Introdução: O câncer de colo de útero é o terceiro câncer mais comum e a quarta causa de morte relacionada a câncer no mundo. Ocorre, na maior parte dos casos, entre a terceira e a quinta décadas de vida e o principal fator de risco relacionado é a presença do papilomavírus humano, com seus subtipos oncogênicos. Metástase óssea raramente ocorre em câncer de colo de útero, com a incidência de 0,8 a 2,3%, e alguns fatores de risco estão associados ao seu desenvolvimento, entre os quais: idade avançada, maiores estágios T e N, tipos histológicos não adenocarcinoma e não escamoso, tumores pouco diferenciados e presença de outras metástases (pulmões, fígado e cérebro). Relato de caso: Paciente de 54 anos, menarca aos 18 e sexarca aos 20. Procurou o atendimento no ambulatório de ginecologia em 2017, relatando queixa de dor em baixo ventre. Ao exame especular, visualizou-se moderada ectopia e colo sangrante. O exame colpocitológico revelou lesão intraepitelial de alto grau. A paciente foi encaminhada à colposcopia, que mostrou NIC III, e foi submetida a tratamento cirúrgico e radioterapia posterior. O exame histopatológico evidenciou carcinoma escamoso GIII, com invasão de 100% da margem comprometida. A paciente evolui com dor em região lombar e em membros inferiores após três anos de seguimento clínico, com presença de lesão lítica em L4 e lesão com aspecto de hemangiomastose no corpo vertebral de L3 à radiografia. A ressonância magnética e a cintilografia óssea exibiram lesão lítica comprometendo o corpo cervical de L4 à direita, o que não foi observado em exames anteriores. Realizou-se biópsia e foi confirmada a neoplasia metastática. Conclusão: A neoplasia de colo uterino surge entre a terceira e a quinta décadas de vida, sendo o tipo histológico carcinoma escamoso o mais comum e condizente com o caso descrito. Apesar de rara, a metástase óssea ocorre em média dois anos após o diagnóstico, sendo o principal sítio a coluna vertebral (36,36%) e destacando-se a topografia lombar (51,9%). Em contrapartida, uma metanálise publicada em 2019 evidenciou que, entre os casos de câncer de colo uterino em estágio avançado, a metástase óssea ocorreu em 23%, perdendo apenas para a metástase pulmonar (59%). Embora não sejam elucidados os mecanismos de metástase, sugere-se relação com o comportamento do tumor primário, o suprimento vascular, o sistema imune e o ambiente ósseo. São necessários maiores estudos para elucidar a oncogênese da metástase óssea. O prognóstico de pacientes com metástases ósseas é bem restrito entre seis e 12 meses, sendo proposto um tratamento paliativo com abordagem multiprofissional, visando aliviar o quadro álgico de elevada intensidade, evitar fraturas patológicas e prevenir incapacidades. O principal objetivo é ter melhor qualidade de vida. O grande avanço preconizado pela Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia e Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia é o rastreamento universal e o diagnóstico precoce de lesões precursoras do câncer de colo uterino, sobretudo por tratar-se de um método de baixo custo e de fácil reprodução.