CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Introdução: O canabidiol (CBD) é o segundo componente farmacologicamente ativo de maior quantidade presente nas variedades da planta Cannabis sp. Diferentemente do THC, o principal componente psicotomimético responsável pelos sinais comumente observados em pessoas que fazem o uso recreativo da Canabis, o CBD não apresenta efeitos psicotomiméticos e recentemente vem recebendo grande interesse por parte da comunidade científica devido ao seu potencial como um agente farmacológico no tratamento da ansiedade e de distúrbios do sono. Além disso, sabe-se que o canabidiol apresenta um grande potencial anti-inflamatório, podendo ser utilizado para o tratamento de algumas dores de origem inflamatória. Nesse contexto, sabe-se do potencial do canabidiol como um agente analgésico, mas pouco se sabe sobre sua eficiência no tratamento da dor neuropática, uma dor de difícil tratamento cujos impactos provocam grandes prejuízos para a qualidade de vida de pacientes que sofrem dessa condição. Além disso, os tratamentos disponíveis para a dor neuropática são limitados e nem sempre trazem ao paciente um alívio completo da sensação dolorosa. Por esse motivo, novas abordagens farmacológicas são necessárias para melhorar o tratamento a esses pacientes. Objetivo: O presente trabalho tem como objetivo avaliar a hipótese do mecanismo analgésico do canabidiol administrado sistemicamente, e de forma crônica, para o tratamento da dor neuropática e determinar quais são os mecanismos endógenos envolvidos com essa analgesia. Métodos: A dor neuropática foi induzida pela constrição do nervo ciático e o limiar nociceptivo foi medido através do teste de compressão da pata em camundongos. O canabidiol foi administrado pela via intraperitoneal durante 10 dias consecutivos, a partir do 11º dia após a cirurgia, e todas as demais drogas foram administradas no 21º dia após a cirurgia de constrição do nervo ciático pela via intraplantar, com exceção das drogas utilizadas no teste de avaliação da coordenação motora que também foram administradas por via intraperitoneal. Para a avaliação dos níveis proteicos de canais para potássio sensíveis ao ATP na pata dos camundongos, foi utilizada a técnica de western blot. Resultados: A cirurgia de constrição do nervo ciático foi eficiente para induzir a neuropatia e o CBD provocou antinocicepção de maneira dose-dependente, apresentando um efeito máximo na maior dose de 20 mg/Kg. Tal dose não é capaz de causar sedação ou ataxia, uma vez que os animais tiveram o mesmo tempo de permanência na haste giratória do teste de RotaRod que animais injetados com salina. Todos os experimentos farmacológicos subsequentes foram realizados no 21º dia após a cirurgia (ao final de 10 dias consecutivos de tratamento diário com CBD na maior dose de 20 mg/Kg). O NAN-190 e o SB366791, antagonistas seletivos dos receptores 5-HT1A e TRPV1, respectivamente, reverteram o efeito antinociceptivo induzido pelo CBD. De forma semelhante, o AM251 e o AM630, antagonistas seletivos dos receptores CB1 e CB2 canabinoides, respectivamente, também reverteram a antinocicepção provocada por 20 mg/Kg de CBD. Paralelamente, a inibição da recaptação de endocanabinoides e das hidrólises de anandamida e 2-AG usando o VDM11, MAFP e o JZL184, respectivamente, foi capaz de potencializar a antinocicepção produzida por uma dose intermediária de 2 mg/Kg de CBD. Os antagonistas seletivos de receptores µ e δ opioides, CTOP e naltrindole, respectivamente, reverteram a antinocicepção causada pelo CBD, porém o Nor-BNI, antagonista seletivo de receptores κ opioides, não provocou alteração na antinocicepção induzida pelo CBD. A inibição da hidrólise de peptídeos opioides endógenos com a bestatina também foi capaz de potencializar o efeito antinociceptivo de uma dose intermediária de CBD. Partindo para a avaliação da via intracelular no efeito antinociceptivo do CBD, a inibição da PI3Kγ com o AS605240 reverteu de forma dose-dependente a antinocicepção induzida pelo CBD. Em seguida, a inibição não seletiva das enzimas óxido nítrico sintase com o L-NOarg, bem como a inibição seletiva da enzima NOSn, usando o L-NPA, reverteu de forma dose dependente a antinocicepção induzida pelo CBD. Porém, a inibição seletiva das enzimas NOSi e NOSe, usando o L-NIL e o L-NIO, respectivamente, não alterou a antinocicepção induzida pelo CBD. De forma interessante, a inibição da produção de GMPc usando o ODQ, inibidor