ResumoEste artigo tem como objetivo discutir e problematizar o ensino de matemática pautado nas práticas de memorização que, juntamente com a repetição e a recitação, mesmo que questionadas, ainda hoje, fazem parte desta disciplina escolar. O presente estudo parte das reflexões realizadas em uma Tese de Doutorado e tem como material empírico exemplares da Revista Nova Escola publicados entre os anos 1986 e 2015. A partir do referencial teórico e metodológico elaborado pelo filósofo Michel Foucault, buscamos dar visibilidade ao entrelaçamento de alguns enunciados que se configuram na análise das Revistas. Dentre os resultados da pesquisa, destacamos que: algumas práticas de memorização estavam, no passado, ligadas aos castigos físicos e, posteriormente, foram sendo reconfiguradas e adequadas às penalidades do espírito; o uso do corpo no ensino de matemática, para além das penalidades, estava ligado aos exercícios da mente, que incluem os treinos de memória ligados aos exercícios repetitivos; repetição constante estava alinhada ao ensino mecanizado desta disciplina; a recitação buscava transformar os mínimos gestos do corpo em força útil; e, por fim, a apreensão do tempo dos estudantes, visando ao seu máximo aproveitamento de forma linear e contínua, era um dos aspectos que perpassavam as práticas de memorização. Portanto, o estudo nos aponta para uma forma de poder, a qual Foucault denominou poder disciplinar, que atua na produção de corpos dóceis pela maquinaria escolar. Palavras-chave: Memorização. Educação Matemática. Poder disciplinar. AbstractThis paper aims to discuss and problematize the teaching of mathematics based on memorization practices, which together with repetition and recitation, even if questioned, are still part of this school discipline. This study, which parts of the reflections made in a Doctoral Thesis, has as empirical material Revista Nova Escola examples, published between 1986 and 2015. From the theoretical and methodological framework elaborated by the philosopher Michel Foucault, we seek to give visibility to the intertwining of some statements that are configured in the analysis of the Magazines. Among the research results, we highlight that: Some memorization practices were, in the past, linked to physical punishments, and were later reconfigured and appropriate to the penalties of the spirit; The use of the body in the teaching of mathematics, besides penalties, was linked to the exercises of the mind, which include memory training; this notion of body would be linked to repetitive math exercises; constant repetition would be in line with the mechanized teaching of this discipline; The recitation sought to transform the minimum gestures of the body into useful force; and, finally, the apprehension of the students' time, aiming at its maximum use in a linear and continuous way, is one of the aspects that pervade the memorization practices. Therefore, the study points us to a form of power, which Foucault called the disciplinary power that acts in the production of docile bodies by school machinery. Keywords: Memorization. Mathematics education. Disciplinary Power.