1. PANCITOPENIA SEVERA SECUNDÁRIA A TRATAMENTO PARA TOXOPLASMOSE CONGÊNITA: RELATO DE CASO
- Author
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BCFV Pires, MTB Alves, ESS Serafim, NA Brito, CBA Medeiros, RD Souto, JLC Marinho, and ECC Freitas
- Subjects
Diseases of the blood and blood-forming organs ,RC633-647.5 - Abstract
Introdução: O tratamento para toxoplasmose congênita (TC) pode cursar com supressão da medula óssea e tem potenciais efeitos como: neutropenia severa, anemia aplástica, trombocitopenia e hemólise. Desse modo, o atendimento a crianças em uso da terapia para TC na unidade de emergência deve despertar o alerta para a possibilidade de reações adversas graves. Descrição do caso: Paciente do sexo masculino, 45 dias de vida, admitido em UTI pediátrica (UTIP) com quadro de insuficiência respiratória aguda. Nos exames admissionais notou-se pancitopenia grave (hemoglobina 5,9 g/dL, leucócitos 1220/mm³e plaquetas 8.000/mm³). Na anamnese, a mãe revelou uso regular de pirimetamina, sulfadiazina e ácido folínico, em virtude do diagnóstico de TC. Nasceu a termo, sem intercorrências perinatais e na 2ªsemana de vida iniciou vômitos e convulsões, procurando o pronto-socorro diversas vezes, sem investigação da queixa. Devido à manutenção do quadro, procurou a maternidade. A análise de líquor e o ultrassom transfontanelar foram normais, sendo liberado com fenobarbital e indicação de manter as medicações para TC. Após a alta, manteve vômitos e iniciou diarreia, procurando novamente o pronto-socorro do município. Há 03 dias da admissão, evoluiu com tosse, espirros, piora dos vômitos e desconforto respiratório, sendo encaminhado para o hospital terciário da região e depois para a UTIP. Optou-se por suspender o tratamento para TC e manter suporte, tendo como hipótese diagnóstica bronquiolite associada à reação adversa grave às medicações para TC. O paciente necessitou de intubação, porém evoluiu com resposta clínica e laboratorial importantes. Durante a internação apresentou nova análise de líquor e tomografia de crânio normais e IgG para T. gondii em queda, com IgM novamente não reagente, reforçando a conduta de manter suspenso o tratamento para TC. Discussão: De acordo com os critérios de 2022 do MS, as crianças assintomáticas com IgG reagente, IgM e/ou IgA não reagentes e exame clínico, fundo de olho e USG transfontanelar normais devem repetir sorologias mensalmente e ter conduta expectante. O que chamou a atenção, neste caso, foi a indicação equivocada do tratamento, o qual levou ao desenvolvimento de reação importante, caracterizando iatrogenia. A pirimetamina inibe a atividade da diidrofolato redutase, enzima envolvida na utilização do folato para síntese de DNA. Logo, a redução dos seus níveis repercute na hematopoiese. A neutropenia acentuada gerada no paciente pode ter contribuído para a infecção clinicamente grave pelo rinovírus, uma vez que a intensidade de uma infecção também depende da imunidade do hospedeiro. Outros efeitos colaterais descritos também são compatíveis com o quadro apresentado pela criança desde o início do tratamento: vômitos, tremores e convulsões. A melhora clínica dramática após a suspensão das medicações reforça esta discussão. Conclusão: Devido à possibilidade de reações adversas graves às medicações para tratamento de TC, deve-se observar com atenção os critérios para diagnóstico e indicação de tratamento a fim de evitar iatrogenia ameaçadora de vida.
- Published
- 2024
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