Introdução: A correcção cirúrgica da Tetralogia de Fallot (TF) permitiu obter uma excelente sobrevivência. A longo prazo após cirurgia, a maioria dos doentes tem dilatação do ventrículo direito (VD) e ± 10% necessitam de re-operação do tracto de saída do VD, por baixa capacidade funcional, arritmias ventriculares ou sintomas de insuficiência cardíaca (IC). Procuramos analisar os preditores de eventos adversos: dilatação moderada ou severa (mod-sev) do VD, IC e re-operação e morte cardiovascular. Métodos: Oitenta e oito doentes adultos com TF efectuaram correcção cirúrgica entre 1977 e 2001; 22 foram perdidos para seguimento; 66 foram seguidos em média 18 ± 6 anos, com análise de variáveis clínicas, electrocardiográficas e ecocardiográficas. A dilatação do VD existia quando o diâmetro por via apical, ao nível do anel tricúspide, era superior a 35 mm, sendo de grau moderado quando 50 e < 60 mm e de grau severo quando 60 mm. Resultados: De 66 doentes, 25 (37,9 %) foram submetidos a shunt sistémico-pulmonar (SP) aos 4 ± 5 anos. A idade da correcção foi 10 ± 8 anos (< 1 até 38 anos, mediana: 6,5 anos); 65 % com patch transanular; 91 % com patch no VD; 53 % com comissurotomia pulmonar. Registou-se IC classe II-III em 3 doentes; apenas um foi re-operado com implantação de válvula pulmonar biológica com sucesso. A prevalência de dilatação do VD foi de 97 % (n = 57/59), sendo mod-sev em 69 % (n = 36/52). Nos doentes com dilatação mod-sev do VD foi mais frequente o shunt SP prévio (18,8 vs 50,0 %; p = 0,03), o uso de patch transanular (37,5 vs 75,0 %; p = 0,01) e existência de QRS alargado (> 160 ms) (6,7 vs 45,7 %, p < 0,01). Estes doentes referiram com maior frequência palpitações (0 vs 22,2 %; p = 0,05), sem maior número de eventos arrítmicos documentados (18,8 vs 33,3 %; p = 0,28). A frequência cardíaca máxima no esforço foi inferior (86,2 ± 10,9 vs 79,9 ± 8,6; p = 0,04), mas o tempo de prova e a capacidade funcional foram semelhantes entre os grupos. O tempo de seguimento e o uso de patch no VD também foi semelhante. A colocação de patch transanular esteve associada à realização de shunt SP numa idade mais tardia (0,9 ± 0,7 vs 4,9 ± 5,7 anos; p = 0,01). O seu uso originou um maior grau de insuficiência pulmonar (III-IV) (22,7 vs 57,5 %; p = 0,01), QRS muito alargados (> 160 ms) (9,5 vs 41,0 %, p < 0,01), para além de maior dilatação do VD. Não houve mortes. Conclusão: O patch transanular e a realização de um shunt SP prévio são preditores de dilatação grave do VD no adulto, parecendo ser a insuficiência pulmonar o seu mecanismo fisiopatológico. Apesar disso o prognóstico é bom e os doentes têm boa capacidade funcional a longo prazo. Tetralogy of Fallot: Prognostic Factors after Surgical Repair Introduction and Objective: Corrective surgery for tetralogy of Fallot (TF) has led to excellent survival. However, several years after surgery, the majority of patients have right ventricular (RV) dilatation, and 10% will need reoperation of the RV outflow tract due to limited exercise capacity, ventricular arrhythmias or symptoms of heart failure (HF). Our aim was to identify predictive factors of adverse outcome: moderate to severe RV dilatation, HF, reoperation of the RV outflow tract and cardiac death. Methods: Eighty-eight adult patients with TF were operated between January 1977 and July 2001; 22 were lost to follow-up and 66 were followed for 18 ± 6 years. We analyzed clinical, electrocardiographic and echocardiographic variables. RV dilatation was considered to exist if the inlet measurement at end-diastole in 4-chamber apical view was more than 35 mm, being classified as moderate when 50 and < 60 mm and severe when 60 mm. Results: Of the 66 patients, 25 (37.9 %) had undergone previous palliative shunt (PS) at the age of 4 ± 5 years. Mean age at surgical correction was 10 ± 8 years (range: < 1 to 38 years; median: 6.5 years). Transannular patching was used in 65 % of patients, patch closure of a right ventriculotomy in 91 %, and in 53 % of patients a pulmonary commissurotomy was performed. At the end of follow-up, 3 patients were in NYHA class III-IV and one patient was successfully reoperated with implantation of a biological pulmonary valve. Prevalence of RV dilatation was 97 % (57/59), being moderate to severe in 69 % (36/52). In patients with moderate to severe RV dilatation we found previous PS (18.8 vs. 50.0 %; p = 0.03), transannular patching (37.5 vs. 75.0 %; p0.01) and wide QRS (160 ms) (6.7 vs. 45.7 %, p = 0.01) to be more frequent. These patients reported more palpitations (0 vs. 22.2%; p0.05), but there were no differences in arrhythmic events (18.8 vs. 33.3 %; p = 0.28); maximal heart rate on exercise was lower (86.2 ± 10.9 vs. 79.9 ± 8.6; p = 0.04), but exercise time and functional capacity were similar between the groups. Follow-up time and use of RV patching were similar. Transannular patching was associated with previous PS at an older age (0.9 ± 0.7 vs. 4.9 ± 5.7 years; p = 0.01), a higher grade of pulmonary regurgitation (III-IV) (22.7 vs. 57.5 %; p = 0.01), wide QRS (160 ms) (9.5 vs. 41.0 %, p = 0.01), and greater RV dilatation. No mortality was reported. Conclusion: Transannular patching and performance of previous PS were predictive factors of severe RV dilatation, and pulmonary regurgitation seems to be its physiological mechanism. Despite this, longterm prognosis is favorable and patients have good functional capacity.