Orientador: Prof. Dr. Osvaldo Heller da Silva Tese (doutorado) - Universidade Federal do Paraná, Setor de Ciencias Humanas, Letras e Artes, Programa de Pós-Graduaçao em Sociologia. Defesa: Curitiba, 30/04/2013 Inclui referências Resumo: O presente trabalho teve como objetivo analisar as características socioeconômicas dos associados do Sindicato Unificado dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Alto Uruguai (SUTRAF) e as implicações para o processo de representação política exercida por esta entidade sindical na região Alto Uruguai. A realização deste trabalho contou com a pesquisa teórica que analisou o processo de ocupação e colonização da região Alto Uruguai e as noções de capital social, de movimento social, de agricultura familiar e de representação política. Realizamos a pesquisa empírica com associados do SUTRAF através da aplicação de 281 questionários e com a realização de 30 entrevistas, além de 8 entrevistas com dirigentes do SUTRAF. A forma como se dá a representação política do SUTRAF passou pela análise dos processos sociopolíticos que envolveram o campo sindical e a organização social dos agricultores nas décadas de 1980 e 1990, pelo reconhecimento da agricultura familiar e a criação da FETRAF e do SUTRAF nos anos 2000, seguidas pelas mudanças que passaram a ocorrer na agricultura familiar a partir da criação das políticas públicas, especialmente com a criação e ampliação do PRONAF. O maior acesso dos agricultores às políticas públicas e a adaptação ao mercado local e global tiveram reflexos, tanto em suas atividades produtivas e no comportamento sociopolítico dos agricultores familiares, quanto na atuação do SUTRAF, que, como representante político, passou a atuar na conquista de políticas que atendessem as novas demandas de seus associados, estabelecendo uma relação de proximidade com o governo federal e executando projetos na habitação rural e na assistência técnica. Com o maior acesso ao crédito, houve a diversificação da produção, novas formas de comercialização, maior qualificação e o uso de novas tecnologias, alterando as características do setor produtivo da agricultura familiar, que passou a desenvolver a fruticultura, as agroindustrias familiares, a olericultura, o turismo rural, além de manter a produção de soja e de milho, a produção do leite, a criação de gado, de aves e de suínos. Buscamos relacionar as características socioeconômicas dos associados com a relação política com o SUTRAF e identificamos que existe uma heterogeneidade, tanto socioeconômica, quanto sociopolítica. Com esta análise, foi possível concluir que existem três tipos de associados: "engajados", que participam das atividades do SUTRAF e praticam a diversificação da produção, priorizando a criação de agroindústrias familiares, a fruticultura, a olericultura e o turismo rural; os "acomodados", que pouco participam do sindicato e desenvolvem em menor grau a diversificação, mantém a produção da soja, do milho e a produção do leite e os "descomprometidos", que não participam do SUTRAF, priorizam a produção da soja, do milho, de suínos, do leite ou aves. Concluímos que os problemas apontados pelos agricultores associados, como o endividamento, o alto custo de produção, a melhor organização das feiras de produtores e a falta de um preço mínimo para o leite e aves, são demandas que não estão produzindo lutas e mobilizações do SUTRAF, apenas negociações com o governo federal. Por fim, o sindicato tem atuado mais na execução de políticas públicas do que no trabalho de organização social e nas mobilizações por novas políticas, o que pode significar a perda de autonomia e o desvio de sua função como representante político. Abstract: This study aimed to analyze the socioeconomic characteristics of the members of Unified Syndicate Union of Workers from Family Agriculture (SUTRAF) in the Alto Uruguai region (RS, Brazil) and implications for the process of political representation exercised by this labor union in the Alto Uruguai region. This work included the theoretical research that examined the process of occupation and colonization of the Alto Uruguay and the notions of social capital, social movement, family farming and political representation. We conduct empirical research associated with the SUTRAF by applying 281 questionnaires and conducting 30 interviews, and interviews with 8 SUTRAF leaders. The way how is the political representation of SUTRAF passed by analysis of sociopolitical processes involving the field of association and social organization of farmers in the 1980s and 1990s, the recognition of family farms and the creation of FETRAF and SUTRAF in the 2000s, followed the changes that began to occur in family agriculture through the creation of public policies, especially with the creation and expansion of PRONAF. The increase access by farmers to public policies and adaptation to local and global market had reflexes in both their productive and sociopolitical behavior of farmers, and in the performance of SUTRAF, that as political representative, began operating in the conquest of political that meet the new demands of its members, establishing a close relationship with the federal government and executing projects in rural housing and technical assistance. With greater access to credit, there was diversification of production, new ways of marketing, higher qualification and use of new technologies, changing the characteristics of the productive sector of family agriculture, which began to develop horticulture, agro-industries the relatives, horticulture, rural tourism and as well to maintain the production of soybeans and corn, the milk production, cattle breeding, poultry and pigs. We seek to relate the socioeconomic characteristics associated with the political relationship with SUTRAF and identified that heterogeneity exists both socioeconomic as well as sociopolitical. With this analysis, it was concluded that there are three types of members: "the engaged", who actively participate in SUTRAF activities and practices, diversifying your rural production, prioritizing the creation of family agribusinesses, the horticulture, and the rural tourism; "the accommodated", who little participate in the syndicate worker union and develop lesser extent diversification, maintains the rural production of soybeans, corn and milk production; and "the uncommitted", which do not participate in SUTRAF, prioritize the production of soybeans, corn, pigs , milk or poultry. However, we conclude that the issues raised by the member farmers, such as debt, the high cost of production, better organization of farmers' markets and the lack of a minimum price fixed by government for milk and poultry, are demands that are not producing the struggles and SUTRAF mobilizations, only negotiations with the federal government. Finally, the union has acted more in the execution of public policy than in the work of social organization and mobilization by the new policies, which could mean the loss of autonomy and the diversion of its function as a political representative.