A doença renal crônica é o distúrbio metabólico decorrente de declínio progressivo e irreversível da função renal. A fase final dessa doença é conhecida como insuficiência renal crônica (IRC) que demanda o início da terapia renal substitutiva, geralmente, a hemodiálise (HD). O manejo clínico odontológico de pessoas com IRC pode representar um desafio para o cirurgião-dentista, especialmente quando são realizados procedimentos odontológicos invasivos. Apesar da escassez de estudos e de evidências clínicas e científicas que investiguem o risco de complicações pós-exodônticas em pessoas com IRC, muitos autores ainda recomendam aos dentistas o uso de antibióticos profiláticos nesses indivíduos. Por isso, o objetivo desse estudo foi avaliar clínico e radiograficamente o processo de reparação alveolar pós-exodôntica em indivíduos com IRC submetidos à HD, comparativamente a um grupo controle sem IRC, sem a prescrição do antibiótico profilático. Trata-se de um estudo observacional prospectivo que incluiu 48 indivíduos com IRC em HD para compor o grupo de estudo (GE) e 29 indivíduos controles sem IRC para compor o grupo controle (GC). O mesmo cirurgião dentista aplicou o questionário sobre a história médica, realizou o exame clínico odontológico, solicitou exames laboratoriais (hemograma, coagulograma, ureia, creatinina, cálcio total, fosfatase alcalina e paratormônio). Todos os participantes foram submetidos à exodontias de dentes erupcionados, sempre pelos mesmos cirurgiões dentistas, sem uso de antibiótico profilático, durante o período de outubro de 2016 a dezembro de 2018. As avaliações pós-operatórias foram realizadas 3, 7, 21 e 60 dias após as exodontias. No GE, foram realizadas exodontias em 65 tempos cirúrgicos distintos, totalizando 87 extrações. No GC, foram realizadas 76 exodontias em 36 tempos cirúrgicos. No GE, houve um atraso significativo na epitelização da ferida cirúrgica, observada aos 21 dias após a exodontia (29,9% versus 3,9%, p < 0,001) e 2 complicações hemorrágicas pós-operatórias. Não foram observadas complicações de origem infecciosa em nenhum caso de nenhum grupo. O atraso na epitelização do alvéolo no GE foi significativamente associado a uma menor contagem de neutrófilos e maior tempo de HD (p < 0,05). A presença de espículas ósseas na região do alvéolo, 21 dias após a exodontia foi associada a valores menores de cálcio sérico (p < 0,05). Na avaliação radiográfica, nos indivíduos do GE, observamos menor densidade óssea medida pela intensidade de pixels e menor complexidade da estrutura óssea na dimensão fractal aos 60 dias após a exodontia, comparado ao GC (p < 0,001). Concluiu-se que a reparação alveolar após exodontias em indivíduos com IRC submetidos à hemodiálise é similar a dos controles, havendo apenas atraso na epitelização da ferida cirúrgica que não impactou na reparação final do alvéolo. Pode se esperar em alguns casos a ocorrência de eventos hemorrágicos em indivíduos com IRC em HD, mas esses eventos não foram estatisticamente mais frequentes nesse grupo em comparação ao grupo controle. A neoformação óssea alveolar após exodontias em indivíduos com IRC difere quanto a diminuição da densidade e da complexidade das estruturas ósseas. Nossos resultados permitem inferir que a IRC e o tratamento de HD não representam um fator de risco para ocorrência de complicações infecciosas pós-exodônticas, o que não suporta o uso sistemático de profilaxia antibiótica para esses indivíduos, antes de extrações dentárias. Chronic kidney disease is the metabolic disorder resulting from progressive and irreversible decline of the renal function. The final stage of this disease is known as chronic kidney failure (CKF) that demands the start of renal replacement therapy, usually hemodialysis (HD). The clinical management of people with CKF can represent a challenge for dentists, especially when performing invasive dental procedures. Despite the lack of studies and clinical or scientific evidences that investigate the risk of post-extraction complications in people with CKF, several authors still recommend that dentists prescribe the use of prophylactic antibiotics to these individuals. Thus, our study aimed to assess clinically and radiographically the process of post-extraction socket healing in individuals with CKF submitted to HD, comparing to a control group without CKF, without the prescription of the prophylactic antibiotic. It was a prospective observational study that included 48 individuals with CKF in HD to compose the study group (SG) and 29 control subjects without CKF to form the control group (CG). The same dentist applied the questionnaire on medical history of the patient, conducted the clinical odontological exam and requested laboratory tests (hemogram, coagulogram, urea, creatinine, total calcium, alkaline phosphatase and parathyroid hormone). All participants were submitted to exodontia of erupted teeth, always by the same dental surgeons, without the use of prophylactic antibiotics, during the period from October 2016 to December 2018. Postoperative assessments were conducted 3, 7, 21 and 60 days after the extractions. On the SG, teeth extractions were performed in 65 distinct surgical times, totaling 87 extractions. On the CG, 76 extractions were performed in 36 surgical times. In SG there was a significant delay in surgical wound epithelization, which is observed 21 days after exodontia (29.9% versus 3.9%, p