Esta pesquisa, enquadrada no âmbito dos estudos linguísticos da delicadeza, indelicadeza verbais e do ethos construído no discurso, assim como da polémica verbal, tem como finalidade verificar as estratégias pragmático-discursivas das interações verbais protagonizadas pelos treinadores de futebol portugueses em excertos de conferências de imprensa de caráter menos harmonioso. Neste contexto, esta investigação de caráter empírico situa-se na confluência de paradigmas, como a Sociolinguística Interacional (Gumperz 1982; Tannen, 1989; Almeida, 2012), Análise Conversacional (Sacks, Schegloff & Jefferson 1974; Harvey Sacks 1966; Binet, 2013) e Pragmática Discursiva (Searle, 1984; Austin 1936; Fonseca, 1992; Carrilho, 1994). Para a sua efetivação, recorremo-nos a um corpus constituído por excertos de conferências de imprensa protagonizados por treinadores portugueses, circunscritos às épocas desportivas dois mil e dezasseis a dois mil e dezoito, os quais foram transcritos, tendo em conta o modelo aplicado pelos investigadores brasileiros (PETEDI) para o estudo dos géneros orais. Nela, tentamos demonstrar que, aquando das interações verbais menos harmoniosas, os treinadores, ao convocarem para a cena de enunciação (Maingueneau, 2006) os seus mais diretos adversários na luta por objetivos comuns, fazem uso de estratégias de descredibilização ou desqualificação do outro, características do discurso polémico (Amossy, 2017), assentes em atos de indelicadeza verbal (Culpeper, 1996; Locher & Bousfield, 2008), o que lhes permitem projetar ethè (Amossy, 2011; Charaudeau, 2006; Maingueneau, 2005; 2008) completamente antagónicos (Marques, 2008). Porém, estes atos de desacordo não se limitam aos colegas de profissão, mas também se estendem a outros intervenientes, nomeadamente, aos jornalistas, quem tem incumbência de lhes questionar sobre os eventos dos jogos, e às equipas de arbitragem. Na construção dessas imagens, faz-se uso de atos de ameaça (Almeida, 2011), sob forma de crítica e insinuação, isto é, atos cujo objetivo passa-se pelo ataque “ad hominem”, acarretando problemas para face do próprio locutor. Por isso, em conferências de imprensa subsequentes, são obrigados a retratarem-se com atos reparadores (Briz, 2003), de pedido de desculpa (Brown & Levinson, 1987), justificação (Almeida, 2011), recorrendo a outras estratégias, como a polifonia de vozes (Fonseca, 1992), histórias de vida (Flannery, 2011; Gunthner, 2011), a atos de elogio (Kerbrat-Orecchioni, 1992) para captação, legitimação e credibilização discursivas (Charaudeau, 2014) e envolver, não só os jornalistas em presença, como também as testemunhas ausentes das trocas – os telespetadores/adeptos. This research work, conducted in the scope of linguistics studies of verbal politeness, rudeness and ethos built in the scope of discourse, seeks to corroborate the pragmatic-discursive strategies of verbal interactions performed by football coaches in excerpts from press conferences of a less harmonious nature. Hence, this research work of empirical nature provides a convergence of paradigms, like the Interactional Sociolinguistics (Gumperz 1982; Tannen, 1989; Almeida, 2012), Conversational Analysis (Sacks, Schegloff and Jefferson 1974; Harvey Sacks 1966; Binet, 2013), and Discursive Pragmatics (Searle, 1984; Austin 1936; Fonseca, 1992; Carrilho, 1994). To get it done, we resorted to a corpus of excerpts from press conferences by Portuguese coaches, dating from the sporting seasons two thousand and sixteen / two thousand and eighteen, which were transcribed, bearing in mind the model applied by the Brazilian researchers (PETEDI) for the study of oral genres. We try to demonstrate that, during less harmonious verbal interactions, those coaches make use of discrediting or disqualifying strategies, when summoning their major opponents to the enunciation scene (Maingueneau, 2006), typical of controversial discourse (Amossy, 2017), based on acts of verbal rudeness (Culpeper, 1996; Locher & Bousfield, 2008), allowing them to project ethè (Amossy, 2011; Charaudeau, 2006; Maingueneau, 2005; 2008) utterly antagonistic (Marques, 2008). However, these acts of disagreement are not limited to professional colleagues. They are also directed to journalists, who are in charge of asking them about the match events, and about the refereeing teams’ performances. To build up such scenes, acts of threat (Almeida, 2011) are used, in the form of criticism and insinuation, that is, acts whose goal are to attack “ad hominem”, getting the speaker in troubles, himself. Therefore, in subsequent press conferences they are called on to retract themselves with redeeming acts (Briz, 2003), apology (Brown and Levinson, 1987), reasoning (Almeida 2011), and other strategies, such as the polyphony of voices (Fonseca, 1992), life stories (Flannery, 2011; Gunthner, 2011), praise (Kerbrat-Orecchioni, 1992) for catching, legitimizing and crediting discourse (Charaudeau, 2014) and involving not only journalists in attendance, but also the witnesses outside the exchanges - the viewers/supporters.