A aloimunização eritrocitária é a formação de um anticorpo à exposição de um antígeno não próprio no indivíduo, podendo ocorrer em uma transfusão de sangue, gestação ou transplante. Essa formação dos anticorpos irregulares pode ser responsável por reações transfusionais hemolíticas graves durante a transfusão de hemocomponentes incompatíveis. Em pacientes politransfundidos, a taxa de aloimunização pode atingir 30% dos indivíduos e, após ser sensibilizado, há chance de 20 a 30 vezes de formar um novo anticorpo, sendo um importante problema naqueles pacientes que recebem suporte de transfusões crônicas. Existem fatores que podem estar envolvidos no aumento dessa taxa, como: o número de transfusões, o grau de imunogenicidade do antígeno, fatores genéticos do paciente e fatores adquiridos relacionados à doença. O objetivo deste trabalho é determinar a prevalência de aloimunização e avaliar fatores predisponentes, a fim de coadutar informações que embasem a mudança do protocolo institucional. Através de um estudo coorte retrospectivo, foram analisados os históricos transfusionais de 287 pacientes que realizaram transfusões de concentrado de hemácias no ambulatório do serviço de Hemoterapia, no período de 2007 a 2017. O critério de inclusão do trabalho foram pacientes com síndrome mielodisplásica, anemias aplásticas, esferocitose hereditária, anemias hemolíticas e hemoglobinopatias (anemia falciforme e talassemia), que receberam pelo menos uma unidade de concentrado de hemácias no período do estudo. Observamos uma prevalência de aloimunização de 26%, sendo mais comuns os anticorpos do sistema Rh (52,6%) e Kell (28,9%). Destes pacientes, 28 (9,8%) desenvolveram múltiplos anticorpos, sendo a combinação mais frequente a dos anticorpos anti-D e anti-C (13,6%). O sistema Rh e Kell estão presente em 97,7% das combinações de anticorpos encontrados. Analisando as variáveis que predispõem a aloimunização, observamos associações estatística significativa entre o fator RhD negativo (P=0,004), profilaxia inicial (sistema Rh e Kell) (P=0,039) e alelo HLA-DRB1*15 (P=0,035). Entretanto, ao analisarmos o número de bolsas transfundidas até adquirir o anticorpo, observamos aparentemente uma associação inversa. Com o propósito de esclarecer este achado, realizamos uma análise multivariável, com as principais variáveis envolvidas, e observamos que apenas a variável alelo HLA-DRB1*15 manteve sua associação significativa no modelo de regressão final. Esses dados indicam que o risco à aloimunização é ditado não só pelos fator extrínsecos (exposição), mas também por fatores intrínsecos, como fatores genéticos e doença base, sugerindo que existem populações de pacientes com maior benefício de profilaxia estendida. Erythrocyte alloimmunization is the formation of an antibody by the exposure to an antigen that does not belong to the individual, and it may take place in a blood transfusion, pregnancy, or transplantation. Such formation of irregular antibodies may account for severe hemolytic transfusion reactions during the transfusion of incompatible blood components. In polytransfused patients, the rate of alloimmunization can reach 30% of individuals, and, after sensitization, there is a 20-30-fold chance of formation of a new antibody, and this is a major problem in those patients receiving chronic transfusion support. There are factors that may be involved in the increase in this rate such as: number of transfusions, degree of antigen immunogenicity, patient's genetic factors, and disease-related acquired factors. The objective of this paper is to determine alloimmunization prevalence and assess predisposing factors in order to gather information to support an institutional protocol change. By means of a retrospective cohort study, the transfusion history of 287 patients subjected to transfusions of red cell concentrates at an outpatient hemotherapy service from 2007 to 2017 was analyzed. The inclusion criteria of the study were patients presenting with myelodysplastic syndrome, aplastic anemia, hereditary spherocytosis, hemolytic anemia and hemoglobinopathies (sickle cell anemia and thalassemia) who received at least one unit of red cell concentrate in the period under study. We observed an alloimmunization prevalence rate of 26%, with Rh (52.6%) and Kell (28.9%) antibodies being the most common. Of these patients, 28 (9.8%) developed multiple antibodies, and the most frequent combination was that of anti-D and anti-C antibodies (13.6%). The Rh and Kell systems are present in 97.7% of the antibody combinations found. By analyzing the variables predisposing to alloimmunization, statistically significant associations were observed between RhD negative factor (P=0.004), initial prophylaxis (Rh and Kell systems) (P=0.039) and HLA-DRB1*15 allele (P=0.035). However, when the number of transfused bags until an antibody was acquired was analyzed, an apparently inverse association was noted. In order to elucidate this finding, a multivariate analysis was carried out with the main variables involved, and only the HLA-DRB1*15 allele variable maintained a significant association in the final regression model. These data indicate that the alloimmunization risk is dictated not only by extrinsic factors (exposure), but also by intrinsic factors, as genetic factors and underlying disease, suggesting that there are patient populations who achieve a greater benefit from extended prophylaxis.