Com a publicação de Il Principe , Maquiavel rompe com o modelo de príncipe moralmente virtuoso – optimus princeps –, consagrado pela tratadística didác - tico-pedagógica do século XVI, na esteira da tradição ético-política dos specula principis , género influenciado pelo pensamento dos clássicos da Antiguidade. A conceção humanista e idealista de soberano dá lugar a um racionalismo amo - ral e agressivo que o florentino consubstancia na apologia da guerra, na instru - mentalização do mal, e na legitimação da violência e do dolo. Esta nova forma de «fazer política» vem definitivamente abalar a velha aliança entre política e moralidade, ao entrar em rutura absoluta com os valores herdados da ética aris - totélica, e com os princípios definidores do estoicismo, entretanto assimilados pelo cristianismo, de que Séneca, filósofo e dramaturgo romano da nossa era, foi um dos representantes máximos. Em Thyestes, impressionante drama sobre o furor regni , o precetor e ministro de n ero reflecte sobre o exercício do poder político, apresentando Atreu como o paradigma da tirania. n a perspetiva senequiana, o soberano ideal – avesso à guerra e à violência, e desligado das paixões mundanas – deve ser o exemplum de virtude moral na procura do bem comum. Baseado nos preceitos da Stoa , o cordubense condena o ethos do rei cruel, amoral e dissimulado, retrato que vai encontrar eco, mais tarde, no desenho do príncipe maquiavelista, e que se opõe ao ideal clássico cristão do Renascimento., When Il Principe was published, Machiavelli broke with the morally virtuous mo - del of prince – optimus princeps –, as established by the 16 th century didactic and pedagogical treaties, in the light of moral and political tradition of specula principis , a literary genre influenced by classical Antiquity authors. The humanist and idealistic depiction of rulers gives way to an amoral and ag - gressive rationalism which the Florentine embodied in the war praising, evil exploitation, and violence and fraud legitimacy. This new approach to politics shakes up the old alliance between politics and morality, by breaking away from the inherited values of Aristotelian ethics, and from the defining principles of Stoicism – in the meantime adopted by Christianity. Seneca, roman philosopher and dramatist of our era, was one of the most re - presentative stoic thinkers. In his play Thyestes – impressive drama about furor regni –, n ero’s tutor and advisor reflects upon the exercise of political power, introducing Atreus as the paradigm of tyranny. According to Seneca, the perfect ruler – contrary to war, violence and worldly passions – should be the exemplum of moral virtue, in searching for common good. Based upon Stoa precepts, the cordubense condemns the ethos of the cruel, amoral and dishonest king. This outline of the prince finds later eco in the Machiavellian portrait of Il Principe , as opposed to the classic Christian model of the Renaissance