Estudo 1 Parâmetros da marcha, mobilidade funcional e risco de queda em indivíduos com glaucoma primário de ângulo aberto inicial e moderado: um estudo transversal. O Glaucoma Primário de Ângulo Aberto (GPAA) destaca-se por ser uma das principais causas de cegueira irreversível no Brasil e no mundo. É tradicionalmente conhecido como uma doença que cega silenciosamente porque durante os seus estágios iniciais é geralmente assintomática. Contudo, achados recentes indicando deterioração precoce da qualidade visual nos estágios inicial e moderado têm sido evidenciados. Questiona-se se a disfunção visual dos estágios inicial e moderado poderiam influenciar negativamente em desfechos funcionais e de quedas em indivíduos com GPAA. O objetivo do presente estudo observacional foi investigar a influência do GPAA em estágios inicial e moderado nos parâmetros da marcha, mobilidade funcional e risco de queda em indivíduos adultos comunitários. Foram analisados dados de 67 participantes divididos em um grupo com GPAA (33) e um grupo controle (34). O risco de queda foi medido utilizando a forma curta do Physiological Profile Assessment constituído dos seguintes testes: sensibilidade ao contraste, propriocepção, força muscular de extensores de joelho, tempo de reação manual e oscilação postural sobre a espuma com olhos abertos. Parâmetros temporais e espaciais da marcha velocidade, cadência, comprimento do passo, base de suporte, tempo de oscilação, tempo de apoio e tempo de duplo apoio foram medidos usando o sistema GAITRite®. Medidas funcionais foram obtidas com o teste Timed Up and Go (TUG), o teste Sentado para de Pé por cinco repetições e o Índice de Marcha Dinâmica. Os dados dos grupos GPAA e controle foram apresentados como média e desvio-padrão para as variáveis contínuas e frequência absoluta e relativa para as variáveis categóricas. As características sociodemográficas, antropométricas, clínicas e oftalmológicas foram analisadas por meio da diferença das médias entre grupos com intervalo de confiança de 95% e pelo teste qui-quadrado. A Análise Componentes Principais (ACP) foi aplicada às 16 variáveis de marcha, funcionais e do PPA. Os escores das componentes principais (CP) resultantes foram padronizados para escores-z (média de zero e desvio padrão de 1) e um intervalo de confiança de 95% foi realizado para determinar quais CP eram diferentes entre os grupos. Então, um escore global de CP foi obtido pelo somatório das CP identificadas significantes, dividindo pelo número total de CP, e calculando, consequentemente, um novo escore-z. Os escores globais de CP foram usados para comparação dos grupos, considerando a interpretação clínica das CP. Em seguida, uma Análise Multivariada de Variância foi realizada com as variáveis que mais contribuíram (coeficiente de ponderação 0,30) com as CP significantes para determinar quais variáveis eram diferentes entre os grupos controle e GPAA. Todos os testes foram analisados com um nível de significância de 0,05. Os grupos não apresentaram diferenças significativas quanto ao sexo, idade e índice de massa corporal. A ACP resultou em seis PC que, juntas, explicaram 81,2% da variação total. Dessas, PC1, PC3 e PC5 foram significativamente diferentes entre os grupos. PC1 foi responsável por 31,6% da variância e teve uma maior contribuição das variáveis oscilação total e área de oscilação. Por conseguinte, este componente representa o domínio de equilíbrio. PC3 explicou 18,9% da variância e teve uma maior contribuição das variáveis de sensibilidade ao contraste, propriocepção, tempo de reação manual e comprimento do passo. Este domínio foi nomeado reação. PC5 explicou 9,7% da variância e teve maior contribuição de Sentado para de Pé, TUG, força de extensão do joelho e tempo de duplo apoio. Este domínio foi nomeado mobilidade. Os escores globais das PCs apresentaram menores escores-z no grupo GPAA em todas as três PCs significativas (equilíbrio, reação e mobilidade), indicando pior desempenho do grupo GPAA em comparação ao grupo controle. Além disso, as variáveis de sensibilidade ao contraste, propriocepção e TUG, que contribuíram fortemente para as componentes significativas, também foram significativamente diferentes entre os grupos. O grupo GPAA teve um maior risco de quedas em comparação com o grupo controle, mas o número de caidores e de quedas e o medo de quedas foram similares entre os grupos. Indivíduos com GPAA em estágios inicial e moderado apresentaram equilíbrio, reação e mobilidade reduzidos relacionados a déficits nos sistemas sensoriais e visuais, como campo visual, sensibilidade ao contraste e propriocepção reduzidos. De acordo com nosso conhecimento, este foi o primeiro estudo a aplicar o PPA em um grupo de indivíduos em estágios inicial a moderado de GPAA. Foi também o primeiro estudo capaz de identificar três importantes componentes equilíbrio, reação e mobilidade baseado em uma análise de redução de dados, em indivíduos com déficit visual. Os resultados deste estudo enfatizam a importância do diagnóstico precoce do glaucoma e o desenvolvimento de um programa de prevenção de quedas focado em manter e/ou melhorar desfechos funcionais nesta população. Estudo 2 Dados normativos temporais e espaciais da marcha de uma amostra de idosas brasileiras comunitárias de Belo Horizonte. Tradicionalmente, a velocidade de marcha é o parâmetro de escolha para avaliar a marcha devido à sua relação com desfechos adversos em idosos. Contudo, a