Expectativa docente, processos de enturmação e proficiência em matemática: o que a rede municipal de Belo Horizonte nos mostra?

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Esta pesquisa se insere no campo dos estudos sobre efeito escola e efeito professor. O primeiro investiga características das escolas, como o contexto em que estão inseridas, além de suas práticas, que podem promover diferença no percurso dos estudantes. O segundo procura evidências de práticas de ensino mais eficientes para melhorar o desempenho dos alunos. O efeito escola tem relação com o efeito turma, que se refere à forma de organização e composição das turmas. Os estudos mostram que os critérios utilizados para a organização das turmas (enturmação) influenciam nos resultados escolares. Esta pesquisa teve como objetivos verificar os critérios de enturmação nas escolas; analisar a expectativa docente em relação ao alcance educacional de seus alunos, considerando a composição e o desempenho escolar da turma; e analisar a percepção dos professores sobre a enturmação. Para cumprir os objetivos, a pesquisa foi realizada em duas etapas: uma de exploração de dados quantitativos e outra de análise de dados qualitativos. Na primeira etapa, utilizamos os dados da Prova Brasil 2017 – avaliação nacional em larga escala constituída por testes de proficiência em Leitura e Matemática e questionários contextuais. Analisamos os testes dos estudantes do 5º e 9º ano do ensino fundamental, e questionários do professor e do diretor da rede municipal de Belo Horizonte. Na segunda etapa, foi selecionada uma escola para a realização de entrevistas. A escolha da escola se deu por meio de um teste estatístico para verificar em quais escolas ocorreram diferenças significativas na proficiência em Matemática entre turmas na Prova Brasil nos anos de 2013, 2015 e 2017. Da escola selecionada, foram entrevistados seis profissionais de diferentes cargos. Os resultados da primeira etapa apontaram que o critério de organização de turmas mais utilizado, pelos diretores da rede municipal de Belo Horizonte, é a homogeneidade quanto à idade dos alunos, seguido da heterogeneidade quanto ao rendimento escolar. As expectativas são menores quando a turma é formada por mais alunos pretos, ou por alunos que reprovaram alguma vez ou que têm médias mais baixas em Matemática. As entrevistas trouxeram resultados que não são mensurados pelos questionários da Prova Brasil quanto à formação de turmas. O critério mais utilizado na escola analisada é a “heterogeneidade de comportamento”, ou seja, a escola opta por formar as turmas com alunos mais e menos disciplinados, a fim de não deixar que muitos alunos indisciplinados fiquem na mesma turma. Cor/raça, trajetória escolar e desempenho não surgiram como critérios de organização e composição das turmas. Nas entrevistas, porém, um tema inesperado emergiu: há uma ideia entre os profissionais da escola que a disciplina de Matemática é mais difícil para as meninas. Concluímos que há mecanismos muito sutis que contribuem para as diferenças de aprendizado entre os estudantes. Uma limitação desta pesquisa foi a ausência de um trabalho de campo, não permitido neste momento devido à pandemia da Covid-19. Isso seria relevante à medida que possibilitaria a observação da sala de aula, dos conselhos de classe e de outros eventos e espaços na escola, fornecendo mais dados para o entendimento das questões estudadas. This research is situated in the field of studies on school effect and teacher effect. The former investigates characteristics of schools, such as the context in which they are inserted, as well as their practices, which may produce differences in students’ trajectories. The latter searches for evidence of more efficient teaching practices in order to improve student performance. The school effect is associated with the class effect, which refers to forms of class organization and composition. Studies have shown that the criteria adopted in the process of class organization (known in Portuguese as “enturmação”) influence academic outcomes. This research aimed to investigate class composition criteria in schools; to analyze teacher’s expectations regarding students’ educational potentiality, given the composition and performance of a class; and to analyze teachers’ perceptions regarding the class composition. To achieve such objectives, the investigation was held in two stages: the first one encompassed the exploration of quantitative data; and the second one encompassed the analysis of qualitative data. In the first stage, we used data derived from Prova Brazil 2017 – a large scale national-level assessment instrument consisting of reading and mathematical proficiency tests and contextual questionnaires. We analyzed the tests taken by students in the 5th and 9th grade of elementary school, and questionnaires answered by the teacher and the director of the municipal education system in Belo Horizonte. In the second stage, we selected a school in order to conduct interviews. This selection was made through a statistical test set to assess which schools had displayed significant differences in mathematical proficiency among classes in the 2013, 2015 and 2017 editions of Prova Brazil. Six professionals from different positions in the selected school were interviewed. The results of the first stage demonstrated that the criterion for class organization most adopted by the directors of the municipal education system in Belo Horizonte is age homogeneity, followed by school performance heterogeneity. Expectations are lower when the class has a greater number of black students, students who have failed Mathematics classes before, or students who have had lower averages in Mathematics. The interviews achieved results that are not measured by Prova Brazil’s questionnaires on the organization of classes. The most adopted criterion in the target school is “behavioral heterogeneity”; i.e., the school is partial to arranging classes with more and less disciplined students, in order not to allow many undisciplined students to share the same class. Color/race, school trajectory and performance did not appear as organizational criteria for class composition in the interviews; however, an unexpected theme emerged: school professionals displayed the understanding that the subject of Mathematics is more difficult for girls. We concluded that there are quite subtle mechanisms that may contribute to producing differences in students’ learning. A limitation of this research was the impossibility of conducting field work, for it was not allowed due to the Covid-19 pandemic. This kind of work would have been relevant, as it would have allowed for observations within classrooms, school staff meetings and other events and spaces in the school environment, providing us with more data for understanding the issues studied in this research.