Esta tese apresenta elementos da simbólica religiosa islâmica, observados junto às comunidades muçulmanas das cidades de São Paulo e de São Bernardo do Campo, através da etnografia de suas festas - Desjejum e Sacrifício - e da oração obrigatória das sextas-feiras. Fundamenta-se, ainda, na análise de entrevistas, presenciais ou via Orkut e MSN, e na produção de vídeos e fotografias que interagem diretamente com o conteúdo aqui apresentado.Com apoio na teoria da performance, busca-se responder à seguinte questão: qual o sentido de ser muçulmano? Consideramos que o ethos muçulmano se expressa na recitação da palavra sagrada, sendo a noção de comportamento restaurado, proposta por Richard Schechner (1985), adequada à compreensão de uma religiosidade que se efetiva pela prática diária da oração, manifesta-se no comportamento e constitui performance. A Antropologia da Performance percorre a tese, especialmente como ferramenta de análise de diversas performances - dos muçulmanos (reversos ou de nascimento), do sheik e da própria pesquisadora -, em momentos de festas ou de oração. Nestes contextos foi possível apreender as redes que as constituem - o modo de ser \"correto\" e as formas negociadas de apropriação da religião -, estabelecendo-se, ainda, os significados do jejum do mês do Ramadã, da matança dos carneiros, da recitação do Alcorão, da construção do corpo feminino e da (re)elaboração dos sentidos que perpassam a religião.A conclusão a que chegamos, após nove anos de pesquisa (somando o período do mestrado com o doutorado), é de que, para o ser muçulmano, a vivência do Islã é uma entrega total a Deus, na qual se articulam, pela oração, não apenas as palavras, as ações e os gestos que a acompanham, mas também o corpo e os sentidos. Prostrar-se na oração é, sobretudo, um sinal de entrega, não só dos pensamentos, das palavras e do coração, mas do corpo e do espírito. This thesis presents elements of Islamic religious symbolism observed among the Muslim communities of São Paulo and São Bernardo dos Campos. Research material is largely drawn from an ethnography of festivals - sacrifice and the breaking of fast - and Friday mandatory prayer. The thesis is also based upon the analysis of interviews, carried out in the presence of the researcher or by means of Orkut and MSN, and the production of videos and photographs that interact directly with the written text. In accordance with performance theory, an attempt is made to answer the following question: what is the meaning of being a muslim? We consider that the muslim ethos expresses itself in the recitation of the sacred word. The notion of restored behavior, proposed by Richard Schechner (1985), is particularly helpful for understanding a religious experience that becomes effective in daily prayer, and expresses itself through behavior, as performance. The Anthropology of Performance is used throughout the thesis, especially as a tool to analyze various performances - of muslims (by birth or conversion), of the sheik and of the researcher herself, during festivals and prayers. It was possible, in such contexts, to apprehend networks that constitute these performances - as expressions of \"appropriate\" behavior and negotiated forms of embodying religious experience. Also, it was possible to determine the manner in which meaning was attributed to Ramadan fasting, killing of lambs, Koranic recitations, and construction of the feminine body. Furthermore, attention is given to ways in which religious meaning is (re)elaborated.After nine years of research, at both master and doctoral levels, we have come to the conclusion that, for the Muslim, Islam involves an experience of complete surrender to God, as revealed in prayer, not only through words, actions, and gestures, but, also, through the very body and bodily senses. To prostrate oneself in prayer is a sign of surrender not only in word and thought, but, also, in body and soul.