Num prédio azul desbotado: a ocupação Mirabal como alternativa de enfrentamento da violência contra mulher

Para onde vão as mulheres que sofrem violência? Na cidade de Porto Alegre existe uma ocupação chamada Casa de Referência Mulheres Mirabal, local que as mulheres acessam por motivos de violência doméstica ou vulnerabilidade e encontram uma oportunidade de construção de cidadania. Experimentam uma vivência maior do que enfrentar a violência, um desenvolvimento de autonomia, autoconhecimento, descoberta de vocações, construção de afetos e competências. No início deste trabalho apresenta-se a importância do percurso das mulheres, das múltiplas vozes, do silêncio e do sofrimento nas corporalidades, assim como a contextualização dos avanços das políticas públicas para as mulheres no Brasil desde a década de 70. Em seguida é realizado um resgate histórico e jornalístico da Casa Mulheres Mirabal, com um apanhado de reportagens e textos jornalísticos que repercutiram as notícias da ocupação e de toda a resistência, demonstrando a relação ambígua do poder estatal com a Casa Mirabal. Em tom narrativo, são trazidas as vivências, os percursos, os olhares, as vozes, as gritarias das crianças, além de reflexões sobre o observar e registrar etnograficamente tantas histórias, resistência e engajamento. Na conclusão reflete-se sobre a possibilidade da teoria do Direito Achado na Rua se aplicar à situação da Casa Mirabal como uma produção de “direito vivo”, constatando-se a importância das reivindicações aos direitos das mulheres neste local, uma vez que já é reconhecido como essencial para a vida de muitas mulheres e crianças que passam por lá em período de recuperação. Pode-se afirmar que a Casa Mirabal é de fato uma alternativa de enfrentamento à violência contra às mulheres eficaz e importante para as mulheres de Porto Alegre.
Where do women who suffer violence go? In the city of Porto Alegre there is a place called Casa de Referência Mulheres Mirabal, a space where women go due to domestic violence or vulnerability and find an opportunity to build up citizenship. They have a greater experience than facing violence and develop autonomy, self-knowledge, discover their vocations, construct affections and skills. At the start of this work the importance of the path of women is presented, as well as the multiple voices, the silence and the suffering in the corporalities, and the contextualization of the advances of public policies for women in Brazil since the 1970s. Then, a historical and journalistic rescue of Casa Mulheres Mirabal is carried out, with a collection of reports and journalistic texts that echo the news of the occupation and of all the resistance, which demonstrates the ambiguous relationship of the State with Casa Mirabal. In a narrative tone, the experiences, paths, looks, voices, screams of children are brought, as well as reflections about the ethnographical observation and record of many stories, resistance and engagements. In the conclusion there is a reflection about the possibility of the theory of the Law Found on the Street being applied to the situation of Casa Mirabal as a production of "living law", noting the importance of claims to women's rights in this place, since it already is recognized as essential to the lives of many women and children who pass through there in a recovery period. It can be said that Casa Mirabal is in fact an effective and important alternative for fighting violence against women in Porto Alegre.