Resumo: A DPOC constitui um problema de saúde global de importância crescente, com enorme impacto nos custos directos e indirectos em recursos de saúde. Apesar do seu impacto, pouco se sabe ainda sobre os mecanismos celulares, moleculares e genéticos desta doença, e as te-rapêuticas farmacológicas actualmente disponÃveis não influenciam a progressão da doença ou a mortalidade. A limitação do débito aéreo avaliada pela redução do volume expiratório máximo no 1.º segundo (FEV1) progride muito lentamente ao longo de várias décadas, condicionando o aparecimento de sintomas em adultos acima dos 40 anos ou já na terceira idade. Desta forma, a prevalência da DPOC é dependente da idade, sugerindo uma relação Ãntima entre a pato-génese da DPOC e a do envelhecimento.A senescência ou processo de envelhecimento definese como o declÃnio progressivo da homeostasia que ocorre após estar completa a fase reprodutiva da vida e conduz a um risco aumentado de doença e de morte. Segundo Kirkwood1, o envelhecimento resulta da interacção entre a lesão e a reparação, como resultado da energia produzida pelo indivÃduo para manter a integridade orgânica e proteger o ADN da agressão oxidativa. A falência orgânica ou celular na manutenção ou reparação resulta de uma acção integrada entre genes, ambiente e defeitos intrÃnsecos do organismo. Subjacente ao processo de envelhecimento, existe uma acumulação progressiva de danos a nÃvel molecular.As alterações a nÃvel celular causam reacções inflamatórias, e estas, por sua vez, exacerbam as lesões celulares existentes. Desta forma, os factores inflamatórios e anti-inflamatórios modulam a evolução do envelhe-cimento. As alterações inflamatórias e estruturais associadas ao envelhecimento resultam da falência em eliminar os radicais de oxigénio (ROS), da falência em reparar o ADN lesado e do encurtamento do teló-mero. Os telómeros protegem as extremidades dos cromossomas, mas, quando se encontram expostos a elevados nÃveis de stress oxidativo, vão-se encurtando progressivamente à medida que as células se dividem. Com o envelhecimento, a perda e encurtamento dos telómeros condicionam o declÃnio da capacidade para as células se dividirem â senescência replicativa.O stress oxidativo causa lesão do ADN, o que acelera o processo de envelhecimento e aumenta o risco de cancro (exemplo, a senescência da glândula mamária e o risco elevado de cancro da mama).Os gases ambientais, como o fumo do cigarro ou outros poluentes, podem acelerar o envelhecimento do pulmão ou agravar os eventos relacionados com o en-velhecimento pulmonar através de uma resolução defeituosa da inflamação. A redução das moléculas anti-envelhecimento como as histona desacetilases e as sirtuÃnas, pode igualmente induzir a progressão acelerada para a DPOC.Ainda não é claro como é que o processo de envelhe-cimento está envolvido no declÃnio da função pulmonar e na inflamação da DPOC. Contudo, o pulmão do idoso e o pulmão do doente com DPOC apresen-tam muitas semelhanças. A lesão provocada pelo fumo do cigarro e outros pneumopoluentes conduz a um declÃnio mais acelerado da função pulmonar, com falência dos mecanismos de reparação e de manuten-ção. A presença de inflamação nos dois processos (en-velhecimento e DPOC) traduz-se em acumulação de neutrófilos, na activação da NF-kB e na elevação dos nÃveis plasmáticos de interleucinas IL-6, IL-8 e TNF-α. Também os telómeros das células alveolares tipo II, das células endoteliais e das células mononu-cleares em doentes com enfisema são significativamente mais curtos do que em indivÃduos não fumadores da mesma idade.Neste artigo, os autores descrevem ainda estudos recentes sobre os mecanismos de transdução de sinal, como as vias da acetilação das proteÃnas envolvidas no processo de envelhecimento, identificando assim novas moléculas anti-envelhecimento que poderão constituir abordagens inovadoras na terapêutica da DPOC. Os antioxidantes actualmente disponÃveis, como a N-acetilcisteÃna, não são suficientemente potentes para reduzir o stress oxidativo nos pulmões. Existem vários fármacos em desenvolvimento, como os novos análogos da glutationa e da superoxido dismutase (exemplo, o sulforafano) e novas moléculas antienvelhecimento com maior controlo sobre a resis-tência ao stress oxidativo, a reparação do ADN e a inflamação, como os activadores das sirtuÃnas (exem-plo, o resveratrol, o activador especÃfico da SIRT1 ou o activador da SIRT6).