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Em fevereiro de 2007, ao comparar excertos de peças de Quincas Laranjeiras e Heitor Villa-Lobos até então pouco conhecidas (Dores d’Alma, Valse-Choro e Valsa Concerto N. 2), Sérgio Abreu (1948-2023) notou proximidades significativas na obra de ambos, esboçando considerar uma possível influência de Quincas na formação do “estilo violonístico” de Villa-Lobos. Em maio de 2023, no processo de organização e catalogação de seu espólio documental (Sérgio falecera em 19 de janeiro, poucos meses antes), foram encontradas seis páginas de um estudo aparentemente acabado, assinado e datado por Abreu em novembro de 2007, no qual apresenta argumentos, dados históricos e oito exemplos musicais comparativos de obras de Quincas e Villa-Lobos. Além de apresentar dados biográficos inéditos de Laranjeiras e de contextualizar o percurso de construção desse estudo, o artigo reproduz literalmente o trabalho de Sérgio, dando luz a uma de suas facetas menos conhecidas: a do músico-investigador capaz de traçar paralelos originais entre as obras de dois personagens seminais do violão no Brasil.

O objetivo do artigo é apontar não somente o quão a produção de Sérgio Abreu como arranjador/transcritor pode revelar contribuições decisivas para o alargamento do repertório do violão, a partir do levantamento, catalogação, organização e edição do material adaptado (conhecido e desconhecido) encontrado em seu espólio, mas também esboçar o entendimento de alguns dos eventuais procedimentos e processos que orientaram o pensamento de Sérgio na confecção de tais trabalhos (o conceito de montagem e a agregação de compreensão e valor artístico às obras adaptadas, por exemplo). Para tanto, , realizamos uma breve discussão sobre a terminologia “transcrição/arranjo”, discutimos as perspectivas históricas e as funções socioculturais das transcrições e arranjos para violão (com foco no caso de Sérgio Abreu), até elencarmos os critérios estabelecidos para as edições diplomáticas de dois arranjos inéditos recentemente descobertos, que passaram por revisão geral de Eduardo Abreu: Pachelbel e Gluck.

O presente texto aborda a versão para violão solo de Sérgio Abreu do Poco adagio, da Sonata per il flauto traverso solo senzabasso, Wq 152 (H 562), de Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788), comparando-o com o original e analisando suas características instrumentais. Busca-se esclarecer as modificações, os procedimentos e as soluções instrumentais encontradas pelo arranjador. Abreu acrescenta linhas de baixos e acompanhamentos, modifica notas da melodia, reordena notas da melodia, modifica ritmos, substitui pausas por notas, reescreve trechos com polifonias implícitas e adiciona ornamentos. São analisados também recursos mecânicos referentes à realização prática de uma possível versão ao violão, como as digitações de melodias em uma mesma corda, o uso de cordas soltas para mudanças de posição, a utilização de dedos guias, dedos pivôs, aberturas e sobreposições inversas. A partir deste debate é possível apresentar os aspectos musicais e instrumentais do arranjo e as características envolvidas nas escolhas do arranjador.

Este artigo enfoca os bastidores de uma pesquisa de doutoramento envolvendo indagações, preocupações e apontamentos técnicos e musicais de Sérgio Abreu (1948–2023) na ocasião de escrita da tese e no momento em que ele elaborou sugestões para o Concerto para Violão e Orquestra de Francisco Mignone (1897–1986). Após análises preliminares de outras obras do repertório violonístico, associamos as sugestões do violonista à tradição revisional iniciada por Andrés Segovia (1893–1987) e ao conceito de “relação horizontal (não hierarquizada)” entre intérpretes e compositores. Posteriormente, subentendemos dois grupos visando enquadrar cinco dentre as trinta sugestões propostas, sendo uma delas representativa da conciliação entre técnica e música, de âmbito local, e outras quatro claramente alinhadas no segundo grupo, inventivo-musical, com base nas quais fazemos conjecturas macroestruturais e aportes consequentes à obra.

O brasileiro Sérgio Abreu (1948-2023) ficou conhecido como concertista internacional ao violão, nas décadas de 1960 e 1970, inicialmente no Duo Abreu, formado com seu irmão, Eduardo, e depois em uma breve carreira solo. Na sequência, a luteria firmou-se como sua principal atividade. Há menor atenção quanto a Sérgio Abreu na produção musical e, devido a isso, o presente texto tem como objetivo principal evidenciar qual foi sua experiência e contribuição de produtor junto a dois quartetos, o Quaternaglia e o Brazilian Guitar Quartet. O método histórico tentou se cercar de elementos que mostrassem as condições em que os dois grupos surgiram e o momento em que Sérgio Abreu foi procurado. De referenciais, utilizamos Morais (2007) que estudou transcrições de Sérgio Abreu, o livro biográfico de Dias (2015), revistas especializadas, coleta de dados em páginas dos grupos e contatos com integrantes dos quartetos, obtendo-se relatos especialmente para esse artigo.

Este trabalho pretende apresentar uma parte da história que contempla a parceria de Sérgio Abreu e a empresa Tranquillo Giannini S/A na construção dos violões conhecidos popularmente como “Modelo Abreu” e como tais instrumentos foram parar na Escola Técnica de Música e Dança Ivanildo Rebouças da Silva, em Cubatão. O objetivo deste artigo é investigar a história e uso desses instrumentos, desde a aquisição pela ETMD até a forma com que foram usados e conservados pela escola. Para isso, foi feita uma pesquisa qualitativa que consistiu, além de um resgate histórico em jornais, revistas e documentos históricos, entrevistas com professores e coordenadores que fizeram parte dessa história ou que atualmente trabalham com esses instrumentos. Ao final dessa pesquisa, foi possível obter toda a trajetória histórica de vida desses violões, desde quando surgiram até quando foram adquiridos pela escola.

