Tese de Doutoramento em Ciências Veterinárias O histiocitoma cutâneo canino é uma neoplasia epidermotrópica das células de Langerhans, muito frequente em cães jovens. Os fenómenos de regressão, a que está associada, tornam esta neoplasia um campo de interesse único para os estudos de imunidade celular. Com o objectivo de contribuir para a compreensão do processo de regressão do histiocitoma, foram analisados 93 tumores classificados como histiocitoma cutâneo canino. Foi realizada a caracterização de alguns parâmetros clínicos da série em estudo, como o sexo, a idade e a raça dos animais, assim como o tamanho e localização das lesões. Foram utilizados métodos de coloração e de histoquímica, imunocitoquímica (vimentina, queratina, desmina, proteína S100, caderina E, lisozima, MAC387, VEGF, antigénio Ki-67, MHC classe II, CD79 e BLA), histoquímica molecular (TUNEL), microscopia electrónica de transmissão (MET), imunocitoquímica ultrastrutural (MHC classe II) e citometria de imagem. Os tumores ocorreram principalmente em animais jovens, com predomínio na raça Boxer. As lesões eram únicas, elevadas, muitas vezes em forma de “botão”, com diâmetro geralmente inferior a 2 cm e localizavam-se com maior frequência na cabeça e nos membros. O histiocitoma ocupava a derme até à junção dermo-epidérmica, muitas vezes com invasão de epiderme, que frequentemente se encontrava heperplástica ou ulcerada. Para além das células tumorais, observou-se um infiltrado linfóide, variável em quantidade e distribuição no tumor. Assim, foram identificados quatro padrões histológicos, segundo a quantidade e distribuição do infiltrado linfóide, o que levou à classificação do histiocitoma em quatro grupos histológicos. Os tumores do grupo I apresentavam escasso infiltrado linfóide de, localizado na periferia do tumor. Os tumores do grupo II apresentavam infiltrado linfóide moderado, formando estruturas nodulares na periferia do tumor, no grupo III o infiltrado era abundante e estendia-se ao centro do tumor e, no grupo IV, o infiltrado linfóide ocupava uma área superior às células tumorais. Incluíram-se 15 tumores no grupo I, 15 no grupo II, 42 no grupo III e 21 no grupo IV. O histiocitoma cutâneo canino apresentou um comportamento biológico pouco agressivo, tendo as células um conteúdo diplóide de ADN. As características ultrastruturais das células tumorais foram compatíveis com ontogenia nas células de Langerhans. As células do histtiocitoma apresentaram imunorreactividade para a vimentina, a caderina E, o MHC classe II, o BLA.36 e de forma inconstante para a lisozima e a proteína mielomonocítica L1 (MAC387). Não apresentaram reacção positiva para a desmina, a proteína S100 e o VEGF. No histiocitoma observaram-se linfócitos T em todos os grupos histológicos e linfócitos B principalmente nos grupos II, III e IV. Os macrófagos, identificados pela positividade ao MAC387, eram em maior quantidade nos grupos III e IV. Na análise da imunorreactividade para a caderina, verificou-se uma diminuição da sua expressão da superfície para a base do tumor. A intensidade de marcação para a caderina E apresentou ainda associação estatisticamente significativa com o infiltrado linfóide. No estudo imunocitoquímico do MHC classe II, visualizado por microscopia de luz e por microscopia electrónica de transmissão foram observados dois padrões distintos de imunorreactividade: membranar e citoplasmática, associada a perfis membranares, endossomas e lisossomas. O primeiro ocorria principalmente nos tumores de infiltrado abundante e o segundo nos tumores de escasso infiltrado inflamatório linfóide, quer por linfócitos T quer por linfócitos B. O índice proliferativo do histiocitoma cutâneo canino, determinado pela positividade ao Ki-67 foi em média de 23,6% valor que, em quase todos os casos, foi inferior à percentagem de células em apoptose determinada pelo método de TUNEL (média 39,4%). A Análise das associações entre as variáveis estudadas e o grupo histológico indicaram alguns parâmetros que poderão estar implicados na dinâmica do processo regressivo do histiocitoma cutâneo canino. A regressão nos histiocitomas, traduzida por uma diminuição do tamanho da lesão, esteve relacionada com a ulceração, a necrose, a fraca expressão do factor de crescimento endotelial, o aumento da expressão membranar do MHC classe II, a infiltração de linfócitos T e B, a diminuição da expressão da caderina E e um índice apoptótico superior ao índice de proliferação. A regressão aparece assim como um processo multifactorial, justificada pela interacção entre