A Leucemia Mieloide Aguda (LMA) corresponde a até 50% das mortes relacionadas à leucemia. Embora nas últimas décadas tenha sido observada significativa melhora no prognóstico com avanços no diagnóstico e terapias propostas, em países de renda média a baixa como Brasil a sobrevida de pacientes pediátricos com LMA ainda é de 30-40%. Objetivos: Descrever a sobrevida global e livre de eventos dos pacientes pediátricos diagnosticados com LMA no Hospital Infantojuvenil de Barretos, no período de janeiro de 2002 a junho de 2022. Materiais e métodos: Foi realizado um estudo de coorte retrospectivo. A análise de sobrevida foi estratificada em dois períodos distintos: Entre janeiro/2002 a maio/2013 (tratamento realizado na unidade de adultos do Hospital de Câncer de Barretos); e junho/2013 a junho/2022 (tratamento e suporte realizados na unidade infantil do Hospital). As sobrevidas global (SG) e livre de eventos (SLE) foram avaliadas considerando todos os pacientes LMA, LMA exceto leucemia promielocítica aguda (LPA) e, também, considerando apenas as LPA. Resultados: Foram incluídos 83 pacientes, sendo 25 no primeiro período e 58 no segundo período. Analisando o período de 20 anos, incluindo todos os pacientes pediátricos com LMA, encontrou-se SG de 37,7% e SLE de 35,8%. Excluindo LPA, a SG foi de 31,9% e a SLE foi de 31,2%. Já dentre os pacientes com LPA, a SG foi 64,3%. Ao avaliar a sobrevida nos dois períodos separadamente, a sobrevida global foi de 28% no primeiro período e 41,4% no segundo período. O óbito durante fase de indução chegou a 52,6% no primeiro período, e quase 50% dos pacientes tinham hiperleucocitose; a maioria dos pacientes desse período analisado foram tratados segundo protocolo BFM; 26,5% dos pacientes tiveram recaída de doença. O protocolo brasileiro GELMAI foi implantado recentemente e dos 10 pacientes incluídos não houve nenhum óbito na fase de indução. Quando a sobrevida foi estratificada segundo grupo de risco genético, pacientes de baixo risco tiveram uma sobrevida global de 50%, superior quando comparado aos risco intermediário e alto, com 30 e 28,6% de sobrevida, respectivamente. Discussão: Em nosso serviço, foram observadas taxas elevadas de óbito indutório nos pacientes com LMA. O diagnóstico tardio de muitos pacientes devido a dificuldade em serem referenciados a um centro oncológico, assim como quimioterapia intensiva indutória de protocolos internacionais e cuidado suportivo deficiente podem ser considerados para esse achado. Certamente, o cuidado às crianças realizado por pediatras – oncologistas, intensivistas, equipe multidisciplinar – em hospital pediátrico influenciou na melhora sobrevida global e redução de óbito indutório no serviço a partir de 2013. Conclusão: Pode-se inferir, com os dados obtidos, a importância de um serviço de tratamento especializado em conduzir crianças graves, com suporte necessário e de fácil acesso à disposição, além de profissionais treinados ao atendimento à população pediátrica. A morbimortalidade relacionada ao tratamento, entretanto, permanece um desafio nos países em desenvolvimento, inclusive neste Hospital, com a proposição de tratamentos de intensidade reduzida na indução se monstrando uma realidade fáctivel em países de baixa e média renda como o Brasil.