A avaliação clínica de bulbos oculares de animais no Brasil é significativa; no entanto, a avaliação histopatológica para diagnóstico e pesquisa ainda é incipiente. Neste estudo foram analisados bulbos oculares e anexos de diferentes espécies de animais durante o período de fevereiro de 2012 a setembro de 2015. O estudo proposto teve como objetivo ampliar o conhecimento na área da oftalmopatologia, ao estabelecer o diagnóstico para as diversas alterações que ocorreram nos bulbos oculares e nos anexos. As amostras foram analisadas macroscopicamente e por histopatologia. Em algumas amostras, histoquímica e imuno-histoquímica também foram utilizadas. Determinou-se a frequência das alterações, identificaram-se as espécies animais mais acometidas, os tipos de alterações e o(s) tecido(s) ocular(es) ou periocular(es) acometido(s). Foram coletados 188 bulbos oculares e anexos, sendo 125 de caninos, 26 de felinos, 13 de aves, 11 de equinos, cinco de bovinos, dois de felídeos selvagens, um de canídeo selvagem, um roedor, uma lhama, um caprino, um equídeo (asinino) e um primata não humano (Callithrix spp.). Destes, nove animais possuíam duas alterações concomitantes, totalizando 197 alterações em bulbos oculares e anexos. Foram encontradas 92 neoplasias, 43 lesões traumáticas, sendo 21 com histórico de trauma e 22 sugestivos de trauma, 37 lesões inflamatórias, sendo 20 de causas determinadas e 17 não determinadas, 18 doenças degenerativas, quatro alterações do desenvolvimento e três doenças vasculares. Das 197 alterações, 112 eram no bulbo ocular, 52 nas pálpebras, 17 na terceira pálpebra, 14 na conjuntiva bulbar e duas massas retrobulbares. Das 92 neoplasias, 58 foram encontradas nos anexos, 32 em bulbos oculares e duas retrobulbares, sendo 57 malignas, 31 benignas e quatro eram tumor like. A neoplasia mais frequente nos anexos foi o epitelioma da glândula de Meibômio e nos bulbos oculares foi o melanoma de úvea anterior. Dentre as alterações traumáticas, as lesões na úvea anterior e na córnea foram as mais frequentes. Em relação às doenças inflamatórias, de 37 casos encontrados, foi possível determinar a etiologia em 20 bulbos oculares e anexos, sendo identificados, Leishmania sp., Escherichia coli e Streptococcus zooepidemicus como agentes infecciosos. O calázio, condição inflamatória de origem não infecciosa, também foi encontrado. Em dois bovinos, havia lesão fortemente sugestiva de infecção pela Moraxella spp. Em um cão as lesões sugeriram infecção pelo vírus da cinomose canina e em um gato havia lesão sugestiva de infecção pelo vírus da peritonite infecciosa felina. As doenças degenerativas ocorreram principalmente em galinhas, das quais sete apresentaram alterações clinico-patológicas sugestivas de atrofia progressiva da retina. Para as doenças do desenvolvimento, a mais frequente foi a microftalmia, diagnosticada em um potro e em um gato. Hiperemia ocular foi encontrada em um caso compatível e outro sugestivo de intoxicação por carbamato. Em um animal foi diagnosticado insuficiência renal crônica associada a necrose fibrinoide dos vasos sanguíneos oculares e sistêmicos. As neoplasias em anexos foram as alterações com maior frequência, possivelmente relacionadas a maior frequência de cirurgias e solicitação do exame histopatológico pelos clínicos e cirurgiões. No entanto, a baixa frequência no envio de bulbos oculares para o exame histopatológico pode subestimar os resultados encontrados, além de contribuir para que a oftalmopatologia permaneça um campo desconhecido para alguns patologistas. Além disso, existe a especificidade anatômica e o vocabulário único para as alterações encontradas, as quais exigem maior tempo e treinamento para o patologista se tornar apto a realizar esta análise. Os resultados da avaliação ocular histopatológica, nos casos de enucleação cirúrgica, podem propiciar um melhor reconhecimento do quadro clínico-patológico e a adoção de medidas que possam prevenir a morte dos animais. Clinical assessment of eyes from animals in Brazil is significant; however, histopathological examination for diagnosis and research is still incipient. In this study, eyes and annexes of different animal species were analyzed from February 2012 to September 2015. The proposed study aims to expand knowledge in ocular pathology, and to establish a diagnosis for the various changes that have occurred in ocular bulbs and annexes. The samples were examined using gross pathology and histopathology. In some samples, histochemistry and immunohistochemistry were also used. The frequency of changes was determined and the most affected animal species were identified, as well as the type of changes at the affected intraocular or periocular tissue. One hundred and eighty eight eyes and annexes were collected, and these were obtained from 125 dogs, 26 cats, 13 birds, 11 equines, five bovines, two wild felines, a wild canine, a rodent, a llama, a caprine, an equidae (donkey) and a non-human primate (Callithrix spp.). Of these, nine animals had two concurrent changes, bring it to a total of 197 eyes and annexes changes. There were 92 tumors, 43 traumas, of which 21 had a history of trauma and 22 were only suggestive of trauma, 37 inflammatory lesions, of which 20 had confirmed causes and 17 not determined, 18 degenerative diseases, four developmental changes and three vascular diseases. Of the 197 changes, 112 were in the eyeball, 52 in the eyelids, 17 in the third eyelid, 14 in the bulbar conjunctiva and two retrobulbar tumors. Of the tumors, 58 were found in annexes, 32 in eyes and two retrobulbars, and 57 were malignant, 31 benign and four were tumor-likes. The most frequent neoplasm in annexes was the Meibomian gland epithelioma; meanwhile, anterior uveal melanoma was the most common in the eyes. Among traumatic changes, lesions in the anterior uvea and cornea were the most frequent. In relation to inflammatory diseases, found in 37 cases, it was possible to determine the etiology in 20 ocular bulbs and annexes and, Leishmania sp., Escherichia coli and Streptococcus zooepidemicus were identified as infectious agents in these cases. Chalazion, a non-infectious inflammatory condition, was also found. In two bovines there were suggestive lesions by Moraxella spp. infection. In a dog, there were lesions suggestive of infection by canine distemper virus, while, in a cat, there were lesions suggestive of infection by feline infectious peritonitis virus. Degenerative diseases occurred mainly in chickens, seven of which presented clinic-pathological changes suggestive of progressive retinal atrophy. In the developmental diseases, the most frequent was microphthalmia, diagnosed in a foal and a cat. Ocular hyperemia was found in a case compatible with, and other suggestive of, poisoning by carbamate. A dog diagnosed with chronic renal failure presented alterations that were associated with fibrinoid necrosis of ocular and systemic blood vessels. Annexes neoplasms were the most frequent changes, possibly related to higher frequency of surgery and histopathological examination requested by clinicians and surgeons. However, the low frequency of eyes sent for histopathological examination may underestimate the results, and contribute to the ocular pathology remains an unknown field for some pathologists. Also, there is the anatomical specificity and the specific vocabulary for the alterations found, which require more time and training in order that the pathologist becomes able to perform this analysis. The results of the histopathological ocular evaluation in surgical enucleation cases can provide better recognition of clinical and pathological conditions, and help clinicians in taking steps that can prevent the animals death.