Dissertação (mestrado)—Universidade de Brasília, Instituto de Artes, Departamento de Música, 2009. A tecnologia não apenas é um elo entre sociedades produtivas mas, considerando-se a sua natureza mutante, a base de sua consolidação (LÉVY, 1999; SANTOS, 2002). Esta questão, como fenômeno e processo histórico, se faz presente nas formas de reflexão sobre as relações humanas e sobre os modos de produção a ela relacionados, nas quais o indivíduo é ora focado enquanto partícipe, ora focado enquanto representante da coletividade. O pensamento crítico que abrange esta questão encontra o seu espaço também na artisticidade, porque se, de um lado, há a “reflexão”, de outro, há a “expressão” – e mais especificamente na música -, na qual se testemunha um crescimento de suportes tecnológicos, no âmbito da tecnologia eletrônica e digital, cada vez mais desenvolvidos. A tipologia destas ferramentas e suas possibilidades, que ora substituem os instrumentos, ora os próprios músicos, tanto servem para uma aproximação ao conhecimento musical, como para um distanciamento absoluto deste, visto que oferecem um “produto” em detrimento a um “processo”. Na análise proposta, os argumentos advindos de antinomias filosóficas entre Theodor W. Adorno e Umberto Eco, desenvolvidas nas décadas de sessenta e setenta do século XX, direcionaram a crítica ao racionalismo iluminista, e as apropriações, acúmulo e surgimento de novos conceitos sobre técnica e tecnologia e suas reformulações. Estas oposições podem ser encontradas nas divisões entre “apocalípticos e integrados” (ECO,1964), e posteriormente entre “tecno-libertários e os excluídos socioeconômica e digitalmente” (SÁ & MARCHI, 2003). Como desdobramento desta conceituação, a fronteira entre a “virtualidade” e o “virtuosismo” torna-se tênue, ora sustentada pelos conceitos e condições das possibilidades que a tecnologia digital oferece, ora voltada para a capacidade de o indivíduo de superar-se a si próprio enquanto um processo fundamental e complementar – como presentes nas análises de Milton Santos, da Escola de Frankfurt, de Pierre Lévy e de Bernard Stiegler. Por ultimo, discute-se a relação dos conceitos de “obra aberta” de Umberto Eco com os conceitos do “universal sem totalidade” sugerido por Pierre Lévy, que implicam não somente no desaparecimento da autoria quanto no caráter de incompletude das obras, além da perda dos referenciais de espaço e tempo. Tais implicações são impulsionadas pelas facilitações que a tecnologia digital oferece que incidem sobre a capacidade criativa e performática do indivíduo, fazendo com que os argumentos de Adorno se renovem e se atualizem nas conceituações sobre o ciberespaço, abrigo de uma sociedade “in-formação” em sua expressão digital. _________________________________________________________________________________ ABSTRACT The technology is not just a link among productive societies but, considering its mutant nature, the base of its consolidation (LÉVY, 1999; SANTOS, 2002). This subject, seen as a phenomenon and historical process, is present on reflexive thought concerning human relationships and the production manners thereof related, in which the individual is some times focused as a participant, and other times focused as a collective representative. The critical thought that embraces this subject also finds its space on artistic matters, because if, on one side, there is "reflexive thought", on the other, there is "expression" - and more specifically in music -, in which a testified growth of technological supports, within the electronic and digital technology context, ever more developed. The typology of these tools and its possibilities, that some times substitute the instruments, at other times the very musicians, so much serve to approach musical knowledge, as for its absolute estrangement, offering a "product" in detriment to a "process ". In the proposed analysis, the arguments stemming from philosophical antinomies between Theodor W. Adorno and Umberto Eco, developed in the sixties and seventies, have compelled criticism to illuminist rationalism, and the appropriations, accumulation and development of new concepts concerning technique and technology and its reformulations. These oppositions can be found in the divisions between "apocalyptic and integrated" (ECHO, 1964), and later on among "techno-libertarians and the social- and digitally excluded" (SÁ & MARCHI, 2003). As an unfolding of this conceptualization, the border-line between "virtuality" and "virtuosity" becomes slender, at times sustained by concepts and conditions offered through digital technology, at times turned to the capacity of the individual to overcome itself as a fundamental and complementary process – as present in the analyses by Milton Santos, the Frankfurt School, Pierre Lévy and Bernard Stiegler. Last, one discusses the relationship between Umberto Eco’s "open-work" and Pierre Lévy’s "wholeless universal" concepts, implicating not only the disappearance of authorship but the uncompleted character of works, along with the loss of space and time references. Such implications are impelled by the facilitations offered by digital technology which affect the individual's creative and performing capacity, thus allowing a renewal and up to date revision of Adorno’s discussions within cyberspace conceptualizations, shelter to an "in-formation" society expressed in digital terms.