INTRODUÇÃO: A correção cirúrgica das hérnias inguinais com telas sintéticas tornou-se a técnica de escolha pois reduziu drasticamente as taxas de recorrência. Entretanto, o uso da tela causa uma reação inflamatória tipo corpo estranho com intensa resposta fibrótica, com consequências variáveis sobre as estruturas anatômicas. Diversos modelos experimentais têm estudado os efeitos da herniorrafia com tela sobre o funículo espermático, mas os resultados são controversos. OBJETIVO: Avaliar o ducto deferente e testículo de ratos submetidos a inguinotomia bilateral e colocação de tela em 30 e 90 dias de pós-operatório. MÉTODOS: Foram utilizados 60 ratos, todos submetidos a inguinotomia bilateral por meio de uma incisão de 3cm de extensão para dissecção e exposição do funículo espermático. Neste momento, os animais foram randomizados em três grupos de estudo com 20 animais cada, de acordo com o tratamento realizado: 1) Grupo Controle: inguinotomia e dissecção do ducto deferente; 2) Grupo Tela-Ducto Deferente (Tela-DD): inguinotomia, dissecção do ducto deferente e colocação de tela sobre o ducto deferente; e, Grupo Tela-Funículo Espermático (Tela-FE): inguinotomia, dissecção do ducto deferente e colocação de tela sob a porção proximal do funículo espermático. Em 30 e 90 dias de pós-operatório, os animais foram anestesiados para ressecção em bloco da região inguinal bilateralmente e dos testículos. O ducto deferente foi isolado e analisado apenas a região que se encontrava em contato com a tela. Foram realizadas as seguintes analises: 1) Achados macroscópicos (aderências); 2) Morfológica (descrição da morfologia das estruturas, presença de macrófagos, linfócitos, reação de corpo estranho, neovascularização e graduação da inflamação); 3) Morfométrica (medida da área da luz e espessura da parede do ducto deferente); 4) Espermatogênese; 5) Fibrose (quantificação das fibras colágenas tipo I e III); e 6) Imunohistoquímica para apoptose (caspase-3 clivada e TUNEL) e proliferação celular (Ki-67). RESULTADOS: Nos grupos com tela havia aderências envolvendo a tela e estruturas adjacentes, que foram facilmente liberadas para ressecção das peças. O implante da tela de PP não alterou a morfologia do ducto deferente e testículo, assim como a espermatogênese encontrava-se preservada. No ducto deferente houve redução do diâmetro da luz (30 dias), aumento da espessura da parede (90 dias), aumento do colágeno tipo III e da proliferação celular (30 e 90 dias) (p < 0,05) sem alteração no colágeno tipo I e apoptose (p > 0,05). No testículo a apoptose foi semelhante entre os grupos com tela (p > 0,05) e a proliferação celular maior nos grupos com tela (p < 0,05). CONCLUSÕES: Analisados em conjunto, nossos achados mostram que a tela de PP, seja contato direto ou não com as estruturas do funículo espermático, induz alterações transitórias sem impacto negativo na funcionalidade do ducto deferente e testículo Introduction: Several experimental models have studied the effects of herniorrhaphy with mesh on the spermatic cord but the results are controversial. This study aimed to evaluate the vas deferens and testis of rats submitted to bilateral inguinotomy and polypropylene (PP) mesh placement 30 and 90 days postoperatively. Study design: Sixty rats were used, all submitted to bilateral inguinotomy by means of a 3cm incision for spermatic funicular dissection and exposure. At this time, the animals were randomized into three study groups of 20 animals each, according to the treatment performed: 1) Control: inguinotomy and dissection of the vas deferens only; 2) Mesh-Ductus Deferens (Mesh-DD): mesh placement over the vas deferens; and, Mesh-Spermatic Funiculus (Mesh-SF): mesh placement under the proximal portion of the spermatic funiculus. At 30 and 90 days postoperatively, the animals were anesthetized for block resection of the bilateral inguinal region and the testicles. The following analyses were performed: macroscopy, morphology, vas deferens morphometry (lumen area and wall thickness) and quantification of type I and III collagen fibers, spermatogenesis, apoptosis (cleaved caspase-3 and TUNEL) and cellular proliferation (Ki67). Results: PP mesh placement, whether or not in direct contact with the spermatic funicular structures, preserved the spermatogenesis and did not alter the vas deferens morphology or the testicle. In the ductus deferens, there was a reduced luminal area (30 days), increased wall thickness (90 days), and increased type III collagen and cell proliferation (30 and 90 days) (p < 0.05) with no change in collagen type I or apoptosis (p > 0.05). In the testicle, apoptosis was similar between the mesh groups (p > 0.05), and cell proliferation was greater in the mesh group in which the mesh was placed in direct contact with the ductus deferens (p < 0.05). Conclusions: Taken together, our findings show that the PP mesh, whether or not in direct contact with spermatic funicular structures, induces transient changes without a negative impact on vas deferens and testicular function