O suicídio é uma morte repentina e violenta, que choca. Pode provocar indignação, pois causa em quem ficou um hiato, em relação à experiência de dizer adeus àquele que é amado. A morte autoinfligida causa sofrimento e, por isso, o enlutado por suicídio é reconhecido como sobrevivente. Este estudo teve como objetivo a compreensão do processo de luto do(a) filho(a) da pessoa que cometeu o suicídio. Jamison (2010), Alvarez (1999) e Shneidman (1985; 1993) foram os principais autores que fundamentaram a discussão sobre o suicídio. As obras de Parkes (1998; 2009), Franco (2002; 2010), Kovács (1992; 2003) e Clark (2001; 2007), as fontes básicas consultadas para a compreensão do processo de luto. Trata-se de pesquisa de natureza qualitativa, tendo como participantes 9 (nove) filhos de indivíduos que cometeram o suicídio. Os princípios éticos de sigilo, privacidade, confidencialidade, não identificação dos dados do colaborador e liberdade de participação foram respeitados. Os depoimentos foram gravados com a anuência dos entrevistados e realizados: entrevista para a coleta de depoimento, de aproximadamente 3 (três) horas de duração e 2 (dois) contatos por e-mail para enviar a transcrição das entrevistas, e outro, depois da análise dos dados, para compartilhar com o colaborador a compreensão da pesquisadora. As unidades de significados foram extraídas conforme o método fenomenológico (Moustakas, 1994) e compreendidas pela perspectiva da abordagem da Gestalt-terapia. Observou-se que para alguns entrevistados, a superação da falta do progenitor trouxe ambivalências: vivos, foram ausentes; mortos, tornaram-se presentes. O ato suicida pode denunciar uma dinâmica familiar cujo rompimento de vínculos já acontecia, ou seja, o estresse foi experienciado antes, durante e depois do suicídio. Portanto, o suicídio não foi fator precipitante, mas, sim, o processo como um todo. Quando o filho sobrevive ao suicídio de um dos genitores pode ter uma experiência cujo sofrimento provoca culpa, raiva, ressentimentos, sensação de desamparo e de abandono, solidão, falta de oportunidade por não ter recebido colo, acalanto, cuidado, amor e direção. Considerou-se que, embora a morte seja para sempre, o luto é um processo dinâmico, no qual os enlutados tentam administrar uma diversidade de sentimentos e pensamentos: além da necessidade de compreender a morte, surge a redefinição de seu papel na família. Destaca-se também o calar e o isolamento dos depoentes. O isolamento parece acontecer para que não sejam mobilizados os sentimentos confusos e não compartilhados, que ameaçam a zona de conforto tão arduamente conquistada pelos que sobreviveram. O que se cala é o sofrimento, a dúvida e o estigma. Identificou-se que o suicídio parental é uma vivência ímpar, que permite à pessoa descobrir e desenvolver estratégias de enfrentamento em seu processo de luto Suicide is a sudden and violent death, which shocks. It may cause outrage, as it causes a gap in those who remained, in relation to the experience of saying goodbye to the one who is loved. The self-inflicted death causes suffering and, thus, the bereaved by suicide is recognized as a survivor. This study had as goal the comprehension of the grieving process of the offspring of the person who committed suicide. Jamison (2010), Alvarez (1999) and Shneidman (1985; 1993) were the main authors who grounded the discussion about suicide. The works of Parkes (1998; 2009), Franco (2002; 2010), Kovács (1992; 2003) and Clark (2001; 2007), the basic sources consulted to the comprehension of the grieving process. It is a research of qualitative nature, having as participants nine (9) offspring of individuals who committed suicide. The ethical principles of secrecy, privacy, confidentiality, no identification of the data of the collaborators and freedom of participation were respected. The testimonies were recorded with the consent of the interviewees and carried out: interview - to collect the testimony, approximately three (3) hours long - and two (2) contacts by e-mail one to send the transcripts of the interviews, and other after analyzing the data, to share with the collaborator the comprehension of the researcher. The units of meaning were extracted according to the phenomenological method (Moustakas, 1994) and understood through the perspective of the Gestalt-Therapy approach. It was observed that for some interviewees, overcoming the lack of a parent brought ambivalences: as alive, they were absent; as dead, they became present. The suicidal act may denounce a family dynamic in which breaking of bonds has already happened, in other words, the stress was experienced before, during and after the suicide. Therefore, suicide was not a triggering factor, but, instead, the process as a whole. When the child survives the suicide of one of its parents, one can have an experience whose suffering causes guilt, anger, resentment, helplessness and abandonment, loneliness, lack of opportunity by not having received lap time, soothing, care, love and guidance. It was considered that, although death is forever, grief is a dynamic process, in which bereaved ones try to manage a diversity of feelings and thoughts: besides the necessity of comprehending death, comes the redefinition of their role in the family. Also noteworthy is the silence and isolation of the deponents. The isolation seems to happen for mixed and not shared feelings not to be mobilized, that threaten the comfort zone so hardly conquered by those who survived. What is silenced is the suffering, the doubt and the stigma. It was identified that parental suicide is a unique experience that allows the person to discover and develop coping strategies in their grieving process