporte teórico y metodológico del modelo tridimensional de Norman Fairclough (2016) y su propuesta de uso del modelo de análisis de estrategias de construcciones ideológicas de J.B. Thompson (2011). Como resultado, fue posible identificar tres momentos en la trayectoria discursiva del periódico Folha de S. Paulo en relación con el golpe militar de 1964 en Brasil: (1) contribución significativa a la desestabilización del gobierno democrático del presidente João Goulart, (2) fuerte alineamiento con el golpe militar y sus desdoblamientos inmediatos; y (3) apoyo al posterior gobierno de Castelo Branco, pero ya con la enunciación de algunas salvedades. Finalmente, es posible afirmar que esta organización periodística actuó fuertemente no sólo como instrumento de información, sino principalmente como productora y reproductora de discursos específicos a favor de un determinado grupo social y sus subsiguientes actos dictatoriales. En este contexto, la investigación histórica sobre las relaciones políticas y socioeconómicas entre las empresas, el gobierno y la sociedad a lo largo del tiempo y su desarrollo en la actualidad es cada vez más necesaria. Abstract In alignment with historical organizational studies (Decker, Hassard, & Rowlinson, 2021; Maclean, Harvey, & Clegg, 2016) and seeking a geographical (re)orientation, more to the Global South, to historical research in organizational and management studies (A. S. M. Costa & Wanderley, 2021; Wanderley & A. Barros, 2019), the article aims to understand the ideological positioning and the political-discursive performance of the newspaper Folha de S. Paulo in the early period of the Brazilian civil-military dictatorship (1964-1985). A theoretical framework was built, supported by two historiographical currents (Business and Dictatorship; History and Press) and by the concepts of discourse, ideology, and power articulated by critical discourse analysis. In terms of documental sources, 112 daily editorials were collected, published from January to June 1964, and available in the historical archive of the researched company. The theoretical and methodological contribution of Norman Fairclough’s (2016) three-dimensional model and its proposed use by J.B. Thompson’s (2011) model of analysis of strategies of ideological constructions were used. As a result, it was possible to identify three different moments in the discursive trajectory of the positioning of the Folha de S. Paulo newspaper concerning the military coup of 1964 in Brazil: (1) significant contribution to the destabilization of the democratic government of President João Goulart, (2) strong alignment with the military coup and its immediate unfoldings; and (3) support for the subsequent Castelo Branco government, but already with the enunciation of some reservations. Finally, it is possible to affirm that this journalistic organization acted strongly not only as an instrument of information but mainly as a producer and reproducer of specific discourses in favor of a particular social group and its subsequent dictatorial acts. Against this background, historical research into the political and socio-economic relations between business, government, and society over time and their unfolding today is becoming increasingly necessary.