Esse artigo busca comentar os quatro lançamentos discográficos do Duo Abreu, compreendendo os três lançamentos analógicos da época de sua atuação e um lançamento digital contendo uma gravação para a Rádio BBC de Londres em 1970. Serão abordadas questões como repertório, violões utilizados, locais de gravação, engenheiros de som, produtores, fotógrafos, artistas gráficos, notas de encarte e contracapas. Tentará, também, elucidar a questão das datas de lançamentos das gravações, cujas informações corriqueiramente apresentam dados desconexos. O texto observa, especialmente, que apesar da inegável maestria musical do duo, este foi amparado por um rol de grandes profissionais que ajudou a alçar a carreira que alcançaram ao longo dos anos, denotando um trabalho artístico conjunto. Sem todo esse aparato talvez os irmãos não tivessem alcançado o status que mantém até os dias atuais.

“Sérgio Abreu e seu tempo”, volume 1 da série de Ebooks da Revista Vórtex. Humberto Amorim, Ricardo Dias, Felipe de Almeida Ribeiro, Fabio Guilherme Poletto (organizadores)

Este artigo investiga as possibilidades dentro das quais o trabalho interpretativo de Sérgio Abreu, especialmente como violonista, pode estruturar a fundamentação de uma escola violonística. É baseado em dados coletados em minha dissertação de mestrado, defendida em 2007, mas somente aqui estruturado em termos de 3 aspectos definidos como fundamento: sonoridade, ritmo e processos interpretativos. Contém uma breve análise da oscilação histórica das poéticas interpretativas e discute em que sentido a sistematização da poética interpretativa é um passo fundamental para a democratização do conhecimento a partir da Universidade como promotora de fundamentação crítica.

Este artigo apresenta a catalogação dos violões construídos pelo renomado luthier brasileiro Sérgio Abreu. O catálogo foi desenvolvido por meio de uma pesquisa documental, utilizando os livros de encomendas do próprio luthier, bem como uma pesquisa de campo realizada nas redes sociais, que envolveu a coleta de depoimentos de músicos e proprietários dos violões Abreu. O objetivo principal desta pesquisa é documentar e preservar o legado do construtor, destacando sua importância tanto no cenário nacional quanto internacional, e fornecer uma visão abrangente dos instrumentos por ele criados e seus métodos de produção. Através desse estudo, é possível compreender a significância de Sérgio Abreu para as práticas musicais, a luteria e a cultura do violão de concerto como um todo. Este trabalho representa um passo inicial na documentação desse legado, e espera-se que sirva como base para pesquisas futuras, visando ampliar e aprofundar o conhecimento sobre a obra desse renomado luthier.

Quando pensamos em encontrar tesouros, pensamos em uma longa jornada onde no fim encontram-se coisas valiosas escondidas e inatingíveis. Mas, às vezes, os tesouros estão bem na nossa frente, no primeiro passo da jornada. Esse é o caso quando lemos o livro "Rhythmic Mastery" de Alice Artztz. Em seu livro, encontramos um mapa do tesouro na terceira página, a página de agradecimentos. Nossa guia, Alice Artzt, nos instrui: "Gostaria de agradecer a Sergio Abreu por seus extensos conselhos durante a escrita deste livro e por sua inestimável colaboração no Prólogo." Assim temos o prólogo "Algumas Reflexões sobre o Ritmo", escrito por Alice Artztz e Sergio Abreu. Ali está o nosso tesouro, logo no início deste grande livro. E tal tesouro cultural deve ser trazido à luz e compartilhado. Essa é a razão de traduzir O prólogo para o português.

O artigo analisa as gravações de estudos de Fernando Sor (1778-1839) de Sérgio Abreu (1948-2023), presentes no LP Sérgio Abreu toca Paganini e Sor (1980). As gravações foram comparadas com as edições fac-símiles, edições publicadas anteriormente e posteriormente ao disco, e com a gravação de alguns dos estudos por seu irmão Eduardo. As alterações propostas por Abreu refletem seu posicionamento crítico em relação ao repertório, independentemente de ter sido composto por um compositor-violonista, contribuindo para a compreensão de seu estilo interpretativo e das práticas interpretativas dos séculos XX e XXI.

Nos últimos anos, o violão vem progressivamente ganhando espaço qualitativo e quantitativo em pesquisas e publicações científicas da área musical. No Brasil, de modo especial, este crescimento tem encontrado ressonância em uma plêiade de pesquisadores(as) que pautam o instrumento em suas mais diversas abordagens. Coadunando-se a este movimento, a Revista Vórtex lança o Dossiê “Homenagem a Sérgio Abreu: violão, contextos, práticas e personagens”, encorajando a submissão de trabalhos que estejam relacionados direta ou indiretamente às atuações do homenageado como músico, transcritor ou luthier, tanto no que tange às suas relações com personagens, práticas e/ou contextos socioculturais mais amplos quanto na abordagem analítica de seus trabalhos solo, camerísticos, estilísticos, criativos e/ou de construção. Editores: Humberto Amorim, Ricardo Dias (convidados), Felipe de Almeida Ribeiro, Fabio Poletto (editores-chefes).