A proposta desta tese é inserir o tema saúde mental no interior da discussão sobre sistema de inovação em saúde. Inicialmente, sob o ponto de vista teórico, o setor saúde foi comparado aos demais setores de atividade econômica. As diferenças foram expressivas, o que estimulou estudos setoriais em saúde. A questão básica desta tese foi avaliar se há algo que distingue a saúde mental da saúde geral. A bibliografia consultada indica que há semelhanças importantes, uma vez que as especificidades da saúde mental determinam um conjunto de conexões dentro do sistema de inovação setorial em saúde, justificando a investigação conjunta com a saúde mental. Desta forma, será utilizado o conceito de sistema de inovação setorial em saúde para organizar a discussão. Situada a saúde mental no interior do sistema de inovação em saúde, pode-se investigar um conjunto de doenças, agrupadas sob um denominador comum (doenças mentais), buscando ampliar e compreender como elas podem ser articuladas com o sistema setorial em saúde. Estatisticamente, através da teoria dos conjuntos clássicos e dos conjuntos nebulosos, a avaliação realizada com os dados da saúde em geral e da saúde mental em particular, indica que competência na área de saúde mental pressupõe presença em termos de quantidade e ênfase em saúde geral. Mas, para fazer esta articulação, foi necessário dar um passo preliminar e conhecer as particularidades da saúde em geral vis-à-vis ao sistema nacional de inovação (NSI). Uma primeira tipologia de países, construída através da metodologia de clusters hierárquicos, que separa os países em desenvolvimento, pertencentes ao regime de interação II, dos países desenvolvidos, pertencentes ao regime III, identificou que há limiar de produção científica tanto para o sistema nacional de inovação quanto para o sistema setorial de inovação em saúde. Dadas as características deste setor, o ponto central é avaliar o salto científico e tecnológico necessário para que os países do regime II possam ingressar no regime III. Em primeiro lugar, não foi detectada interseção entre os dois regimes para o setor saúde e sim uma descontinuidade na produção científico-tecnológica entre ambos regimes. Em segundo lugar, a trajetória das retas representativas dos regimes II e III em saúde não é convergente. Isto significa que, para ultrapassarem o limiar de produção científica e ingressarem em estágios mais avançados, os países em desenvolvimento necessitarão ampliar significativamente sua infraestrutura científico-tecnológica em saúde, relativamente ao NSI. Avaliando os dados internacionais sobre publicações científicas, percebe-se que à medida que os países passam para níveis mais avançados de desenvolvimento, aumentam substancialmente sua produção científica e enfatizam o setor saúde. Esses dois movimentos abrem a possibilidade de países, incluindo o Brasil, construírem seus processos de catching up enfatizando o setor saúde. Por analogia, espera-se que a saúde mental seja também beneficiada, caso ocorra o fortalecimento do setor saúde. Sabe-se que as relações entre os diversos componentes do NSI são complexas e multifacetadas. No entanto, a disponibilidade de dados sobre artigos e patentes justifica a utilização desses indicadores como proxies de ciência e tecnologia (C&T), possibilitando analisar o padrão de comportamento entre ambos, para o sistema nacional de inovação e para o sistema de inovação setorial em saúde. Os modelos de dados em painel e de equações simultâneas foram estimados para verificar as interações entre C&T. A hipótese básica sobre a existência de determinação recíproca entre C&T foi confirmada, significando que a ciência lidera e é também seguidora da tecnologia. A partir da estrutura delineada, foi possível investigar quantitativamente a saúde mental, comparando-se a esfera científico-tecnológica com a esfera de atenção à saúde mental. Foram construídas duas tipologias de países. A primeira, similar à elaborada para o setor saúde, identifica os países que possuem produção sistemática em C&T em saúde mental. A segunda, utilizando uma nova base de dados, reagrupa os países com características semelhantes em relação à atenção à saúde mental. A comparação dos resultados permitiu constatar a persistência dos mesmos países em dois grupos extremos: por um lado, os melhores países do mundo em termos de C&T em saúde geral são também os melhores em C&T em saúde mental e possuem a melhor infra-estrutura de atenção à saúde mental; por outro lado, os piores países do mundo em C&T em saúde geral e em saúde mental possuem a pior infra-estrutura de atenção à saúde mental. No nível intermediário entre os extremos, situam-se alguns países, entre os quais o Brasil, que apresentaram produção científica em saúde mental. Numa avaliação preliminar e otimista, espera-se que o país aproveite o potencial científico que possui e avance no sentido de incentivar o setor produtivo na área. The aim of this thesis is to place the mental health theme within the discussion about the innovation health system.Firstly, the health sector was compared to the other sectors of economic activity from a theoretical point of view. As the differences among them proved to be substantial, studies on the health sector started to be carried out. The focus of the present thesis was to evaluate if there is something to differentiate mental health from general health. The bibliography used indicates that there are strong similarities, as the especifities of mental health determine a set of connections within the health innovation system, thus justifying a joint investigation into mental health. Therefore, the concept of a system of health innovation was used to organize the discussion.Once mental health is placed within the health innovation system, a number of illnesses, under the common denominator of mental illnesses, can be investigated aiming at expanding the understanding of how they can be linked to the health sector system. Statiscally, through the crisp sets and fuzzy sets, the evaluation based on data from general health and mental health in particular, indicates that competence in the mental health area presupposes a presence in terms of quantity and emphasis on general health. But to have this link, it was necessary, first of all, to know the particularities of health in general vis-à-vis the national innovation system (NSI).A preliminary typology of countries made by means of the methodology of hierarchical clusters has identified a threshold in scientific production, both for the NSI and the health NSI. The difference between them lies in the scientific-technological discontinuity in the health sector. This means that in order to go over the threshold of scientific production and get into more advanced stages of development, the developing countries need to expand significantly their scientific-technological infra-structure in health, as concerns the NSI.It is known that the relationship among the various components of the NSI is both complex and multifaceted. Yet, the availability of data about articles and patents justifies the use of these indicators as proxies of science and technology (C&T) with the additional possibility of analyzing the pattern of interaction between them, both for the national innovation system and for the health innovation system. The panel data and simultaneous equations models analyze the interactions between C&T. The basic theory about the existence of a mutual sense of determination between them has been confirmed, which means that science moves technology and technology also influences scientific development.From this outline, it was possible to investigate quantitatively mental health by comparing the scientific technological area with the one involving mental health care. Two typologies of countries were established. The first one, similar to that set up for the health sector, identifies those countries that have a systematic production of C&T in mental health. The second, using a new database, regroups those countries with similar characteristics as concerns mental health care. The comparison of the results made it possible to see the continuing presence of the same countries in two extreme groups: on one hand the best countries in the world in terms of C&T in general health are also the best ones in C&T in mental health and have the best infra-structure in mental health care as well; on the other hand, the worst countries in the world in C&T in general health and mental health have the worst infra-structure in mental health care.