FAPEMIG - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais O presente trabalho visa pesquisar as políticas literárias promovidas por Roberto Bolaño na representação do escritor latino-americano, sendo considerado por sua fortuna crítica (VOLPI, 2006; ECHAVARRÍA,2013) o primeiro autor a romper com o paradigma do boom no imaginário mundial. Para levar a cabo essa tarefa, partiremos das demandas do campo editorial da década de 1990 – extremamente conformado às estéticas do realismo mágico –, para notar que não só Bolaño, mas também outros escritores denunciam uma divisão dos saberes e temas a serem tratados pela literatura de países periféricos e hegemônicos. No caso do nosso escritor, considerando o momento histórico das ditaduras latino-americanas e da ascensão do neoliberalismo, os nacionalismos são lidos em contiguidade com o padrão hegemônico de poder (QUIJANO, 2002), via de regra branco, capitalista e heterossexual. Trata-se, portanto, de tomar uma posição própria diante da oposição universal-global e regional-nacional, já que essas instâncias são percebidas de modo contínuo em suas intervenções críticas. No entanto, em contrapartida, como leitor da tradição canônica latino-americana, Bolaño realiza uma interpretação que a percebe como espaço de saída, isto é, o necessário abandono dos aspectos formais, mas a indispensável retomada, de modo não ortodoxo, de alguns de seus aspectos utópicos e anticoloniais. Propõe-se assim percorrer um percurso em que o escritor, de um lado, forja pela ficção um movimento literário – o Realvisceralismo – para promover um ajuste de contas com as tragédias latino-americanas do século XX (ROJO, 2004), mas também para encenar o abandono do lugar próprio do escritor latino-americano, propondo outros eixos de interpretação para a prática literária. De outro, reposicionando o referente latino-americano em diferentes horizontes de expectativas, sua obra dispõe de um mapa literário de alcance mundial. Nele, o fator latino-americano deixa de significar territorialidade ou consanguinidade (dentre tantos outros usos conservadores) para ganhar os contornos históricos dessa experiência no mundo, marcando-o como resultado de uma modernidade global fracassada ou como iteração particular da violência com que os diferentes povos foram integrados ao sistema mundo moderno. The present work aims to research the literary policies promoted by Roberto Bolaño in the representation of the Latin American writer, being considered by his critical fortune (VOLPI, 2006; ECHAVARRÍA, 2013) the first author to break with the “boom” paradigm in the world imaginary. To carry out this task, we will start from the demands of the publishing field of the 1990s – extremely conformed to the aesthetics of magical realism – to note that not only Bolaño, but also other writers denounced a division of knowledge and themes to be addressed by literature of peripheral and hegemonic countries. In the case of our writer, considering the historical moment of Latin American dictatorships and the rise of neoliberalism, nationalisms are read in contiguity with the hegemonic pattern of power (QUIJANO, 2002), as a rule, white, capitalist and heterosexual. It is, therefore, about taking a stand of its own in the face of universalglobal and regional-national opposition, as these instances are continuously perceived in Bolaño’s critical interventions. However, on the other hand, as a reader of the Latin American canonical tradition, the author performs an interpretation that perceives it as an exit space, that is, the necessary abandonment of formal aspects, but the indispensable resumption, in an unorthodox way, of some of its utopian and anticolonial aspects. Thus, we propose to follow a path in which the writer, on one hand, forges a literary movement through fiction – Realvisceralism – to promote a reckoning with the Latin American tragedies of the 20th century (ROJO, 2004), but also to stage the abandonment of the Latin American writer's place, proposing other lines of interpretation for literary practice. On the other hand, repositioning the Latin American referent in different horizons of expectations, Bolaños’s work has a worldwide literary map. In it, the Latin American factor ceases to signify territoriality or consanguinity (among many other conservative uses) to gain the historical contours of this experience in the world, emphasizing the Latin American factor as a result of a failed global modernity or as a particular repetition of the violence with which different peoples were integrated into the modern world system.