Os primeiros meses de vida são críticos para o desenvolvimento normal do sistema visual. Nesse período, os recém-nascidos desenvolvem habilidades visuais, algumas delas presentes ao nascimento, que serão refinadas durante a infância e utilizadas ao longo de toda a vida. A literatura mostra que em recém-nascidos as habilidades visuais, como fixação visual e acuidade visual, são desenvolvidas em períodos diferentes. Embora o desenvolvimento da acuidade visual seja semelhante entre recém-nascidos prematuros e termos quando se considera a idade corrigida para a prematuridade (IGc), ou seja, o tempo em semanas que o recém-nascido teria se nascesse com 40 semanas, não se sabe ao certo como se desenvolvem outras habilidades que dependem do sistema visual nesses recém-nascidos. O presente estudo, de caráter observacional, avaliou o desempenho visual através da medida do tempo de fixação visual para a face humana, baseado nos estímulos desenvolvidos por Fantz - face construída com padrões internos semelhantes à face humana (FC) e face desconstruída com padrões internos que não formavam face humana (FD), mas com contraste e luminância idênticos à face construída. Foram incluídos no estudo apenas os recém-nascidos com acuidade visual de resolução de grades, medida através dos cartões de Teller, dentro do esperado para a idade corrigida. Os participantes foram 50 recém-nascidos, 21 (idade média = 13,1 ± 7,1 semanas; peso ao nascimento = 3109 ± 468,9 g), nascidos a partir de 37 semanas de gestação (termo; idade média = 39,1 ± 1,2 semanas), e 29 (idade média = 11,1 ± 6,8 semanas; peso ao nascimento = 1544,3 ± 505,5g), nascidos antes de 37 semanas de gestação (prematuros; idade média = 31,7 ± 2,6 semanas). Os recém-nascidos foram avaliados no Setor de Neonatologia e Pediatria do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (HU-USP) e no Serviço de Neonatologia e Pediatria do Hospital das Clínicas de São Paulo (HCFMUSP). Durante a avaliação os recém-nascidos eram posicionados no bebê conforto, semi-elevados frente a um anteparo que impedia visualização do entorno para o teste de fixação das características faciais e no colo do responsável durante o teste de acuidade visual de Teller. O tempo médio de fixação à FC (termo = 56,9 ± 54,4 segundos; prematuros = 49,3 ± 42,8 segundos) e à FD (termo = 34,8 ± 41,5 segundos; prematuros = 44,1± 31,1 segundos) foi semelhante para recém-nascidos a termo e prematuros (FC: p = 0,723 e FD: p = 0,637). Entretanto, o tempo de fixação à FC foi estatisticamente superior (p = 0,014) ao tempo de fixação à FD para os recém-nascidos a termo, enquanto prematuros apresentaram tempos semelhantes (p = 0,75). A atenção às características faciais humanas possui papel fundamental no contexto diário dos recém-nascidos, pois influencia o desempenho de algumas habilidades que serão desenvolvidas posteriormente, como a comunicação e a interação visual, o reconhecimento de objetos, a resposta social e a orientação espacial. Os resultados do presente estudo mostram que contrariamente aos recém-nascidos a termo cuja preferência pela face humana construída é estatisticamente maior que pela face desconstruída, recém-nascidos prematuros não apresentam preferência pela face humana construída. Os achados indicam os efeitos da prematuridade na fixação à face humana e ressaltam a importância de se identificar alterações em habilidades que poderiam ser estimuladas precocemente The first months of life are critical for the normal development of the visual system. In this period, newborns develop visual skills, some of which are present at birth, which will be refined during childhood and used throughout the life. The literature shows that in newborns some visual abilities, such as visual fixation and visual acuity, are developed in different periods. Although the development of visual acuity is similar between preterm newborns and terms when considering the corrected age for prematurity (the time in weeks that the newborn would have been born at 40 weeks), the development of other abilities that depend on the visual system in these preterm newborns is unknown. The present observational study evaluated visual performance by measuring the time of visual fixation to the human face, based on the Fantz real face with internal patterns similar to the human face and scrambled face with internal patterns that do not form a face, but with contrast and luminance identical to the real face. Only newborns with visual acuity as expected for the corrected age, as measured by Teller cards, were included in the study. Participants were 50 infants, 21 (mean age = 13.1 ± 7.1 weeks, birth weight = 3109 ± 468.9g) born after 37 weeks gestation (terms, mean age = 39.1 ± 1.2 weeks), and 29 (mean age = 11.1 ± 6.8 weeks, birth weight = 1544.3 ± 505.5g), born before 37 weeks gestation (preterms, mean age = 31, 7 ± 2.6 weeks). The newborns were evaluated in the Neonatology and Pediatrics Sector of the University Hospital (HU-USP) and in the Neonatology and Pediatrics Service of the Hospital das Clinicas de São Paulo (HCFMUSP) at the University of São Paulo. During the evaluation the newborns were placed in the comfort baby, semi-elevated against a bulkhead that prevented visualization of the surroundings to test the time of fixation for the facial characteristics and in the lap of his/her responsible during the visual acuity test. The mean fixation time to the real face (term = 56.9 ± 54.4 seconds, premature = 49.3 ± 42.8 seconds) and to the scrambled face (term = 34.8 ± 41.5 seconds, preterm = 44.1 ± 31.1 seconds) was similar for term and preterm newborns (p = 0.723 and FD: p = 0.637). However, the fixation time to the real face was statistically superior (p = 0.014) to the fixation time to the scrambled face for term newborns, whereas preterm infants presented similar times (p = 0.75). Fixation to human facial features plays a key role in the daily context of newborns, as it influences the performance of some skills that are in development, such as communication and visual interaction, object recognition, social response and spatial orientation. The results of the present study show that, contrary to the term newborns whose preference for the real human face is significantly higher than the scrambled face, preterm newborns have no preference for the real human face. The findings indicate the effects of prematurity on fixation to the human face and emphasize the importance of identifying changes in abilities that could be early stimulated