Introdução: Para controlar a pandemia de VIH a UNAIDS desenvolveu os objetivos 95- 95-95 para serem atingidos até 2030. A concretização destes objetivos pode ser dificultada pelo aparecimento de mutações de resistência devido ao uso intensivo da terapia antirretroviral ou também à existência de indivíduos com apresentação tardia (IAT) ao diagnóstico. Estes IAT não só impactam os resultados dos seus próprios tratamentos como são também uma ameaça para alcançar os objetivos da UNAIDS, uma vez que podem potenciar, de forma inconsciente, a transmissão do VIH. Objetivos: Primeiro, identificar as caraterísticas sociodemográficas e clínicas dos indivíduos infetados com VIH-1, bem como identificar os determinantes da apresentação tardia em Portugal e na Europa. Segundo, descrever os padrões de resistência transmitida (TDR) e de resistência adquirida (ADR) em indivíduos infetados com VIH-1 seguidos na Europa, comparar os seus padrões de resistência IAT e indivíduos com apresentação nãotardia (IANT) e analisar as mutações de resistência aos antirretrovirais nos diferentes subtipos de VIH-1. Para finalizar, descrever e caraterizar os clusters de transmissão (CT) de VIH-1 na Europa e comparar o papel dos IAT com os IANT nos CT do VIH-1. Metodologia: No primeiro estudo, a base de dados utilizada incluiu dados clínicos e sociodemográficos de indivíduos infetados com VIH-1 seguidos no Hospital Egas Moniz, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental (CHLO), Lisboa, Portugal, entre1984 e 2017. Nos outros estudos, utilizou-se a EuResist Integrated Database (EIDB) que inclui dados sociodemográficos, clínicos e genómicos de indivíduos infetados com VIH-1 seguidos na Europa (Portugal, Espanha, Alemanha, Luxemburgo, Rússia, Reino Unido e Itália) entre 1981 e 2019. Para a análise dos CTs, foram utilizadas informações de indivíduos infetados pelos subtipos mais prevalentes (B, A e G). Resultados: No primeiro estudo, 68,7% dos indivíduos infetados com VIH-1 eram homens com uma mediana de idade de 37 anos (IQR 30–47). 50,6% destes indivíduos tinham apresentação tardia (AT) e desses 61,9% tinham apresentação tardia com doença avançada. Os determinantes associados à AT foram idade ao diagnóstico superior a 30 anos e origem em países da África subsaariana. No segundo estudo, entre os indivíduos incluídos na análise a mediana de idade foi igual a 33 anos (IQR: 27,0–41,0) e 74,4% eram homens. 50,4% destes indivíduos tinham AT e os determinantes associados foram idade acima de 56 anos, heterossexuais, indivíduos com origem em países africanos e com carga viral abaixo de 4,1cópias/mL. No terceiro estudo, a mediana de idades obtida foi igual a 37 anos (IQR: 27,0–45,0) e 72,2% eram homens. 71,9% dos indivíduos tinham sido infetados pelo subtipo B e 54,8% foram classificados com AT. Para AT e apresentação não-tardia (ANT) a prevalência de TDR foi 12,3% e 12,6% respetivamente, e a de ADR foi de 69,9% e de 68,2% respetivamente. As mutações mais prevalentes observadas em IAT e IANT foram K103N/S, T215rev, T215FY, M184I/V, M41I/L, M46I/L e L90M. No quarto estudo, o subtipo mais prevalente nos indivíduos infetados com VIH-1 foi o subtipo B (84,7%) seguido do subtipo G (9,4%) e subtipo A (5,9%). A idade mediana foi de 33 anos (IQR: 26,0-41,0) e 75,5% eram homens. 51,4% dos indivíduos infetados com VIH-1 tinham AT e 21,6% estavam dentro de CTs. As análises filogenéticas demonstraram que apenas 17,6% dos IAT estavam dentro de CTs comparados com 20,2% dos IANT. Para os subtipos A e B, verificou-se que os IAT dentro de CTs foram caracterizados por uma menor percentagem de homens e por uma maior percentagem de indivíduos mais velhos comparativamente aos IANT. Para os subtipos B e G, os IAT dentro de CTs apresentaram maior percentagem de tratados comparativamente com os IANT. No subtipo G, os IAT dentro de CTs, eram maioritariamente utilizadores de drogas intravenosas comparativamente com os IANT. Analisando o tamanho dos CTs, verificou-se que os IANT pertenciam a grandes CTs (>8 indivíduos) comparativamente aos IAT. Conclusão: A AT é considerada um dos grandes obstáculos para travar a epidemia do VIH e uma ameaça à transmissão do mesmo. Os nossos resultados apresentam as características sociodemográficas e clínicas dos IAT na Europa e indicam que estes não contribuem, de forma significativa, para a transmissão dos VIH-1. Os resultados encontrados