1. Da ginga à sardinha: etnoictiologia e sistemática molecular de pequenos peixes de valor cultural da costa brasileira
- Author
-
Araújo, Thaís Ferreira Pinto de, Loeb, Marina Vianna, Jacobina, Uedson Pereira, Carvalho, Pedro Hollanda, and Lima, Sérgio Maia Queiroz
- Subjects
Diversidade críptica ,Clupeidae ,DNA mitocondrial ,Etnozoologia ,Recursos pesqueiros ,Espécies culturalmente importantes - Abstract
A avaliação de estoques pesqueiros para o manejo sustentável e medidas conservacionistas são feitas através da estatística pesqueira, que demanda dados confiáveis e é, na maioria dos casos, baseada em nomes populares. Entretanto, dados básicos como taxonomia, nomes populares, distribuição geográfica e delimitação de estoques, por exemplo, muitas vezes não estão disponíveis comprometendo o manejo pesqueiro. Assim, esse trabalho une etnoictiologia e análises filogeográficas dos clupeídeos Opisthonema oglinum e Harengula spp. com o objetivo de identificar seus nomes populares e investigar seus padrões filogeográficos, no intuito de delimitar estoques pesqueiros na costa brasileira. No primeiro capítulo, descrevemos a percepção dos pescadores e dos consumidores locais acerca da ginga, que são pequenos peixes costeiros que compõem o prato típico “ginga com tapioca”, patrimônio imaterial do Estado do Rio Grande do Norte. Através de entrevistas e obtenção de espécimes em feiras ou mercados de peixe de seis localidades, em três estados do Nordeste brasileiro, detectamos que ginga consiste em indivíduos juvenis de algumas espécies de sardinhas e arenques, e que a única diferença entre ginga e sardinha é o tamanho, representando a ginga os peixes menores e a sardinha os maiores, às vezes da mesma espécie. O termo é basicamente restrito à região metropolitana de Natal. Além disso, a ginga pode ser considerada uma “espécie culturalmente importante” e, consequentemente, deve estar entre as espécies-alvo para conservação e manejo local. No segundo capítulo, comparamos os padrões filogeográficos dos dois grupos mais representativos da ginga, O. oglinum e Harengula spp., ao longo de suas supostas distribuições no Atlântico Oeste, dos EUA até o sul do Brasil, usando o marcador mitocondrial CO1. Além disso, investigamos quantas populações existem desses táxons na costa brasileira e no arquipélago oceânico de Fernando de Noronha. Nesse arquipélago, as sardinhas são usadas como isca para pesca artesanal, e tem gerado um conflito entre os pescadores e os órgãos ambientais. A carência de informações básicas, como por exemplo, a identidade taxonômica das espécies, é fundamental para o manejo sustentável. Nossos resultados apontam O. oglinum como sendo uma única linhagem em todo o Atlântico Oeste, mas que possui estruturação populacional entre Brasil, EUA+México e Bermudas, e Harengula como sendo duas espécies, Harengula clupeola e H. jaguana na América do Norte e Caribe e uma distinta linhagem no Brasil, que possivelmente possa se tratar de uma nova espécie. Ao avaliar esses táxons em um contexto temporal, revelam que a separação entre as espécies de Harengula do hemisfério norte e do Brasil coincide com o aumento do fluxo da descarga dos rios Amazonas e Orinoco. Com esses resultados é possível observar que, apesar da biologia similar, O. oglinum e Harengula spp. não apresentam o mesmo padrão filogeográfico e devem ser manejadas de maneiras distintas. The assessment of fishery stocks for sustainable management and conservation measures are made using fishery statistics, which requires reliable data and is, in most cases, based on popular names. However, basic data such as taxonomy, popular names, geographical distribution, and delimitation of stocks, for example, often are not available, which compromise fishery management. Thus, this project combines ethnoichthyology and phylogeographic analyses of the clupeids Opisthonema oglinum and Harengula spp. to identify their popular names and investigate their phylogeographic patterns, and then delimit fish stocks on the Brazilian coast. In the first chapter, I describe the perception of fishers and local consumers of what is “ginga”, which are small coastal fish and are part of the typical dish “ginga com tapioca”, an intangible cultural heritage of the Rio Grande do Norte state. Through interviews and specimens at fish markets in six locations in three states of Northeastern Brazil, we found that “ginga” consists of juvenile individuals of some sardine and anchovy species, and that the only difference between “ginga” and sardine is the size, “ginga” representing the smaller fishes and sardines the larger, sometimes of the same species. The popular name is basically restricted to the metropolitan region of Natal city. In addition, the “ginga” can be considered a "culturally important species" and, therefore, should among the target species for conservation and local management. In the second chapter, we compare the phylogeographic patterns of the two most representative groups of “ginga”, O. oglinum and Harengula spp., along their supposed Western Atlantic distributions using the mitochondrial marker CO1. Additionally, we investigate how many stocks of these taxa are on the Brazilian coast and in the oceanic archipelago of Fernando de Noronha. In this archipelago, sardines are used as bait for artisanal fishing, and this have been generating a conflict between fishers and environmental agencies. The lack of basic information, such as the taxonomic identity of species, is essential for sustainable management. Our results indicate O. oglinum as a single lineage in the entire Western Atlantic, but shows population structure between Brazil, USA+Mexico, and Bermuda, and Harengula as two species, Harengula clupeola and H. jaguana in North America and the Caribbean and one distinct lineage in Brazil, which might be a new species. When evaluating these taxa in a temporal context, revealed that the separation between the Harengula species in the northern hemisphere and Brazil coincides with the increased discharge of the Amazon and Orinoco rivers. With these results it is possible to observe that, despite the similar biology, O. oglinum and Harengula spp. do not have the same phylogeographic pattern and must be handled differently.
- Published
- 2020