Uma das tendências do romance moderno, o romance de introversão, ao explicitar os métodos de sua própria composição na narrativa, tornou evidente a figura daquele que o escreve: o artista. Na obra de Clarice Lispector vários são os protagonistas artistas: Joana, de Perto do coração selvagem, escreve poesias e brinca com as palavras desde sua infância; Virgínia, de O lustre, faz pequenas estátuas de bonecos de barro; em Água viva, a narradora é, também, pintora; Rodrigo S.M., de A hora da estrela, é um escritor; em Um sopro de vida, há um autor não nomeado, que é um escritor, e Ângela Pralini, a qual possui um maior entusiasmo pela pintura; finalmente, a narradora protagonista G.H., que é identificada como um escultora. Além disso, muitos são os textos clariceanos que versam sobre as diversas artes, desde a escrita, passando pela pintura até a escultura: em contos, crônicas e, inclusive, no papel de entrevistadora, Clarice demonstrava profundo interesse em discutir arte, procurando, nas entrevistas com artistas, saber a respeito dos seus métodos de trabalho, bem como de suas opiniões gerais sobre o tema. O foco desta dissertação se dará sobre a escultura, primeiramente investigando escritos diversos em que Clarice trata desse assunto, para culminar, enfim, no cerne desta pesquisa: A paixão segundo G.H.. A escultora G.H. parece, de alguma forma, unir sua arte primeira à arte da palavra, compondo uma espécie de \"escrita escultórica\" e, ainda, parecendo talhar \"esculturas verbais\" durante seu relato. Dessa maneira, pretende-se, aqui, percorrer alguns dos textos clariceanos que discutem as diversas artes e a figura do artista, para poder finalmente analisar com maior atenção a obra A paixão segundo G.H., procurando estabelecer relações entre a construção dessa narrativa e o desejo clariceano de \"tocar a coisa\" com as mãos, tal qual um escultor em sua atividade; demonstrando como a modalidade artística de G.H. parece ser captada pela própria forma do romance. One of the tendencies of the modern novel, the introverted novel, when turning explicit the methods of its own narrative composition, makes evident the image of that who writes it: the artist. In Clarice Lispector\'s works, several are the artist protagonists: Joana, from Near to the wild heart, writes poetry and play with words since her childhood; Virgínia, from The chandelier, makes little statues of clay dolls; in Água viva, the narrator is also a painter; Rodrigo S.M., from The hour of the star, is a writer; in A breath of life, there is a not named author, who is a writer, and Ângela Pralini, who has a greater enthusiasm for painting; finally, the protagonist narrator G.H., who is identified as a sculptor. Besides that, many are the texts from Clarice that discuss about the varied arts, from the writing to the painting and sculpture: in short stories, chronicles and also in the role as interviewer, Clarice showed a deep interest in debate art, searching after the working methods of the interviewed artists as well as their general opinions about this theme. The focus of this dissertation will be the sculpture, firstly investigating miscellaneous writings in which Clarice addresses this issue, to culminate, in the end, in the heartwood of this research: The passion according to G.H..The sculptor G.H. seems somehow to unite her first art to the art of the word, compounding a sort of \"sculptural writing\" and yet seeming to carve \"verbal sculptures\" during her story. Thus, what is intended here is to pursue some of Lispector\'s texts that talks over the varied arts and the image of the artist, in order to finally analyse with greater attention the novel The passion according to G.H., trying to establish relations between the construction of this narrative and Clarice\'s wish to \"touch the thing\" with her hands, as a sculptor in his activity; demonstrating how the artistic modality of G.H. seems to be captured by the own form of the novel.