podem contribuir para o desenvolvimento de medidas de prevenção e para uma melhor compreensão das mutações de resistência e falhas terapêuticas nesta população de indivíduos. Palavras- Background: To control the HIV pandemic, the UNAIDS set the 95-95-95 targets to be reached by 2030. These targets can be more difficult to achieve, whether due to the appearance of drug resistance mutations regarding the increasing use of antiretroviral therapy (ART) or due to individuals who present late at diagnosis (late presenters-LP). These individuals can not only impact treatment outcomes, but also threat UNAIDS goals, as well as potentiate the spread of HIV. Aims: First, to identify clinical and sociodemographic characteristics of HIV-1 infected patients, as well as to identify determinants of late presentation in Portugal and in Europe. Second, to describe the patterns of transmitted drug resistance (TDR) and acquired drug resistance (ADR) in HIV-1 infected patients followed in Europe (Portugal, Spain, Germany, Luxembourg, United Kingdom, Russia and Italy), to compare its patterns in late presenters (LP) vs non-late presenters (NLP), and to analyze the most prevalent drug resistance mutations among HIV-1 subtypes. And finally, to describe and characterize HIV-1 transmission clusters in Europe and to compare the role of LP vs NLP populations on HIV-1 transmission clusters (TC). Methods: For the first study, the database included clinical and sociodemographic information from HIV-1-infected patients followed in Hospital Egas Moniz, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental (CHLO), Lisbon, Portugal, between 1984 and 2017. For the other studies, the EuResist Integrated Database (EIDB) included socio-demographic, clinical, and genomic information from HIV-1 infected patients followed between 1981 and 2019. For the analysis of TC, information from patients infected with the most prevalent subtypes B, A and G was analyzed. Results: In the first study, 68.7% of patients were males and the median age was 37 years (IQR 30–47). 50.6% patients were LP and, of those, 61.9% were late presenters with advanced disease (LPAD). The determinants associated with LP were age at diagnosis higher than 30 years and origin from sub-Saharan Africa. In the second study, among the HIV-1 infected patients included in the analysis, the median age was 33 (IQR: 27.0–41.0) years and 74.4% were males. 50.4% were late presenters and the determinants associated with late presentation were older patients (>56), heterosexuals, patients originated from Africa and patients presenting with log VL >4.1. In the third study, the median age of HIV-1 infected individuals was 37 (IQR: 27.0–45.0) years old and 72.6% were males. 71.9% of patients were infected by subtype B and 54.8% of patients were classified as LP. For LP and NLP, the TDR prevalence was 12.3% and 12.6%, respectively, while ADR, was 69.9% and 68.2%, respectively. The most prevalent TDR drug resistance mutations, in both LP and NLP, were K103N/S, T215rev, T215FY, M184I/V, M41I/L, M46I/L, and L90M. In the fourth study, the most prevalent subtype among those infected with HIV-1 was subtype B (84.7%), followed by subtype G (9.4%) and subtype A (5.9%). The median age was 33 (IQR: 26.0-41.0) years old and 75.5% of patients were males. 51.4% of patients were classified as LP and 21.6% of patients were inside TCs.Phylogenetic analyses showed that only 17.6% of LPs were inside clusters compared to 20.2% of NLPs. For subtypes A and B, we found that LP inside clusters were less frequently males and were older than NLPs. For subtypes B and G, LP inside clusters were more frequently treated than NLP. In subtype G, LP inside clusters more frequently had IDU transmission route than NLP. Finally, when analyzing cluster size, we found that NLP more frequently belonged to large clusters (>8 patients) when compared to LP. Conclusion: Late presentation is a major obstacle to halt the HIV epidemic and could be a threat to HIV-1 transmission. Our results characterize the socio-demographic and clinical characteristics of LPs in Europe and, all together, indicate that LPs are not important contributors to forward HIV-1 transmission. These results help to direct prevention measures for this population and to better understand drug resistance mutations and therapeutic failure in this population of patients.