diversos factores, alguns dos quais estudados por nós e de certo muitos outros ainda por estudar. Canine cutaneous histiocytoma is na epidermotropic tumour of Langerhans cells which is very frequent in young dogs. The regression phenomena to wich i tis associated makes this na attractive system for analysis of cellular immunity. In order to contribute to the understanding of the histiocitoma regression, 93 tumours, classified as canine cutaneous histiocitoma, were analysed. The characterization of some clinical parameters of the studied series, such as sex, age and animal breed, was carried out, as well as the size and location of the lesions.We used stains and histochemical methods, immunocytochemistry (vimentina, keratin, desmin, S100 protein, E-cadherin, lysozyme, MAC387, VEGF, Ki-67 antigen, MHC class II, CD3, CD79 and BLA.36), TUNEL, transmission electron microscopy, immunoelectron microscopy and image cytometry. The tumours occurred mainly in young animals, especially in Boxer breed. The lesions were unique, many times as dome-shaped nodule, with a diameter usually inferior to 2 cm, and were situated with much more frequency in the head and the extremities. The histiocitoma occupied the superficial dermis, often with epidermis invasion, which was, many times hyperplasic or ulcerated. A lymphoid infiltration was observed which was variable in quantity and distribution in the tumours. Thus, four histological patterns, according to the quantity and the distribution of lymphoid infiltration, were identified, leading to the histiocitoma categorization into 4 histological groups. The tumours of group I presented poor lymphoid infiltration outside the tumours. The tumours of group II presented moderate lymphoid infiltration but forming nodular structures outside the tumour. In group III the infiltration was abundant and stretched into the tumours centre and in group IV the lymphoid infiltration occupied an area superior to the tumour cells. Fifteen tumours in group I, fifteen in group II. Forty-two in group II and twenty-one in group IV were included. The canine cutaneous histiocitoma presented a low aggressive biological behaviour and a diploid content of DNA. The ultrastructural characteristics of the tumour cells were compatible with ontogeny in the Langerhans cells. The cells of the histiocitoma expressed vimentina, E-cadherin, MHC class II, BLA.36 and inconsistently lysozyme and MAC387. No positive reaction to desmin, S100 protein and VEGF was presented. In the histiocitoma T lymphocytes were observed in all histological groupsand B lymphocytes principally in groups II, III, and IV. The macrophages identified by the posititivity to MAC 387 were in a larger quantity in groups III and IV. In the analysis of the immunoreactivity to E-cadherin, a decrease of its expression from the surface to the tumour basis was verified. The intensity of the reaction to E-cadherin presented a significative statistical association with the lymphoid infiltration. In the study of the immunocytochemistry of MHC class II antigen, visualized by light microscopy and by electronic microscopy, two principal patterns of MHC class II antigens expression were observed: a focal juxtanuclear cytoplasmatic reaction, associated to endosomal and lysosomal compartments or a rim-like staining in the cell periphery associated to membranes outlines. The first occurred, principally, in tumours of abundant infiltration and the second in tumours of poor lymphoid inflammatory infiltration either by lymphocytes or B lymphocytes. The proliferative index of the canine cutaneous histiocitoma, determined by the positivity to Ki-67 was on average 23,6%, a value that, in almost all the cases, was inferior to the percentage of cells in apoptose determined by the TUNEL method (average 39,4%). The analysis of associations between the studied variables and the histological group shoved some parameters which can be implied in the dynamic of the regressive process of the canine cutaneous histiocitoma. The regression in the histiocitoma, portrayed by a decrease of the lesion size, was related to the ulceration, necrosis, poor expression of the vascular endothelial growth factor, increase of the membranous expression of MHC class II, T lymphocytes and B infiltration, decrease of the E-cadherin expression and the apoptotic index superior to the proliferous index. The regression appears, thus, as a multifactorial process justified by the interaction among different factors that we have analysed and probably by many other not yet studied.