RESUMO - Introdução: A desigualdade em saúde é um importante problema de Saúde Pública. Em Portugal, e noutros países, existe evidência de que a doença está concentrada entre as pessoas com uma condição socioeconómica mais vulnerável. O objetivo deste estudo foi medir a dimensão da desigualdade socioeconómica na morbilidade e outros indicadores de saúde da população com 60 e mais anos residente em Portugal. Métodos: Este estudo utilizou os dados do Inquérito Nacional de Saúde de 2019 e a amostra incluiu as pessoas com 60 e mais anos (n=6762). A variável de caracterização socioeconómica foi o rendimento familiar e as variáveis de saúde analisadas foram agrupadas em três tipos, correspondendo à classificação de Blaxter, que distinguiu variáveis de morbilidade usadas em inquéritos de saúde de acordo com modelos de doença: subjetivo, médico e socio funcional. A desigualdade socioeconómica foi medida através de curvas e índices de concentração e foram calculados intervalos de confiança a 95% para cada índice. Resultados: Foi encontrada desigualdade socioeconómica, concentrada entre os mais pobres, para maioria das variáveis de saúde. Nas variáveis enquadradas no modelo subjetivo, a desigualdade foi mais acentuada na autoavaliação dos estados de saúde geral e oral. Em relação às variáveis correspondentes ao modelo médico de doença, a desigualdade entre os mais pobres foi evidente em doenças como: incontinência urinária, depressão e doença coronária. As variáveis correspondentes ao modelo socio funcional da doença foram aquelas em que a desigualdade foi mais acentuada, nomeadamente nas atividades da vida diária, como caminhar, subir/descer degraus, memória/concentração, morder/mastigar, deitar/levantar, vestir/despir, utilizar a sanita e tomar banho/duche e na dificuldade visual. Conclusão: O rendimento familiar esteve sistematicamente associado aos níveis de saúde da população portuguesa com 60 e mais anos, verificando-se uma concentração, entre os mais pobres, de baixa autoavaliação do estado de saúde, de disfunções fisiológicas e mentais e de limitações na capacidade funcional. O estudo das desigualdades socioeconómicas em saúde para as pessoas com 60 e mais anos deve ser aprofundado, através de investigação específica sobre o tema, em particular com vista ao delineamento de estratégias e políticas para mitigação das mesmas. ABSTRACT - Introduction: Health inequality is an important Public Health problem. In Portugal and other countries, there is evidence that disease is concentrated among people of more vulnerable socioeconomic status. The aim of this study was to measure the extent of socioeconomic inequality in morbidity and other health indicators in the population aged 60 and over living in Portugal. Methods: This study used data from the 2019 National Health Survey and the sample included people aged 60 and over (n=6762). The socio-economic characterisation variable used was family income and the health variables analysed were grouped into three types, corresponding to Blaxter’s classification, which distinguishes morbidity variables used in health surveys according to disease models: subjective, medical, and socio-interactional or functional. Socioeconomic inequality was measured using concentration curves and indexes, and 95% confidence intervals were calculated for each index. Results: For most health variables was found socioeconomic health inequality, concentrated among the poorest. In the variables framed within the subjective model, inequality was more pronounced in the self-assessment of general and oral health status. Regarding the variables corresponding to the medical model of disease, inequality among the poorest was evident in diseases such as urinary incontinence, depression, and coronary heart disease. The variables corresponding to the socio-interactional or functional model of disease were those in which inequality was more pronounced, namely in activities of daily living, such as walking, going up/down steps, memory/concentration, biting/chewing, lying down/standing up, dressing/undressing, using the toilet and taking a bath/shower, and in visual impairment. Conclusion: Family income was systematically associated with the health levels of the Portuguese population aged 60 and over, with a concentration of poor self-rated health, physiological and mental disorders, and limitations in functional capacity among the poorest. The research on socioeconomic inequalities in health for people aged 60 and over should be deepened through specific research on the subject, particularly with a focus on designing strategies and policies to mitigate them.