Objetivos: Estudos epidemiológicos recentes mostram que o uso de Cannabis sativa (maconha) durante a gravidez é cada vez mais frequente. Estudos experimentais evidenciam que o uso da maconha durante a gestação afeta o desenvolvimento fetal, peso ao nascer e o desenvolvimento infantil. Os receptores canabinoides estão presentes na retina de camundongos desde o nascimento. Os efeitos da exposição de gestantes à droga sobre a saúde fetal, especialmente sobre a retina em desenvolvimento, ainda não são bem compreendidos. Considerando que o período pré-natal é potencialmente sensível no desenvolvimento normal da retina, o objetivo deste estudo foi avaliar se os camundongos nascidos de mães expostas à fumaça da queima da Cannabis inalada durante a gestação apresentaram alterações morfológicas na retina ao longo da vida em comparação aos camundongos cujas mães não foram expostas à fumaça da queima da Cannabis. Métodos: Parâmetros biométricos fetais foram avaliados por ultrassonografia, dopplervelocimetria e testes comportamentais em neonatos e jovens adultos. A exposição das gestantes foi realizada através de um aparato para geração e inalação de fumaça capaz de mimetizar o uso recreacional de Cannabis em humanos. Dez fêmeas grávidas de camundongos BALB/c foram expostas à fumaça da queima de cigarros de Cannabis sativa a partir do 5,5° dia gestacional (DG) (fase pós implantacional) até o 17,5° DG (grupo Cannabis, CAN) e dez fêmeas foram expostas à inalação de ar filtrado (grupo controle, AF). Para avaliar as alterações estruturais in vivo da retina da prole, foram realizadas tomografia de coerência óptica de domínio espectral (Heildelberg Engineering, Alemanha) em 20 animais no 60º dia (camundongo adulto jovem), 120º, 200º e 360º dias pós-natal (DPN) (camundongo idoso) sob sedação. Trinta e sete camundongos de ambos os grupos foram sacrificados nos 20º, 60º ou 360º DPN para estereologia da retina (cálculo do volume fracionário das camadas da retina, volume de cada camada retiniana e volume total da retina) e microscopia de luz. Resultados: Os dados tomográficos mostraram que os animais do grupo CAN apresentaram diminuição de 17% na espessura total da retina no 120º DPN (p=0,005) quando comparados aos animais do grupo AF e essa diferença foi devida à redução de 21% na espessura na retina externa (p < 0,001). Na análise de cada camada da retina, os animais do grupo CAN apresentaram aumento na espessura da camada de segmentos internos e externos dos fotorreceptores em comparação ao grupo AF (p < 0,001). Na análise volumétrica pela estereologia da retina, os animais do grupo CAN apresentaram aumento de 89% do volume da camada de segmentos internos e externos dos fotorreceptores em relação ao grupo AF (p=0,001) e normalização no 360º DPN (p=0,001). Na análise da retina sob microscopia de luz, os animais do grupo CAN apresentaram espessamento de 64% na camada de segmentos internos e externos dos fotorreceptores no 360º DPN em relação ao grupo AF (p=0,041). Conclusão: A exposição materna durante a gestação à fumaça da queima da Cannabis sativa altera o desenvolvimento normal da retina da prole e esse efeito se mantém mesmo na fase adulta dos camundongos. Essas alterações são evidências experimentais de que os indivíduos cujas mães usaram maconha durante a gestação devem ser acompanhados por oftalmologista mais precoce e mais regularmente que os indivíduos cujas mães não usaram maconha Objectives: Recent epidemiologic studies have shown that the use of Cannabis sativa (marijuana) during pregnancy is increasing. Research into the impact of marijuana use during pregnancy has focused primarily on brain development and cognitive outcomes in the offspring. Cannabinoid receptors are present in the retina in mice since birth. Little is known about the impacts of maternal cannabis use on the retinal development and its potential postnatal consequences. Considering that the pre-natal period is potentially sensitive in the normal development of the retina, the aim of this study is to evaluate if the offspring of pregnant mice exposed to the smoke of Cannabis during pregnancy presents morphologic retinal changes from birth on in comparison to the offspring of pregnant mice that were not exposed to the smoke of the Cannabis during pregnancy. Methods: Fetal biometric parameters were evaluated by ultrasonography, dopplervelocimetry and behavioral tests in neonates and young adults. Twenty pregnant BALB/c mice were exposed (nose-only) daily to either marijuana smoke (10 animals, CAN group) or filtered air (10 animals, FA group) from gestational day 5 to 18. Exposure occurred in a smoke-generating and inhalation apparatus capable of mimicking the use of Cannabis in humans according to dose and exposure. In vivo retinal thickness was assessed by spectral domain optical coherence tomography (SD-OCT; Spectralis, Heidelberg Engineering, Germany) on days 60 (adult young mice), 120, 200, and 360 (old mice) under anesthesia. Fifty seven mice of both groups were sacrificed on days 20, 60, and 360 for stereology of the retina (fractionary volume of the retinal layers, volume of each retinal layer, and of the total volume of retina) and light microscopy. Results: SD-OCT findings showed that the animals of CAN group presented 17% decrease in the total thickness of the retina on day 120 (p=0.005) when compared to animals of FA group and it was secondary to the 21% thinning of the external retina (p=0.001). The analysis of each retinal layer showed that mice of the CAN group presented thickening of the internal and external segments of the photoreceptors in comparison to animals from the FA group (p < 0.001). In the volumetric analyses by retinal stereology, the CAN group presented an 89% increase of the internal and external segments of the photoreceptors on day 60 compared to the FA group (p=0.001) and normalization on day 360 (p=0.001). Light microscopy showed that animals of the CAN group presented 64% thickening of the internal and external segments of the photoreceptors on day 360 compared to group FA (p=0,041). Conclusion: Maternal exposure to the smoke of Cannabis sativa during pregnancy causes structural changes in the retina of the offspring that continue even with the aging of the mouse. These are experimental evidences that suggest that children and young adults born from mothers who used to smoke marijuana during pregnancy may require clinical care earlier and more frequent than the non-exposed population