O presente trabalho visa discutir as interpretações que professores do Ensino Secundário Geral de três escolas públicas de Maputo, em Moçambique, produzem acerca da presença dos fenomenos da indisciplina e da violência escolar na escola. A pesquisa foi construída no âmbito da Linha de Pesquisa Psicologia, Psicanálise e Educação e da produção do Grupo de Estudos e Pesquisas de Psicologia Histórico-Cultural na Sala de Aula (GEPSA) da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, no Brasil. O estudo, de caráter qualitativo foi realizado com uma amostra de 152 professores de ambos os sexos, habilitados com o nível de bacharelado, licenciatura e mestrado e diferentes níveis de experiência de ensino. Para a recolha de dados quantitativos, foi aplicado um questionário, e, para a recolha de material qualitativo, foram realizadas 12 entrevistas semiestruturadas, quatro em cada escola. Os resultados do estudo revelaram que os principais atos de indisciplina escolar presentes nas escolas investigadas são: barulho, conversas entre alunos, risos, brincadeiras, provocações, pulos, falta de respeito, desprezo, xingamento e desobediência às regras de regulamento das escolas. A ocorrência de atos de violência física, verbal e psicológica ultrapassam aquelas regras de comportamento envolvendo agressões com armas brancas, ofensas morais e simbólicas, rotulações, xingamentos, ameaças, insultos. Os professores atribuem as causas da indisciplina e da violência escolar especialmente à violência que os alunos assistem na sociedade moçambicana, à falta de compreensão de atividades de aprendizagem, à falta de educação, à preguiça na resolução das tarefas escolares, à hiperatividade, aos roubos, ao consumo de drogas e bebidas alcoólicas, à falta de respeito, ao desprezo pelos professores, à perda de valores éticos e morais, à falta de acompanhamento familiar, às influências de novelas, ao cargo político dos pais dos alunos, às aulas desmotivantes, ao fraco domínio dos conteúdos e à não planificação de aulas por parte dos professores, à ausência de definição de regras de conduta na sala de aula, ao pouco espaço na sala de aula e mobiliário escolar, às turmas numerosas; à falta de material didático, ao regulamento interno da escola desajustado à realidade das escolas, à falta de orientação escolar. As características dos alunos que praticam a indisciplina e violência segundo a interpretação dos professores são alunos drogados e viciados, alcoólatras, de pais ricos e pobres, excluídos, com carência afetiva dos familiares próximos, com problemas de socialização na escola e vítima de violência doméstica. Para resolverem esses problemas, os professores recorrem à aplicação de castigos ou punições e, em pequeno número lançam mão de diálogo com os alunos. Os docentes dizem que os efeitos dos atos de indisciplina e violência escolar, sejam elas físicas ou simbólicas, prejudicam o processo de ensino e aprendizagem, afetam a própria atividade docente, provocam reações dos próprios estudantes, que organizam emboscadas, lançam pedras e agridem fisicamente aos professores ao sairem do edifício da escola. Os professores embora não diferenciam a indisciplina de violência, fazem uma gradação de gravidade dos atos entre um e outro fenômeno e, ainda entendem que a violência pode ser resultado da indisciplina. This research aims to investigate the interpretations that the General Secondary Education Teachers of three public schools located in Maputo, Mozambique on the presence of indiscipline and violence in the classrooms. The research was conceived within the framework of the Cultural Historical Psychology Classroom Research Group (GEPSA) at the Faculty of Education of the Federal University of Minas Gerais, in Brazil. The qualitative study, was carried out with a sample of 152 teachers of both sexes, all holding a Three Year University Degree, Bachelors and Masters Degree and different levels of teaching experience. For the collection of quantitative data, a questionnaire was administered and for qualitative analysis, 12 semi-structured interviews were carried out in each school. The results of the qualitative study show that the main actions of indiscipline and violence taking place in the schools where the study was carried out include: noise, talks among the students, laughter, jokes, provocations, jumping, lack of respect, disregard to teachers, disobedience, physical, verbal and psychological attack that occur frequently and while the classes are going on and go beyond the rules of behavior of the three schools. Teachers attribute the causes of indiscipline and violence especially to: violence that students observe in the society, lack of understanding the learning activities, impoliteness, drugs and alcohol consumption, lack of guardians supervision, laziness in the school tasks resolution, hyperactivity, theft, loss of ethical and moral values, soap operas influence, political position of the students parents, demotivating classes, weak mastering of scientific contents and lack of lesson planning on the part of the teachers, lack of definition of conduct norms and rules to apply in the classroom, size of the classrooms, lack of school furniture, large classes, lack of teaching materials, internal school regulations unadjusted to the school realities, lack of school orientation and punishment of students when they misbehave. The caractheristics of the students who misbehave and commit violence, according to the teachers interpretation, they are students who are devoted and plunged into drugs and alcohol consumption, sons of rich and poor people, excluded ones, students with little or no attention from their close relatives, students with socialization problems in the school and who have experienced any situation of domestic violence. In order to overcome this situation, teachers resort to punishment as a measure and a few teachers dialogue with students. Teachers argue that the effects of indiscipline and violent actions, can be physical or symbolic, impairing the whole Teaching and Learning Process. They also impair the teaching activity itself, stir strange reactions which include ambushments, stoning and physical attack against teachers as they leave the school premises. Teachers although do not differentiate indiscipline from violence, they maintain some gradation between both phenomena and they even perceive that violence can be the result of indiscipline.