Retorno ao trabalho é um fenômeno complexo e multifatorial, que se caracteriza como um importante desfecho em reabilitação. Conhecer os trabalhadores que retornaram ao trabalho após uma lesão de mão e analisar quais fatores se associaram a tal desfecho após três anos da alta de um serviço especializado foram os objetivos desta pesquisa. Foi realizado um estudo observacional, de corte transversal, com abordagens quantitativa e qualitativa. A análise quantitativa utilizou um banco de dados com informações referentes a 35 indivíduos, classificados em dois grupos (retornou/não retornou ao trabalho). A amostra foi descrita quanto a sexo, idade, estado civil, escolaridade, situação trabalhista, tipo de acidente, ocupação, lado acometido, dominância, agente causador, diagnóstico, tempo de exercício da atividade profissional e de reabilitação, força de preensão e desempenho ocupacional. O teste não-paramétrico de Mann-Whitney U foi empregado na comparação dos grupos em relação às variáveis quantitativas; o teste exato de Fischer, para as variáveis nominais (=0,05). Foi conduzida análise multivariada utilizando o algoritmo CART (Classification and Regression Tree) para avaliar o valor preditivo de quatro modelos, identificando trabalhadores que retornaram ou não ao trabalho. A análise qualitativa foi feita com base em entrevistas semi-estruturadas com sete trabalhadores da amostra. Do total da amostra estudada, 85,7% eram do sexo masculino, com média de idade de 37 anos, casada (57,1%) e de baixa escolaridade (54,3%). As ocupações mais freqüentes foram trabalhadores da produção de bens/serviços industriais (65,7%) e trabalhadores do comércio/serviços (20%). Os acidentes de trabalho típicos somaram 94,3%. Os diagnósticos mais freqüentes foram lesões tendinosas (37,1%) e fraturas (22,9%). As máquinas (54,3%) e os diversos tipos de material perfuro-cortantes (22,9%) foram os principais agentes causadores das lesões. O lado não-dominante foi o mais acometido (54,3%). A força de preensão e a categoria ocupacional apresentaram associação positiva com o RT. A análise multivariada CART indicou a combinação das seguintes variáveis na predição do desfecho (RT): força de preensão, desempenho ocupacional auto-relatado, categoria ocupacional e idade dos trabalhadores. O estudo qualitativo confirmou a natureza multifatorial do RT. As entrevistas demonstraram que a motivação para retornar ao trabalho, o significado do trabalho e da incapacidade para o indivíduo, além da força de preensão, lesão na mão dominante e desempenho ocupacional auto-relatado foram fatores associados a esse desfecho. Os trabalhadores apontaram que o medo de um novo acidente, o medo de demissão, um tempo de afastamento prolongado e uma atitude de descaso da empresa e de colegas foram fatores que dificultaram a readaptação. Por outro lado, uma boa acolhida da empresa e colegas, o auxílio de um profissional durante o RT, mudança temporária de setor, flexibilização do horário, adaptação do trabalho e auxílio-acidente facilitaram o retorno ao trabalho. Este estudo evidenciou a complexidade do RT de trabalhadores com lesão de mão, salientando fatores facilitadores e dificultadores desse processo, e sugerindo a importância de uma avaliação individualizada, centrada no trabalhador. The aims of the present study were to converse with workers that had returned to work after a hand injury and analyze the factors associated to this outcome three years after release from a specialized health center. An observational, cross-sectional cohort study was carried out with quantitative and qualitative approaches. The quantitative analysis employed a databank with information on 35 individuals classified into two groups (returned/did not return to work). The sample was described with regard to gender, age, marital status, schooling, work status, type of accident, occupation, affected side, dominant side, injury-causing agent, diagnosis, duration of professional activity, duration of rehabilitation, grip strength and occupational performance (COPM). A descriptive analysis was initially carried out on the sample. Central tendency and dispersion measurements of the quantitative variables were described in relation to returning to work (RW). The Levene test was employed to determine the equality of variances in grip strength on both the affected and non-affected sides. The T test for independent samples was employed in the association of grip strength and RW. The non-parametric Mann-Whitney test was used in the comparison of the groups regarding the quantitative variables and Fisher's exact test was used for the nominal variables (=0.05). Multivariate analysis was conducted using the CART algorithm to assess the predictive relevance of the four models, thereby identifying workers that had either returned or not returned to work. The SPSS 12.0 and Answertree 2.0 statistical packages were employed. The qualitative analysis was carried out after conducting semi-structured interviews with seven workers from the sample. Among the overall sample studied, 85.7% were male, married (57.1%), with an average age of 37 years and a low level of schooling (54.3%). The most frequent occupations were production of goods/industrial services (65.7%) and commerce/services (20%). Typical work accidents totaled 94.3%. The most frequent diagnoses were: tendon injuries (37.1%) and fractures (22.9%). Machines (54.3%) and perforation/cutting materials (22.9%) were the main injury-causing agents. The non-dominant side was the more affected side (54.3%). Grip strength and occupation category presented a positive association to RW. The multivariate analysis indicated that the variables with greater predictive power were grip strength, COPM scores, occupation category and age. The qualitative analysis confirmed the multi-factor nature of RJ and demonstrated that the importance of work in the lives of workers and the significance of incapacity can assist in the understanding of this process. The present study evidenced the complexity of RW among workers with hand injuries, highlighting a number of factors associated with this outcome and the importance of an individualized assessment centered on the worker.