Dissertação (mestrado)—Universidade de Brasília, Instituto de Psicologia, Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica e Cultura, 2021. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). O trabalho socioclínico com adolescentes e jovens em cumprimento de medida socioeducativa de internação devido à passagem ao ato infracional violento convoca trabalhadores e pesquisadores a construírem dispositivos de intervenção inventivos, sensíveis e reparadores. O contato com esses jovens é atravessado por questões diversas (violências, testes, localizações, resistências) e em um território institucional que não é operacionalizado para os cuidados, escuta, mas para as contenções e apagamento subjetivo. Partindo de uma compreensão crítica e vivencial, o percurso para a construção desta pesquisa vislumbra demonstrar possibilidades no trabalho de reparação psíquica, social, histórica, identitária e política de jovens privados de liberdade na socioeducação ancorando-se nas narratividades e na presença. Assim, enquanto objetivo geral busca-se analisar a função das narratividades e da presença no trabalho de reconstrução psíquica e social de jovens institucionalizados na medida socioeducativa de internação. Do ponto de vista metodológico, utiliza-se dos preceitos e ferramentas da etnografia, da socioclínica e da psicanálise para nortear o encontro das pesquisadoras com a instituição socioeducativa e com os jovens institucionalizados. Os registros da imersão em campo e da pesquisa-intervenção construída foram feitos em diário de campo e a partir das produções diversas dos jovens. Esta dissertação está dividida em 06 (seis) capítulos que narram os pilares da pesquisa; a permanência; a construção de vínculos e interstícios, a pluralidade de narratividades que emergiram e foram sendo percebidas e construídas na atuação implicada e aproximada com os jovens. As diversas formas de narrativas foram apresentadas em quatro campos de expressão: os traços e imagens que demarcam territorialidade nas paredes da instituição e nos corpos; as visuais (desenho e fotografia); as literárias, autobiográficas e poéticas; as orais/cantadas e audiovisuais. Assim, o narrar de jovens privados de liberdade mostrou-se de modo diverso, marcado por códigos e velamentos, o que demanda a construção de vínculos e uma presença marcada pela disponibilidade atreladas à leitura crítica da instituição socioeducativa para amparar um modo de narrar subjetivo, sensível e profundo. Na nossa trajetória de pesquisa, as narratividades diversas e em consonância com os desejos e sonhos dos jovens mostrou-se como um mediador basilar para o contato com as humanidades, os traumas, as histórias de vida e as identidades de jovens institucionalizados na socioeducação. Pelas narratividades, os jovens tidos como resto social conseguiram tecer e reconectar fios simbólicos acerca de suas trajetórias e potencialidades. Por fim, compreende-se que urge a construção de pesquisas, intervenções e práticas que qualifiquem as variadas formas de narrativas, para que essas sejam reparadoras em trajetórias de vida permeadas por fragilidades e traumatismos, e que possibilitem o desenvolvimento de uma escuta sensível e plural dos modos diversos de existir e ser dos jovens institucionalizados nas medidas socioeducativas. Socioclinical work with adolescents and young people in compliance with a socio-educational due a violent infraction calls on workers and researchers to build inventive, sensitive and repairing intervention devices. The contact with these young people is crossed by several issues (violence, tests, locations, resistance) and in an institutional territory that is not operationalized for care, listening, but for containment and subjective erasure. Considering a critical and experiential understanding, the path for the construction of this research aims to demonstrate possibilities in the work of psychological, social, historical, identity and political repair of young people deprived of their freedom in socio-education, anchoring themselves in narratives and presence. Thus, as a general objective, we sought to analyze the role of narratives and presence in the work of psychic and social reconstruction of institutionalized youth in the socio-educational. From a methodological point of view, it uses the precepts and tools of ethnography, socioclinics and Psychoanalysis to guide the meeting of researchers with the socio-educational institution and institutionalized young people. The records of the immersion in the field and the research-intervention built were made in a field diary and in the diverse productions of the young people. This dissertation is divided into 06 (six) chapters that narrate the research pillars; permanence; the construction of bonds and interstices, the plurality of narrativities that emerged and were being perceived and constructed in the implied and approximate performance with young people. The different forms of narratives were presented in four fields of expression: the lines and images that mark territoriality on the walls of the institution and on the bodies; visual (drawing and photography); literary, autobiographical and poetic ones; oral / sung and audiovisual. Thus, the narration of young people deprived of their freedom was shown in a different way, marked by codes and veiling, which demands the construction of bonds and a presence marked by availability linked to the critical reading of the socio-educational institution to support a subjective narrative mode, sensitive and deep. In our research trajectory, the diverse narratives and in line with the young people's desires and dreams proved to be a basic mediator for contact with the humanities, traumas, life stories and the identities of young people institutionalized in socio-education. Through narrativities, the young people considered as social rest managed to weave and reconnect threads about their trajectories and potential. Finally, it is understood that there is an urgent need for the construction of research, interventions and practices that qualify the various forms of narratives and that repair the life trajectories permeated by fragilities and traumatisms and that allow the development of a sensitive and plural listening in different ways of exist and be of young people institutionalized in socio-educational measures.