Os avanços da reforma psiquiátrica incluem a implantação de serviços de saúde mental substitutivos à lógica asilar. Porém, internações em hospitais psiquiátricos, inclusive de crianças e adolescentes, continuam ocorrendo. Esse estudo buscou compreender os motivos de internação em um hospital psiquiátrico a partir da perspectiva da instituição e das crianças e adolescentes internados. Trata-se de pesquisa qualitativa, de abordagem hermenêutico-dialética, tendo sido feita a leitura de documentos institucionais, entrevistas abertas com oito adolescentes e observação participante. Os resultados indicaram que o motivo principal alegado pelo hospital psiquiátrico para internação foi nomeado como “agressividade”, justificada pelo “risco para si e para outros”, enquanto, para as crianças e os adolescentes, os motivos de internação eram múltiplos, incluindo uso de drogas, pequenas brigas e infrações. A análise indicou que os mecanismos para a internação pelo hospital psiquiátrico envolvem, durante a anamnese, uma leitura sobre o outro que o define como desviante de normas sociais e a posterior atribuição de um diagnóstico, avalizando a internação psiquiátrica. Também indicou que a sustentação e continuidade de internações psiquiátricas ocorrem em um circuito do controle operado entre diferentes instituições para tutela dos desviantes. Este estudo evidencia que, para evitar internações em hospitais psiquiátricos, além do fechamento destes, é preciso superar o paradigma psiquiátrico, sendo, para isso, necessárias as práticas de desinstitucionalização e na perspectiva da atenção psicossocial nos serviços de saúde mental abertos, territoriais e substitutivos. Important strides in psychiatric reform include the implementation of mental health services that replace the traditional psychiatric logic. However, admissions to psychiatric hospitals continue to occur, including children and adolescents. This study analyzed the reasons for admission to a psychiatric hospital from the institution’s perspective and that of the hospitalized children and adolescents. This was a qualitative study with a hermeneutic-dialectic approach, based on a reading of the institutional documents, open interviews with eight adolescents, and participant observation. The results showed that the main alleged reason for admission reported by the psychiatric hospital was “aggressiveness”, justified by the idea of “risk to self and others”, while the children reported multiple reasons for their hospitalization, including drug use, minor scuffles, and misdemeanors. The analysis showed that the mechanism for admission to the psychiatric hospital involve, during anamnesis, defining an individual as deviating from social norms and, subsequently, assignment of a diagnosis to back the psychiatric institutionalization. It also showed that the backing and continuity of psychiatric hospitalizations occur in a circuit of control that is operated between different institutions for the deviants’ custody. The study demonstrates that to avoid psychiatric hospitalizations, besides closing psychiatric hospitals, it is necessary to overcome the psychiatric paradigm, which in turn requires deinstitutionalization of practices and psychosocial care in open, community and substitutive mental health services. Los avances de la reforma psiquiátrica incluyen la implantación de servicios de salud mental substitutivos a la lógica de los asilos, no obstante, los internamientos en hospitales psiquiátricos, incluidos los de niños y adolescentes, continúan ocurriendo. Este estudio buscó comprender los motivos de internamiento en un hospital psiquiátrico, a partir de la perspectiva de la institución, y de los niños y adolescentes internados. Se trata de una investigación cualitativa, de abordaje hermenéutico-dialéctico, habiéndose realizado la lectura de documentos institucionales, entrevistas abiertas con ocho adolescentes y observación participante. Los resultados indicaron que el motivo principal alegado por el hospital psiquiátrico para el internamiento fue denominado “agresividad”, justificada por el “riesgo para sí mismos y para otros”, mientras que para los niños y adolescentes los motivos de internamiento eran múltiples, incluyendo el uso de drogas, pequeñas peleas e infracciones. El análisis indicó que los mecanismos para el internamiento por el hospital psiquiátrico implican, durante la anamnesis, una lectura sobre lo que lo define como una conducta desviada respecto a normas sociales, y la posterior atribución de un diagnóstico, avalando el internamiento psiquiátrico. También indicó que el mantenimiento y continuidad de los internamientos psiquiátricos se producen en un circuito del control operado entre diferentes instituciones para la tutela de los que desvían de las normas sociales. Este estudio evidencia que, para evitar internamientos en hospitales psiquiátricos, además del cierre de los hospitales psiquiátricos, es necesaria la superación del paradigma psiquiátrico, siendo para eso necesarias prácticas de desinstitucionalización y desde la perspectiva de la atención psicosocial contar con servicios de salud mental abiertos, territoriales y substitutivos.