Os gastos em saúde podem representar uma importante parcela dos investimentos governamentais, principalmente nos países em que o sistema de saúde é universal. Tendo em vista a ampliação dos gastos nos últimos anos, sobretudo na assistência oncológica, cresce a necessidade de avaliações econômicas para orientar a tomada de decisão e formulação de políticas públicas. O objetivo do estudo foi avaliar os custos diretos da assistência oncológica no âmbito do Sistema Único de Saúde, entre 2001 e 2014. Trata-se de um estudo de custo da doença, realizado a partir da Base Nacional em Oncologia, coorte histórica de pacientes oncológicos obtida por pareamento determinístico-probabilístico de dados provenientes do DataSUS. A população foi composta por pacientes diagnosticados com câncer de próstata, mama, estômago, cólon e reto, colo do útero e pulmão, submetidos a tratamento oncológico por quimioterapia e/ou radioterapia, podendo inclusive ter realizado cirurgia em conjunto às demais formas de tratamento. Foram incluídos todos os custos diretos relacionados a diagnóstico, quimioterapia, radioterapia, cirurgia e internações. A correção dos valores obtidos ocorreu pelo IPCA registrado em dez/2015. Para avaliar a evolução dos custos diretos no período, foram elaboradas séries históricas de acordo com variáveis de interesse. Como resultados da pesquisa, foram incluídos no estudo 954.091 pacientes, distribuídos entre câncer de mama (40,1%), próstata (22,3%), cólon e reto (13,2%), colo do útero (11,5%), pulmão (7,9%) e estômago (5%). Ao longo de 14 anos, os custos diretos totalizaram R$14,9 bilhões, onde a maior mediana de custo direto foi atribuída ao paciente de câncer cólon e reto (R$15.467,9), seguido do câncer de mama (R$11.398,9) e colo do útero (R$10.572,4). Em relação aos tipos de procedimentos, a maior parcela dos custos diretos no período destinou-se à quimioterapia (R$9,5 bilhões), radioterapia (R$2,5 bilhões) e cirurgia (R$1,3 bilhões). Por sua vez, o gasto estimado com exames diagnósticos foi de R$0,6 bilhões, valor que representou 4% do custo direto total gerado pela assistência oncológica da população em estudo. Verificou-se que, entre 2001 e 2014, os custos diretos da assistência oncológica cresceram cerca de 419%. Entretanto, no mesmo período, o número de pacientes tratados anualmente subiu em proporção mais elevada (503%). Avaliando o custo médio anual por paciente no período, observou-se uma redução considerável dos valores até o ano de 2008, retomando o crescimento até o ano de 2014, mas que não atingiu a média estimada no início do período, sugerindo que os recursos investidos na assistência oncológica não tenham sido efetivamente ampliados, mas apenas reagido ao aumento da incidência do câncer. Considerando que parte da assistência oncológica é realizada por meio do Fundo de Ações Estratégicas e Compensação, cujos valores não constam nas estimativas deste estudo, deve-se avaliar, em outras perspectivas, se houve realmente uma redução dos valores investidos por paciente oncológico no âmbito do SUS. Por fim, apesar de suas limitações, este estudo se mostra capaz de balizar a elaboração de pesquisas mais aprofundadas sobre o tema, não esgotando em si futuras investigações acerca do impacto econômico gerado pelo câncer no Brasil. Health expenditures can represent an important part of public investment, especially in countries where the health system is universal. As a result of the increasing expenses in recent years, especially in cancer care, grows the need of economic evaluations to guide decisionmaking and definition of public policy. The aim of this study was to evaluate the direct costs of cancer care in the Sistema Único de Saúde (SUS), between 2001 and 2014. This is a cost-ofillness study, based on the National Oncology Database, a historical cohort of oncological patients, constructed by deterministic-probabilistic linkage of healthcare system data from DataSUS. This study was composed of patients diagnosed with breast cancer, prostate cancer, stomach cancer, colorectal cancer, cervix cancer and lung cancer, who underwent oncological treatment by chemotherapy and/or radiotherapy, and who also could be treated by surgery together with those treatment forms. All direct costs related to diagnosis, chemotherapy, radiotherapy, surgery and inpatient care were included. The correction of the values occurred by IPCA index referred on December/2015. To evaluate the increase of direct costs in the study, were constructed historical series according to the interest variables. Results: 954,091 patients were included in the study, ranging from breast cancer (40.1%), prostate cancer (22.3%), colorectal cancer (13.2%), cervix cancer (11.5%), lung cancer (7.9%) and stomach cancer (5.0%). Over 14 years, the total of direct costs was R$14.9 billion, from which the highest median direct cost was attributed to the patient with colorectal cancer (R$15,467.9), followed by breast cancer (R$11,398.9) and cervix cancer (R$10,572.4). Referring to the types of procedures, the largest share of the direct costs in the period was allocated to chemotherapy (R$9.5 billion), radiotherapy (R$2.5 billion) and surgery (R$1.3 billion). On the other hand, the estimated direct cost for diagnostic exams was R$ 0.6 billion, which represented 4% of the total direct cost resulted by oncological care of the study's population. We observed that, between 2001 and 2014, the direct costs of cancer care increased about 419%. However, in the same period, the number of patients treated annually grew up by a higher proportion (503%). Evaluating the average annual cost per patient in the period, it was observed a considerable reduction of the values until 2008, resuming the growth until the year 2014, but not equal as registered at the beginning of the follow-up, suggesting that invested resources may not have been increased in fact, only reacted the cancer incidence growth. Considering that part of the cancer care financing occurred by the Strategic Actions and Compensation Fund, whose values were not included in the estimates of this study, it should be evaluated, in other perspectives, whether there was in fact a reduction of the amounts directed per person to cancer care in the scope of SUS. Finally, despite its limitations, this study can be able to guide the construction of more detailed research on this subject, not exhausting future investigations about the economic burden of cancer in Brazil.