marcha é uma tarefa motora extremamente complexa que pode ser expressa por outros parâmetros temporais e espaciais, além da sua variabilidade. A maioria dos estudos está focada na velocidade da marcha, negligenciando esses outros parâmetros de marcha. Além disso, do nosso conhecimento, há uma carência de estudos normativos da marcha realizados com idosos brasileiros comunitários. O objetivo do presente estudo foi descrever valores normativos para a marcha obtidos a partir de uma amostra de idosas brasileiras comunitárias de Belo Horizonte e também realizar a análise de componentes principais (ACP) com biplot para auxiliar na interpretação das diferentes estratégias na marcha que podem ocorrer durante o processo de envelhecimento. Um total de 305 idosas comunitárias independentes foram estratificadas em quatro grupos etários: 65-69 anos (N = 103), 70-74 anos (N = 95), 75-79 anos (N = 77) e 80 anos (N = 30). Idade, estatura e índice de massa corporal foram avaliados para descrever as características dos grupos. Parâmetros temporais e espaciais da marcha velocidade, cadência, comprimento do passo, base de suporte, tempo de passo, tempo de oscilação, tempo de apoio e tempo de duplo apoio foram obtidos utilizando o sistema GAITrite®. Coeficiente de variação (CV=[desvio-padrão/média]x100) foi usada como uma medida da variabilidade da marcha para os seguintes parâmetros: velocidade (% CV), comprimento do passo (% CV), base de suporte (% CV), tempo de passo (% CV), tempo de oscilação (% CV), tempo de apoio (CV%) e tempo de duplo apoio (% CV). As características antropométricas e os dados temporais e espaciais da marcha das participantes foram apresentados como média e desvio-padrão. A análise de Componentes Principais (ACP) seguida pela interpretação do gráfico biplot foram aplicadas aos 15 parâmetros temporais e espaciais da marcha. Os escores resultantes de cada CP foram padronizados para escores-z (média de zero e desvio padrão de 1) e um intervalo de confiança de 95% foi conduzido para determinar quais CP eram diferentes entre os grupos. Em seguida, a análise multivariada de variância (MANOVA) foi realizada para comparar as variáveis de maior contribuição em cada componente analisada e significativa, tendo os grupos de faixa etária como variável independente. Para as MANOVA significativas, realizou-se correção de Bonferroni. Finalmente, um biplot-ACP foi construído para auxiliar na interpretação entre as CP, os escores e as variáveis. Todos os dados foram analisados com nível de significância de 0,05. Um Intervalo de Confiança de 95% mostrou que apenas três componentes - ritmo, variabilidade e apoio - que juntos explicaram 74,2% da variância total na marcha foram diferentes entre os grupos. Os grupos mais velhos (75-79 e 80 anos) caminharam com velocidade, cadência e comprimento do passo abaixo da média e tempos de passo, apoio, oscilação e duplo apoio acima da média. Além disso, o grupo de idade 80 anos apresentou a maior variabilidade da marcha em comparação com os outros grupos. O envelhecimento está associado à diminuição da velocidade da marcha e cadência e aumento dos tempos de passo e apoio e variabilidade, mas não está associado a alterações na base de suporte. Além disso, a biplot-ACP indica uma tendência para a diminuição do ritmo e aumento da variabilidade com o envelhecimento. Estas informações sobre os parâmetros temporais e espaciais da marcha poderão contribuir para os processos de avaliação e reabilitação de idosos. Study 1 - Gait parameters, functional mobility and fall risk in individuals with early to moderate primary open angle glaucoma: a cross-sectional study Glaucoma stands out as one of the leading causes of irreversible blindness in Brazil and worldwide. Primary Open-Angle Glaucoma (POAG) is often called the silent blinder because, during the early to moderate stages of the disease, there are usually no noticeable symptoms. However, findings indicating early deterioration of visual quality have been evidenced in these early stages of glaucoma. It is unknown whether early visual dysfunctions due to POAG could have a negative influence on functional outcomes and falls in those individuals. The purpose of this observational study was to investigate the influence of early to moderate POAG on gait parameters, functional mobility and fall risk in community-dwelling adults. Data from 67 participants divided in a POAG group (33) and a control group (34) were analyzed. Fall risk was measured using the short form of the Physiological Profile Assessment composed of following tests contrast sensitivity, proprioception, muscle strength of knee extensors, manual reaction time and postural sway over the foam with open eyes. Spatiotemporal parameters of gait were measured using GAITRite® system. Functional measures were obtained with the Timed Up and Go (TUG) test, the Five-Repetition Sit-To-Stand test and the Dynamic Gait Index. Data from POAG and control groups were presented as mean and standard deviation for continuous variables and absolute and relative frequencies for categorical variables. Sociodemographic, anthropometric, clinical and ophthalmologic characteristics were analyzed by the means difference between groups with a 95% confidence interval and the chi-square test. The Principal Component Analysis (PCA) was applied to 16 gait, functional and PPA variables. The scores of the resulting principal components (PC) were standardized to