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Introdução: Na coinfecção HIV e Mycobacterium leprae, a compreensão da interação entre os parasitas e o hospedeiro possui grandes lacunas de conhecimento. Aparentemente o vírus não altera profundamente a história natural da Hanseníase em indivíduos coinfectados. Por outro lado, sabe-se que nestes pacientes as reações hansênicas e neurite são mais frequentes, provavelmente por desregulação do sistema imune e por efeito neuropático do HIV, respectivamente. Dados de literatura apontam para aumento de reação tipo 1 quando em terapia antirretroviral (TARV). Aqui relata-se dois casos de coinfecção HIV-Hanseníase em pacientes com HIV fase AIDS e Hanseníase Virchowiana(HV) com reação hansênica do tipo 2. Métodos: Série de casos de pacientes com Hanseníase Virchowiana, reação hansênica do tipo 2 em pacientes com HIV fase AIDS. Resultados: Caso 1: Mulher trans, 31 anos, HIV desde 2018, em abandono de tratamento. Admitida com contagem de linfócitos CD4(LTCD4) 199 céls/mm3 e carga viral (CV) de 52 cópias/mL. Pápulas e placas acastanhadas infiltradas, difusamente distribuídas, com lesões exuberantes na região das mamas, supralabiais e hélice. Apresentava também, nos membros inferiores, vesículas e nódulos eritematosos, com áreas ulceradas e necróticas. Biópsia de pele evidenciou Hanseníase multibacilar com reação hansênica tipo 2 e eritema nodoso necrotizante. Iniciados rifampicina, clofazimina, dapsona, talidomida e prednisona. Reiniciada TARV com TDF/3TC/DTG, com melhora clínica. Caso 2: Mulher cis, 36 anos, HIV desde 2004 e com diagnóstico de HV em 2014. Após um mês de tratamento, relatava aparecimento de nódulos necróticos. Apresentava contagem de LTCD4 170 céls/mm3 e CV indetectável com 3TC/TDF/EFZ. Ademais, em uso de prednisona 1 mg/kg/dia. Apresentava placas infiltradas e nódulos necróticos em membros, tronco e glúteos, e espessamento bilateral do nervo ulnar, mão direita em garra e anestesia distal de extremidades. Talidomida foi associada ao tratamento. Após 12 meses de tratamento para HV, reduziu-se gradualmente talidomida e prednisona por 6 meses, com piora clínica. Feita nova biópsia de pele, sugestiva de reação tipo 2 e eritema nodoso, sendo reiniciado tratamento para HV. Conclusão: A coinfecção HIV/hanseníase é pouco estudada em suas manifestações e na interação entre os microrganismos. Como doença negligenciada a suspeição da hanseníase é baixa levando a atrasos de diagnóstico e de tratamento, levando a quadros clínicos de maior gravidade.

A Paracoccidioidomicose (PBmicose) é a micose sistêmica mais prevalente no Brasil, acometendo majoritariamente homens procedentes de áreas rurais. A infecção se dá por inalação do fungo, seguida de disseminação linfohematogênica no organismo do hospedeiro. Após, o fungo pode se instalar em qualquer órgão ou tecido, sendo mais frequente a pele, mucosas e os pulmões. Relatamos aqui um raro caso de PBmicose subaguda com acometimento principalmente em coluna dorsal, apresentando-se clinicamente com síndrome de compressão medular, em uma mulher de meia-idade vinda de área urbana. Trata-se de uma mulher, 57 anos, natural do Rio Grande do Sul e procedente de Itapecerica da Serra (SP), há 30 anos. Trabalhou como recepcionista e nega ter vivido em área rural. Refere início de hábito de jardinagem em seu domicílio há dois anos. Procurou atendimento médico em serviço externo em setembro/2022, devido a cervicalgia e sensação de parestesia em MMSS há alguns meses com piora progressiva. É transferida HCFMUSP devido a síndrome de compressão medular para continuidade de cuidados com a neurocirurgia. Ressonância magnética de coluna total, realizada em 27/09, com lesão extensa de partes moles com colapso do corpo vertebral de D5, com áreas necróticas e liquefeitas, além de infiltração por contiguidade dos corpos vertebrais de D4 e D6. Outros exames de imagem mostravam múltiplas linfonodomegalias abdominais com liquefação central, além de lesões focais em baço e tireoide. Com principal hipótese no momento de neoplasia hematológica, foi realizada biópsia de partes moles da lesão em região cervical posterior em 03/10. Sete dias após, apresentou choque séptico de foco abdominal, sendo transferida para UTI de infectologia do HCFMUSP. Nessa ocasião, sai o resultado anatomopatológico da biópsia com presença de múltiplas estruturas fúngicas, compatíveis com Paracoccidioides brasiliensis. Apesar da introdução de antimicrobianos e antifúngico, e medidas de suporte hemodinâmico, a paciente evoluiu à óbito 18 horas após a admissão na UTI. Comprometimento vertebral associado a lesão linfonodal e tireoidiana é forma rara de PBmicose em mulheres adultas imunocompetentes. Esse diagnóstico diferencial deve ser lembrado em pessoas de áreas endêmicas.

