A esquistossomose ainda é um importante problema de saúde pública em regiões tropicais e subtropicais. Em áreas endêmicas, o estado crônico da infecção gera impacto na saúde dos indivíduos decorrente da patologia desencadeada. Desde a década de 1980, a OMS elegeu a quimioterapia como o método mais adequado para controlar as morbidades associadas à infecção por espécies de Schistosoma. Assim, o uso extensivo do medicamento requer uma compreensão abrangente do seu impacto no controle das morbidades relacionadas. Diante disto, o estudo teve como objetivo avaliar o impacto do tratamento medicamentoso nas morbidades e manifestações clínicas associados à infecção por espécies de Schistosoma por meio de uma revisão sistemática e metanálise. O projeto de revisão foi registrado na plataforma PROSPERO (CRD42015026080). Os estudos foram identificados por meio de busca sistematizada nas bases de dados PubMed e BVS/BIREME. Estudos que avaliaram a infecção pelo Schistosoma antes e depois da quimioterapia específica para esquistossomose foram incluídos nesta revisão. A seleção foi realizada por dois pesquisadores independentes e abrangeu os seguintes critérios: estudos longitudinais prospectivos, sem restrição de data, publicados em inglês, português, espanhol ou francês, que não foram realizados em hospitais e que não realizaram tratamentos concomitantes dos sujeitos. De cada estudo foram extraídos dados sobre as características do estudo, dos participantes, da intervenção realizada, dos desfechos avaliados e do tempo de seguimento. Os dados foram analisados no software Comprehensive Meta-Analysis®. Foi utilizado o modelo de efeito aleatório para derivar as estimativas metanalíticas. Para as morbidades referidas com desfechos dicotômicos foi calculado o odds ratio agrupado e para os dados contínuos, a medida de efeito foi calculada pela diferença de média padronizada, todos com intervalo de confiança de 95%. Além disso, foi realizada meta-regressão para correlacionar a redução na contagem de ovos e os odds ratio pós-tratamento ou as diferenças de médias padronizadas de cada desfecho. A heterogeneidade foi avaliada pelo teste qui quadradro e pela estatística I2. Para explorar a heterogeneidade e potenciais fatores que poderiam modificar a medida de efeito, foi realizada análises de subgrupos. Foram selecionados 71 estudos em 64 publicações para a metanálise. Os estudos envolveram um total de 24.214 indivíduos para seguimento, a maior parte dos estudos foram com indivíduos em idade escolar (45%), infectados pelo S. haematobium (52%), tratados com praziquantel (81,7%) e realizados na África (83%). No geral, a maior parte das morbidades avaliadas apresentou probabilidade significativa de redução comparado com os níveis pré tratamento: lobo hepático esquerdo aumentado reduziu em 54% (OR 0,46; IC95% 0,32-0,67); lobo hepático direito aumentado em 47% (OR 0,53; IC95% 0,32-0,84); esplenomegalia em 37% (OR 0,63; IC95% 0,47-0,84); fibrose periportal em 52% (OR 0,48; IC95% 0,34-0,68); diarreia em 53% (OR 0,47; IC95% 0,29-0,78); sangue nas fezes em 75% (OR 0,25; IC95% 0,15-0,42); hematúria em 92% (OR 0,08; IC95% 0,05-0,11); proteinúria em 90% (OR 0,10; IC95% 0,05-0,19); lesões na bexiga urinária em 86% (OR 0,14; IC95% 0,09-0,20); lesões no trato urinário superior em 72% (OR 0,28; IC95% 0,16-0,51). Não foi encontrado redução significativa para veia porta dilatada (OR 0,57; IC95% 0,23-1,42) e níveis de hemoglobina (0,60 g/dL; IC95% -0,2-1,42). Na análise de subgrupo os resultados foram influenciados pela idade dos sujeitos, espécie de Schistosoma, local de realização do estudo, tempo de seguimento, prevalência inicial da infecção na população. Além disso, observou-se que maior taxa de redução dos ovos correlacionou-se com maior redução nas probabilidades da maioria das morbidades. Os resultados desta pesquisa ajudam a demonstrar e quantificar a redução das morbidades associadas ao Schistosoma como consequência da intervenção quimioterápica e avaliar as variações observadas. Embora existam desafios para implementar a terapia para