z-scores (mean of zero and standard deviation of 1) and a 95% confidence interval was performed to determine which CP were different between groups. Then, a global score was obtained by summing CP of the identified significant CP, dividing by the total number of CP, and calculating accordingly a new z-score. The CP global scores were used to compare the groups, considering the clinical interpretation of the CP. Then, a multivariate analysis of variance was performed with the primary contributing variables (weight coefficient 0.30) of significant CP to determine which variables were different between the control group and POAG. All tests were analyzed with a significance level 0.05. The groups showed no significant differences in gender, age and body mass index. Principal component analysis reduced the data and identified three components - balance, reaction and mobility - that were significantly different between groups. In addition, the variables contrast sensitivity, proprioception and the TUG test, which contributed heavily to the significant components, were also different between groups. The glaucoma group had a greater risk of falls compared to the control group, but number of fallers and number of falls in the past 12 months and fear of falling were similar between groups. Individuals in the early and moderate stages of POAG presented balance, mobility and reaction deficits and a higher risk of falling. According to our knowledge, this is the first study to apply the PPA in a group of individuals at the early and moderate stages of POAG. It is also the first study that was able to identify three important components - balance, reaction and mobility - based on a data reduction analysis, in individuals with visual deficit. The results of this study places emphasis on an early diagnosis of glaucoma and the development of a fall-prevention program focused on maintaining and/or improving balance, reaction and mobility performance in this population. Study 2 - Normative spatiotemporal gait data in Brazilian females community-dwelling older adults Traditionally, gait velocity is the elected parameter used to assess gait due to the link to adverse outcomes in the elderly. However, gait is an extremely complex motor task that can be expressed by other spatiotemporal parameters and its variability. Most studies are focused on gait velocity, neglecting those other gait parameters. In addition, to our knowledge there is a lack of normative gait studies conducted in the community-dwelling older adults living in Brazil. The aim of this study was to provide normative values for the gait measurements obtained from a healthy Brazilian sample of Belo Horizonte community-dwelling elderly females between the ages of 65 to 89 years and to apply the Principal Component Analysis (PCA)-biplot approach to yield insight into different walking strategies that might occur during the aging process. A total of 305 independent community elderly were stratified into four age groups: 65-69 years (N = 103), 70-74 years (N = 95), 75-79 years (N = 77) and 80 years (N = 30). Age, height and body mass index were evaluated to describe the characteristics of the groups. Temporal and spatial gait parameters included velocity, cadence, stride length, support base, step time, swing time, support time and time dual support and were obtained using the GAITrite® system. Coefficient of variation (CV=[standard deviation/mean]x100) was used as a measure of gait variability for the following parameters: velocity (%CV), step length (%CV), base of support (%CV), step time (%CV), swing time (%CV), stance time (%CV) and double support time (%CV). The anthropometric characteristics and the spatiotemporal gait data of the participants were presented as mean and standard deviation. The principal component analysis (PCA) followed by interpretation of biplot approach were applied to 15 spatiotemporal parameters of gait. The resulting scores for each CP were standardized to z-scores (mean of zero and a standard deviation of 1) and a 95% confidence interval was performed to determine which CP were different among the groups. Then, multivariate analysis of variance (MANOVA) was performed to compare the primary contributing variables in each analyzed and significant component, and the age groups as the independent variable. For significant MANOVA, was performed Bonferroni correction. Finally, a biplot-ACP was built to assist in interpretation between the CP, the scores and the variables. All tests were analyzed with a significance level 0.05. A 95% confidence interval showed that only three components - rhythm, variability and support - that together explained 74.2% of the total variance in gait were different among the groups. The older age groups (75-79 and 80 years) walked with lower than average velocity, cadence and step length and were above average for the variables stance, step, swing and double support time. In addition, the 80 years age group presented the highest gait variability compared to the other groups. Aging is associated with decreased gait velocity and cadence and increased stance, step time and variability, but not associated with changes in base of support. Moreover, the PCA-biplot indicates a trend towards decreased rhythm and increased variability with aging. This information about the spatial and temporal parameters of gait may contribute to the assessment and rehabilitation of the elderly.