seletivo de guanilato ciclase solúvel, não alterou a antinocicepção mediada pelo CBD, porém o bloqueio seletivo de canais para K+ sensíveis ao ATP, usando a glibenclamida, reverteu de forma dose dependente a antinocicepção induzida pelo CBD. Conclusão: O canabidiol apresenta um efeito antinociceptivo frente a dor neuropática quando administrado sistemicamente e este efeito é mediado pela ativação de receptores canabinoides, opioides, pela via PI3Kγ/NOS/NO/KATP nos tecidos periféricos. Apoio financeiro: CNPq e CAPES. Introduction: Cannabidiol (CBD) is the second most abundant pharmacologically active component present in the Cannabis sp. Unlike THC, the main psychoactive component responsible for the signs commonly observed in people who make recreational use of Cannabis, CBD has no psychotomimetic effects and has recently received significant interest from the scientific community due to its potential as a pharmacological agent in the treatment of anxiety and sleep disorders. In addition, it is known that cannabidiol has n excellent anti-inflammatory potential and can be used to treat some types of inflammatory pain. In this context, the potential of cannabidiol as an analgesic agent is known, but little is known about its efficiency in the treatment of neuropathic pain, a difficult-to-treat pain which greatly impacts the quality of life of patients suffering from this condition. In addition, the treatments available for neuropathic pain are limited and do not always bring complete relief from the painful sensation. For this reason, new pharmacological approaches are needed to improve treatment for these patients. Aim: The present study aims to evaluate the analgesic mechanism of cannabidiol administered systemically for the acute treatment of neuropathic pain and determine the endogenous mechanisms involved with this analgesia. Methods: Neuropathic pain was induced by sciatic nerve constriction surgery, and the nociceptive threshold was measured using the paw compression test in mice. Cannabidiol was administered intraperitoneally, and all other drugs were administered intraplantar, apart from drugs used in the motor coordination assessment test. Results: Sciatic nerve constriction surgery efficiently induced neuropathy, and CBD caused dose-dependent antinociception and had a maximum effect at the highest dose of 20 mg/kg. Such a dose is not capable of causing sedation or ataxia since the animals spent similar times on the RotaRod test as animals injected with saline. NAN-190 and SB366791, selective antagonists of 5-HT1A and TRPV1 receptors, respectively, reversed the antinociceptive effect induced by CBD. Similarly, AM251 and AM630, selective cannabinoid CB1 and CB2 receptor antagonists, respectively, also reversed antinociception caused by 20 mg/kg of CBD. Parallel to that, the inhibition of hydrolysis and reuptake of anandamide and 2-AG using MAFP, VDM11, and JZL184, respectively, potentiated the antinociception produced by an intermediate dose of 2 mg/kg of CBD. The selective µ and δ opioid receptor antagonists, CTOP and naltrindole, respectively, reversed the antinociception caused by CBD. However, Nor-BNI, a selective κ opioid receptor antagonist, did not cause alteration in CBD-induced antinociception. Hydrolysis inhibition of endogenous opioid peptides with bestatin also potentiates the antinociceptive effect of an intermediate dose of CBD. After assessing the intracellular pathway in the antinociceptive effect of CBD, the inhibition of PI3Kγ with AS605240 reversed the CBD-induced antinociception in a dose-dependent manner. The non-selective inhibition of nitric oxide synthase enzymes with L-NOarg, as well as the selective inhibition of nNOS enzymes using L-NPA, reversed the dose-dependent antinociception induced by CBD. However, the selective inhibition of iNOS and eNOS, using L-NIL and L-NIO, respectively, did not alter CBD-induced antinociception. Interestingly, the inhibition of cGMP production using ODQ, a selective soluble guanylate cyclase inhibitor, did not alter CBD-mediated antinociception, but selective blocking of ATP-sensitive K+ channels, using glibenclamide, dose-dependently reversed CBD-induced antinociception. Conclusion: Cannabidiol has an antinociceptive effect when administered systemically and this effect is mediated by the activation of cannabinoid and opioid receptors and via the PI3Kγ/NOS/NO/KATP pathway in peripheral tissues. Financial support: CNPq and CAPES.