a esquistossomose, as reduções na produção de ovos estão significativamente correlacionadas com a diminuição das morbidades e podem ser usadas para projetar a diminuição da carga de doença em estratégias mais agressivas para minimizar a intensidade da infecção. Schistosomiasis is an important public health problem in tropical and subtropical regions. In endemic areas, the chronic state of the infection generates an impact on the health of the individuals due to the disease. Since the 1980s, WHO has chosen chemotherapy as the most appropriate method to control the morbidities associated with infection with Schistosoma species. Thus, extensive use of the drug requires a comprehensive understanding of its impact on the control of related morbidities. The objective of this study was to evaluate the impact of drug treatment on the morbidities and symptoms associated with Schistosoma species infection through a systematic review and meta-analysis. The review project was registered on the PROSPERO (CRD42015026080). Studies were identified through a systematic search using PubMed and BVS/BIREME. Studies that evaluated Schistosoma infection before and after specific chemotherapy for schistosomiasis were included in this review. election was performed by two independent researchers and included the following criteria: prospective longitudinal studies, without date restriction, published in English, Portuguese, Spanish or French, which were not performed in hospitals and did not perform concomitant treatment of the subjects. From each study data were extracted on the characteristics of the study, the participants, the intervention performed, the outcomes evaluated and the follow-up time. The data were analyzed in Comprehensive Meta-Analysis® software. The random effect model was used to derive the meta-analytic estimates. For the morbidities referred dichotomous outcomes, the pooled odds ratio was calculated and for the continuous data, the effect measure was calculated by the standardized mean difference, all with a 95% confidence interval. In addition, meta-regression was performed to correlate the reduction in egg count and post-treatment odds ratios or standardized mean differences of each outcome. The heterogeneity was evaluated by the chi-square test and the I2 statistic. To explore the heterogeneity and potential factors that could modify the measure of effect, subgroup analyzes were performed. We selected 71 studies in 64 publications. The studies involved a total of 24.214 individuals. Most of them have been performed with school-age children (45%), with S. haematobium (52%), treatment with praziquantel (81.7%) and conducted in Africa (83%). Most of the evaluated morbidities presented a reduction compared to pre-treatment levels: left hepatic lobe enlarged reduced by 54% (OR 0.46, CI95% 0.32-0.67); right hepatic lobe enlarged by 47% (OR 0.53, CI95% 0.32-0.84); splenomegaly in 37% (OR 0.63, CI95% 0.47-0.84); periportal fibrosis in 52% (OR 0.48, IC95% 0.34-0.68); diarrhea in 53% (OR 0.47, CI95% 0.29-0.78); blood in the stool by 75% (OR 0.25, CI95% 0.15- 0.42); hematuria in 92% (OR 0.08, CI95% 0.05-0.11); proteinuria by 90% (OR 0.10, CI95% 0.05-0.19); abnormalities in the urinary bladder in 86% (OR 0.14, CI95% 0.09-0.20); lesions in the upper urinary tract in 72% (OR 0.28, CI95% 0.16-0.51). Significant reduction was not found for dilated portal vein (OR 0.57, CI95% 0.23-1.42) and hemoglobin levels (0.60 g / dL; CI95% -0,2/1,42). In the subgroup analysis, the results were influenced by the age of the subjects, Schistosoma species, study site, time of follow-up, and prevalence of infection. In addition, it was observed that higher rate of egg reduction correlated with greater reduction in the probabilities of most morbidities. Although there are challenges to implementing therapy for schistosomiasis, reductions in egg production are significantly correlated with decreased morbidity and can be used to project the reduction of disease burden in more aggressive strategies to minimize the intensity of infection.