Introdução: Os parasitas intestinais são responsáveis por morbilidade em crianças de todo mundo, em especial nos países de baixa renda. Os estudos têm vindo a demonstrar o seu impacto negativo no estado nutricional e o seu contributo na etiologia da anemia. Pretendeu-se determinar a prevalência de parasitas intestinais em crianças dos 5 aos 12 anos de idade, a frequentar a escola primária no Bairro Lucrécia, no Lubango, Angola, e explorar a sua relação com o estado nutricional e anemia. Material e Métodos: Foi efectuado um estudo observacional, transversal e analítico, cuja colheita de dados se realizou entre Setembro e Outubro de 2010. A amostra foi constituída por 328 crianças. Realizou-se a detecção microscópica de parasitas intestinais e identificação molecular dos parasitas Entamoeba histolytica e Entamoeba dispar. O estado nutricional foi avaliado através dos z-scores do peso para a idade, da estatura para a idade e do IMC para a idade. A concentração de hemoglobina foi determinada através de um hemoglobinómetro portátil. Resultados: A prevalência de parasitas intestinais patogénicos foi de 44,2%, destacando-se Ascaris lumbricoides com 22,0%, Giardia lamblia com 20,1% e Hymenolepis nana com 8,8%. Na microscopia foi encontrada uma prevalência de Entamoeba histolytica/dispar de 13,7%, tendo sido posteriormente identificada, por diagnóstico molecular, uma prevalência de 13,1% para E. dispar e 0,3% para E. histolytica. A prevalência de baixo peso, subnutrição crónica e subnutrição aguda foi de, respectivamente, 36,1%, 41,5% e 30,2%. A probabilidade das crianças terem subnutrição crónica ou subnutrição aguda aumentou com o facto de terem 10 anos ou mais. As crianças co-infectadas por protozoários e helmintas apresentaram uma maior probabilidade de terem subnutrição crónica. A prevalência de anemia foi de 21,6%, encontrando-se a mesma significativamente associada à infecção por H. nana. A probabilidade das crianças estarem anémicas aumentou com o facto de terem menos de 10 anos. Adicionalmente nas crianças desparasitadas com albendazol ou mebendazol há 2 meses e meio ou menos verificou-se uma maior prevalência de infecção por G. lamblia (28,6%) em comparação com as desparasitadas há mais de 2 meses e meio (13,7%), tendo sido essa diferença estatisticamente significativa. Discussão e Conclusões: Emergiu deste estudo a importância da co-infecção com helmintas e protozoários no aumento da probabilidade das crianças terem subnutrição crónica e foi encontrada uma associação estatisticamente significativa entre a infecção por H. nana e a anemia. Será importante desenhar futuros estudos que investiguem o poder patogénico do H. nana e o modo como é efectuada a desparasitação com albendazol ou mebendazol, pois ao ser eficaz contra a infecção por A. lumbricoides, poderá aumentar a susceptibilidade à infecção por G. lamblia. Introduction: The intestinal parasites are responsible for morbidity in children worldwide, especially in low income countries. Studies have demonstrated their negative impact on nutritional status and their contribution in the etiology of anemia. The aim of the present study was to determine the prevalence of intestinal parasites in children 5 to 12 years old, attending primary school in the community of Lucrécia, Lubango, Angola, and to explore its relationship with nutritional status and anemia. Material and Methods: An observational, cross-sectional and analytical study was conducted. Data collection took place between September and October 2010. The sample was composed of 328 children. Microscopic detection of intestinal parasites and the molecular identification of parasites Entamoeba histolytica and Entamoeba dispar was performed. Nutritional status was assessed using the z-scores of weight for age, height for age and BMI for age. Hemoglobin concentration was measured using a portable hemoglobin system. Results: The prevalence of pathogenic intestinal parasites was 44.2%, standing out Ascaris lumbricoides with 22.0%, Giardia lamblia with 20.1% and Hymenolepis nana with 8.8%. The microscopic analysis revealed a prevalence of Entamoeba histolytica/dispar of 13.7%, and was subsequently identified, by molecular diagnosis, a prevalence of 13.1% for E. dispar and 0.3% for E. histolytica. The prevalence of underweight, chronic malnutrition and acute malnutrition was respectively 36.1%, 41.5% and 30.2%. The chance of children having chronic or acute malnutrition increased in those having 10 years or more. Children co-infected with protozoa and helminths had a higher chance of having chronic malnutrition. The prevalence of anemia was 21.6%, and we found a statistical significant association with infection by H. nana. The chance of children having anemia increased in children younger than 10 years. Additionally, prevalence of G. lamblia infection was higher in children dewormed with albendazole or mebendazole in the last 2½ months (28.6%) in comparison with children dewormed over 2½ months (13.7%), and the difference was statistically significant. Discussion and Conclusions: This study shows the importance of the co-infection with helminths and protozoa for the increased chance of children having chronic malnutrition. A statistically significant association between infection by H. nana and anemia was found. This work stresses the importance of future studies to investigate both the pathogenic role of H. nana and how the deworming with albendazole or mebendazole, while being effective against the infection by A. lumbricoides, may increase susceptibility to infection by G. lamblia. Apoio financeiro da Sonangol no âmbito das suas bolsas de estudo