Dissertação de Mestrado, Filosofia para Crianças, 24 de abril de 2023, Universidade dos Açores. Percorrendo alguns conceitos fundamentais da obra de Arendt, a dissertação pretende mostrar a sua relevância no domínio da Filosofia para Crianças (FpC), na sua conceptualização ou prática. Um desses conceitos é o de juízo que em Arendt tem uma inspiração kantiana e aristotélica reconhecendo-se a importância do bom julgamento para situações em que não podemos simplesmente seguir uma regra universal dada. No âmbito da política, por exemplo, essa boa capacidade de julgar é tudo a que podemos recorrer. Assim, defende-se que a FpC, através da Comunidade de Investigação Filosófica (CIF) em muito reforça a capacidade de julgar, sendo que julgar faz reunir capacidades lógicas puras, bem como uma escuta do contexto e do outro, para que se alcance aquilo que Lipman designou por razoabilidade. Uma vez que o bom julgamento decorre da discussão em CIF, perguntamo-nos se esta é - ou apenas prepara - para um espaço público e em que medida lhe dá condições de existir. Nele o ser humano, segundo Arendt, substancia o conceito de natalidade, a sua liberdade e a sua capacidade de agir. Apesar de Arendt discordar que a escola possa inserir-se na esfera pública e de a FpC mormente se realizar em escolas e âmbitos educativos, pensamos que a CIF prefigura um espaço público na sua atuação. Não é nem deve ser política, no sentido forte e constrangedor do termo, no sentido de instrumentalização e doutrinação, mas é-o num sentido fraco, pois proporciona um contexto plural, de publicidade e de discussão de ideias que visa preparar os alunos para a esfera pública. Ao identificar o conceito de liberdade com o de ação, Arendt fez-nos pensar que preservar o espaço público, onde a ação pode existir, é preservar a liberdade. Então, manter as condições para este espaço é cultivar a possibilidade da liberdade. O que nos pode mostrar que a FpC e o modo como se operacionaliza a CIF devem ter em conta as condições que sustentam a agência humana. Se a ação, como o juízo, é um dos conceitos centrais em Arendt, torna-se importante compreendê-la e a empatia ajudou-nos nisso. Além de permitir o descentramento, a transposição para o lugar dos outros e de poder funcionar como uma disposição para certas virtudes intelectuais, a empatia coloca o foco da CIF naquilo que tem de comunitário. Deste modo, equilibra o seu aspeto relacional e que deve estar mais presente nas nossas conceções de FpC e nas práticas do facilitador. Face a um enfoque na autonomia, que advém da definição de liberdade como livrearbítrio, a conceção de liberdade como ação e a observação de que a FpC e a CIF comportam pensamento multidimensional, o que inclui o pensamento de cuidado, é possível sublinhar que a FpC e a CIF promovem um espaço público tangível, onde a ação é possibilitada e desenvolvida. ABSTRACT: Going through some fundamental concepts of Arendt's work, the dissertation intends to show its relevance in the field of Philosophy for Children (FpC), in its conceptualization or practice. One of these concepts is that of judgment. Arendt has a Kantian and Aristotelian inspiration and sees the importance of good judgment for situations where we cannot simply follow a given universal rule. In the realm of politics, for example, this good judgment is all we can turn to. Thus, we defend that P4C, through the Community of Philosophical Inquiry (CPI) greatly strengthens the ability to judge, and judging brings together pure logical skills, as well as listening to the context and the other. Thus, reaching what Lipman designated as reasonableness. Since good judgment derives from the discussion in CPI, we ask ourselves if it is a public space or not and to what extent it enables it to exist. In public space the human being, according to Arendt, gives substance to the concept of natality, his freedom and his ability to act. Although Arendt disagrees that the school can be part of the public sphere and that P4C mainly takes place in schools and educational environments, we believe that the CPI foreshadows a public space in its performance and praxis. It is not and should not be political, in the sense of instrumentalization and indoctrination, which imposes a single perspective, but it is in a weak sense, as it provides a plural context, for publicity and for the discussion of ideas that aims to prepare students for the sphere public. By identifying the concept of freedom with that of action, Arendt made us think that preserving public space, where action can exist, is preserving freedom. So, to maintain the conditions for this space is to cultivate the possibility of freedom. Which can show us that the P4C and the way in which the CPI is operationalized must consider the conditions that sustain human agency. If action, like judgment, is one of Arendt's central concepts, it becomes important to understand it. Empathy helped us to its better comprehension of the concept. In addition to allowing decentring, the transposition to the place of others and being able to function as a disposition for certain intellectual virtues, empathy places the COI's focus on what is communal. In this way, it balances its relational aspect, which should be more present in our conceptions of P4C and in the facilitator's practices. In contrast to a focus on autonomy, which comes from the definition of freedom as free will, the conception of freedom as action and the observation that P4C and COI involve multidimensional thinking, which includes the caring thinking, it is possible to underline that P4C and COI promote a tangible public space, where action is enabled and developed.