A utilização de luz ultravioleta (“luz negra”) ouUV, na paleontologia, tem ampla aplicação. Seu êxitoestá nos fósseis calcários, cuja presença de fosfatode cálcio provoca fluorescência do fóssil, o quepermite delimitar, com maior precisão, a presença deestruturas completamente invisíveis ou pouco visíveisà luz natural. Através da fluorescência, em triagensrealizadas a noite, é possível encontrar um maiornúmero de pequenos vertebrados fósseis quandocomparado a triagens realizadas em iluminaçãonormal. A eficiência desse método também foiconstatada na análise um dinossauro Theropoda,revelando uma divisão da cavidade visceral emduas regiões (pleuropericardial anterior e abdominalposterior). O objetivo desse trabalho é reportar osucesso da utilização da luz ultravioleta na montagemdo esqueleto de Carodnia vieirai. Este mamífero,de idade paleocênica, foi encontrado em uma dasfendas que cortava o calcário que preenche a Baciade S. J. de Itaboraí, Rio de Janeiro, Brasil. Apesarde parcialmente preparado, para a reconstituição emontagem do esqueleto houve necessidade da totalremoção de qualquer sedimento antes da confecçãodos moldes. Devido à matriz óssea e o sedimentoapresentarem a mesma coloração e estaremfortemente unidos, a preparação sob luz naturalalgumas vezes provocou danos ao fóssil, devido àdificuldade na diferenciação de ambos. A principioutilizou-se água para aumentar a diferenciação (osedimento úmido fica ligeiramente acinzentado) epara facilitar a remoção deste, entretanto, após longaexposição do fóssil à água, este se tornou mais frágile mais facilmente fragmentava-se. Para evitar estesdanos optou-se então pela utilização de luz negra napreparação. Utilizou-se uma lâmpada UV de 18”/15watt, de comprimento de onda entre 400 e 320nm(UVA), e classificada como UV próximo. Tratasede uma lâmpada fluorescente sem a proteçãodo componente (fósforo), que a faz emitir umaluz visível, deixando assim passar toda a radiaçãoultravioleta. Em ambiente completamente escuro,a lâmpada proporcionou a fluorescência do fóssile uma coloração roxo escuro no sedimento, a eleaderido. Na preparação da mandíbula a luz negra tevetambém uma outra aplicação importante, pois em C.vieirai ela apresenta um padrão distinto, encontradoatualmente apenas nos sirênios – o direcionamentoanterior do processo coronóide. Os dois ramos estãobem preservados e apresentam o mesmo ângulo decurvatura, entretanto, existe um pouco de gesso euma massa de tom alaranjado preenchendo algunsespaços, o que levantou dúvidas quanto à naturezadesse padrão: se seria original ou tafonomicamenteformado. Na exposição à luz UV, pode-se constatarque apesar de estar parcialmente preenchida, opadrão encontrado na mandíbula era natural. Napreparação de um fragmento de maxilar, recobertopor sedimento, foi possível identificar que noprocesso de fossilização ele sofreu uma deformação,pois fragmentos soltos floresciam, evidenciando umapossível fragmentação de um dos lados. A utilizaçãodessa iluminação também evidenciou um dente(coloração diferenciada) de Crocodylia, aderido aum bloco de sedimento com fragmentos cranianose um M3 de C. vieirai. Concluímos então que alâmpada negra é muito útil para a paleontologia,proporcionando maior precisão na preparação dofóssil e auxiliando no reconhecimento de possíveisprocessos tafonômicos. Recomendamos umaampliação do seu uso nesta ciência.