Joffé, George, Misra, Amalendu, Pires, Nuno Lemos, Fuente Cobo, Ignacio, Dias, Alexandra Magnólia, Pinto, Ana Santos, and Reis, Bruno Cardoso
O que é o Inimigo? Apesar do facto de as organizações envolvidas no extremismo e na violência serem bem conhecidas, tal como as justificações ideológicas relativas às ações que realizam, muito menos entendida pela maioria dos observadores são os fundamentos individuais dos membros que as apoiam e executam. A suposição convencional comum assenta no argumento de que o comportamento extremista está enraizado em doutrinas derivadas do corpus islâmico e da sua suposta propensão para a violência. Esta análise procura demonstrar que uma explicação mais abrangente e satisfatória pode estar relacionada com fatores históricos, sociais e psicológicos e que, além disso, a atual onda de “terrorismo islâmico” difere pouco das ondas precedentes de violência extremista que enfrentaram e tentaram substituir o Estado. Teorizando a Violência Performativa: Islamismo Radical e Decapitações em Perspetiva O ensaio explora uma das mais decisivas e profundas variantes da violência corporal – a decapitação. Em tempos, comum a todas as culturas, esta forma de punição desapareceu na maioria das sociedades modernas. No entanto, existem algumas sociedades que incentivam a decapitação por motivos religiosos ou culturais. O estu- do procura examinar e compreender os propósitos autóctones e os significados culturais do ritual da decapitação. A preocupação central é: porquê decapitar? Muitas vezes é difícil e quase impossível obter uma resposta direta da cultura ou do indivíduo que é o coração deste acto sangrento. Propõe-se uma linha argumentativa que problematiza a decapitação no contexto contemporâneo. Concomitantemente, examinam-se várias perspetivas teóricas e filosóficas que ajudam a enquadrar este fenómeno. De acordo com a avaliação empírica, confinamos a discussão a dois casos contemporâneos bem conhecidos: os casos esporádicos de decapitação por parte dos talibãs no Afeganistão e os métodos de execução pública conduzidos pelos militantes do (autodenominado) Estado Islâmico (EI). Este artigo tem dois objetivos principais. Primeiro, apresentar os movimentos jiadistas em quatro grandes grupos: a Al-Qaeda, o Daesh, os independentes e os híbridos. Segundo, diferenciar a ação dos grupos em jiadismo violento e não violento. A análise junta a geopolítica, o caráter interno dos Estados, a transnacionalidade do fenómeno e a multiplicidade de critérios de classificação, segun- do as três dimensões propostas: ideologias, estratégias e objetivos. Jihadismo no Sahel: a Expansão da Ameaça Obscura O Sahel é uma região extraordinariamente complexa na qual as organizações extremistas coexistem e interagem em diferentes graus com organizações criminosas, milícias étnicas, grupos armados e autoridades governamentais, criando um ambiente de insegurança que dificulta a ação do controlo dos governos sobre o seu território, ao mesmo tempo que facilita a expansão da mensagem jihadista e da insurgência armada. Um elemento-chave na avaliação do futuro cenário de segurança na região é dado pela situação na Líbia, um país que parecia destinado a tornar-se uma base de retaguarda e apoio aos grupos que combatiam na Síria e no Iraque, bem como um novo território de jihad para o Daesh no norte de África. A conquista de Sirte em dezembro de 2016 abre a possibilidade de que os restantes grupos jihadistas vencidos, juntamente com os combatentes que conseguirem sobreviver aos combates na Síria e no Iraque, se mudem para o Sahel tornando-se este no teatro principal para as operações jihadistas internacionais. As presentes circunstâncias tornam necessário examinar a evolução dos grupos extremistas no Sahel e o complicado jogo político, económico e militar em que estão atualmente envolvidos, para que possamos identificar as suas estratégias, analisar a sua resiliência e avaliar as suas possibilidades de sobrevivência à ação concertada dos governos regionais e da comunidade internacional, empenhados em evitar que o centro de gravidade da ação jihadista se mova para esta região complexa. Processos de Radicalização no Sahel e a Evolução dos Movimentos de Militantes Islamistas no Mali (2012-2018) O artigo situa a trajetória dos vários movimentos islamistas no Mali desde a crise de 2012. O argumento central desafia as explicações monocausais do terrorismo que apresentam a religião, e em particular o Islão, como a sua principal causa. Em contraste, o artigo analisa o contexto local para identificar as múltiplas clivagens que permeiam a sociedade do Mali. O enquadramento histórico permanece essencial para entender as tensões e rivalidades nas várias interpretações do Islão no Mali entre os denominados moderados/tradicionalistas, reformistas e os jihadistas salafi. Uma análise das rivalidades intra-étnicas, bem como inter-étnicas em relação com a economia política da região do Sahara-Sahel é central para compreender o padrão volátil de formação de alianças, bem como os padrões de amizade e inimizade que se afiguram como inesperados à partida. Finalmente, tanto as respostas do Estado, como dos atores regionais e externos reconfiguraram a paisagem política e religiosa. O processo em curso de constituição de ordens políticas divergentes continua a desafiar o Estado e influencia a perpetuação do extremismo violento na região. Este artigo analisa o impacto e evolução da ameaça jihadista takfiri no Médio Oriente e Magrebe, tendo em conta a perda pelo autoproclamado Califado do Daesh do seu proto-estado territorial. Tendo em conta as dinâmicas observadas, argumenta-se que apesar da estratégia de territorialização desenvolvida pelo Daesh ter falhado, em resultado da derrota militar sofrida nos territórios do Iraque e da Síria, persistem fatores que explicam a resiliência do movimento, designadamente: a fragilidade dos Estados na sua eficácia e legitimidade; a existência de “vazios de poder” decorrentes de ambientes de conflitualidade; e a marginalização de setores das comunidades muçulmanas, em particular os mais jovens. Perante uma derrota territorial, o Daesh parece procurar evoluir na estrutura organizacional e estratégia operacional, reorientando-se para uma ação violenta descentralizada em detrimento do controlo de território. Esta transformação poderá resultar num agravamento da competição entre grupos de matriz jihadista takfiri e até originar novos movimentos, em resultado de cisões, ou a reorganização dos já existentes, sem que isso signifique necessariamente o desaparecimento desta ameaça violenta. info:eu-repo/semantics/publishedVersion