Abstract Introduction Paracoccidioidomycosis is a systemic mycosis endemic to Latin America, with frequent reports of poor treatment adherence resulting in worse clinical outcomes. The present study evaluated factors related to treatment adherence in patients with paracoccidioidomycosis. Methods This cross‐sectional study included data from medical records of patients with paracoccidioidomycosis treated between 2005 and 2018 in a reference hospital in southeastern Brazil. Clinical variables, demographic characteristics, and smoking and alcohol consumption were collected and analyzed. Results Of the 198 cases included, most were adults (median age = 51 years), males (93.4%), presented chronic paracoccidioidomycosis (83.8%), reported smoking (90.4%) and alcohol consumption (84.8%), and 56.6% adhered to treatment. Treatment adherence was associated with the discontinuation of alcohol consumption (odds ratios (OR) = 5.227; 95% confidence interval (CI) = 2.697–10.129) and smoking (OR = 3.365; 95% CI = 1.781–6.358) during therapy. Conclusions Patients' continued consumption of alcohol and tobacco was associated with non‐adherence to treatment, suggesting that a joint therapeutic approach that addresses alcohol and tobacco use alongside paracoccidioidomycosis treatment may hold promise for improving adherence and patients' quality of life.

Sporotrichosis is a neglected subcutaneous fungal infection that affects humans and animals worldwide caused by species belonging to the genus Sporothrix. This study aims to examine the range of genetic variations, assess molecular epidemiology significance, and explore potential modes of transmission of the Sporothrix species associated with the current sporotrichosis outbreaks in Espírito Santo, Brazil. In this investigation, 262 samples were evaluated, including 142 from humans and 120 from felines, collected between 2016 and 2021. The isolates were identified based on morphological and molecular characteristics. Sexual idiomorphs were determined by mating-type PCR using primers specific to the MAT1-1 and MAT1-2 loci. Amplified fragment length polymorphism (AFLP) was employed to assess the genetic variability of Sporothrix spp. Finally, antifungal susceptibility testing was performed following the CLSI M38-A2 protocol. Of the 142 human samples, 125 were identified as S. brasiliensis and 17 as S. schenckii s. str. The presence of S. brasiliensis was overwhelming (100%) during outbreaks, highlighting the significant role of domestic cats in the emergence of this species. Heterothallism was the only observed mating strategy. However, the MAT1-2 idiomorph was predominant in cases of cat-transmitted sporotrichosis (χ2 = 202.976; p < 0.0001). Our AFLP results show significant intraspecific variability observed among S. brasiliensis isolates in Espírito Santo. Different genotypes forming subgroups within the same population suggest that these isolates do not originate from a single ancestor, indicating multiple emergences. Furthermore, terbinafine was the antifungal with the best results in vitro. However, in clinical practice, itraconazole remains the primary treatment choice. Sporotrichosis continues to advance in the state; therefore, the health system must outline one-health strategies to contain the disease to prevent future epidemics.