UM CÂNDIDO PEDIDO À DOUTRINA JURÍDICA: POR UM CULTIVAR HERMENÊUTICO DA VERDADE

Cândido, personagem principal da sátira homônima publicada por Voltaire em 1759, passa de uma vida aparentemente paradisíaca para uma existência recheada de desgraças. Imbuído inicialmente da teodiceia leibniziana, Cândido aos poucos se desilude com a sua crença de que vive no melhor dos mundos possíveis. A pesquisa se propõe a traçar um paralelo entre o aparente sono dogmático da doutrina jurídica e a cegueira de Cândido com relação a aspectos basilares da vida humana, de modo que seja possível contribuir para a gradual transformação da perspectiva jusfilosófica predominante. Para tanto, será necessário examinar (i) de que modo se desenvolve a alteração da perspectiva do protagonista sobre a existência; (ii) em que sentido a doutrina do Direito brasileira se mantém refratária a uma análise filosófica séria sobre seus pressupostos; (iii) como a hermenêutica, enquanto experiência indissociável da compreensão humana, deve ser entendida para auxiliar no debate jurídico. A partir do “método” fenomenológico-hermenêutico, propõe-se uma atitude interpretativa que não apenas admite o conhecimento como uma experiência compartilhada e intersubjetiva, mas também interminável, em constante transformação e sempre passível de aperfeiçoamento.