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Timelines are well known temporal organizers in various types of African diasporic groove-based musics. But what happens when they are deliberately cut, rotated, or staggered? This article explores some compositional techniques used by Orkestra Rumpilezz, a big band from Bahia, Brazil, that combines jazz with Afro-Bahian carnival and sacred music and that bases its compositions on traditional and modified timelines. The paper offers metric interpretations of the orchestra’s timeline experimentations and relates them to their stated goal to “dignify and demonstrate the high level of rhythmic complexity of Afro-Bahian music.” The main demonstration is that the composer’s experimentations with timelines are a technique to increase rhythmic complexity and to elevate the status of Afro-Bahian music. Additionally, I propose a way to expand existing timeline models to account for more subtle and implicit relationships of timeline alignment found in Brazil. The main goal is to discover how the orchestra’s claimed rhythmic complexity is expressed through arrangement. This is achieved by combining music theory, analysis, and ethnographic work in Bahia.

his article considers representation, identity, perception, reception, and musical appropriation, within the so-called Bahian Percussive Universe in Salvador, Bahia, through the lens of Orkestra Rumpilezz. Rumpilezz is a relatively new big band from Salvador that specializes in the mixture of local rhythms (particularly from candomblé) with jazz. This orchestra portrays, constructs, and reinvents the local musical culture as centered in percussion and rhythm, engaging local and global discourses about the nature of African-derived musics. Based on ethnographic research, music analysis, and recent approaches to the study of music in society, here I discuss possible reasons for Rumpilezz's positive reception in Salvador.

Rubem Valentim (Brazil, Salvador, 1922 – Brazil, São Paulo, 1991), a Brazilian artist, professor, art journalist and critic, gained worldwide recognition in the 20th century as an abstract artist, representing Afro-Brazilian culture in his paintings.Many researchers have characterized Valentim’s art as concrete, placing his geometric abstractionism in a modernist frame and lining it to the development of concretism and neo-concretism in Brazil. In recent decades, more and more attention in research articles has been paid to the role of the symbolism of Brazilian syncretic cults in the visual style of the painter. An integrated approach to the study of Valentim’s creative heritage represents the artist’s appeal to the image of candomblé as an experiment of an artist and thinker, who is part of this religion, designed to introduce Afro-Brazilian culture into the international art context.This essay examines the creative method of R. Valentim, highlighting the main stages of his biography and work and tracking the evolution of his method and the formation of its mechanisms. Influenced by the trends taking place in world art, the artist develops an understanding of his own style, which several decades later is formalized in the manifesto. Local artistic trends and especially the visual code of the Afro-Brazilian cult of candomblé form the basis of what over the years develops into a unique sign system. The uniqueness of R. Valentim’s system lies in its universal character. It exists in the global context, forming part of abstract art primarily through associations, and at the local level there is also the recognition effect.

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Apesar da grande presença e importância das populações negras na formação da cultura brasileira e na constituição das bases materiais da economia nacional os seus legados somente em época recente têm sido objeto de reconhecimento e salvaguarda por parte dos órgãos públicos de patrimonialização, os quais durante muito tempo estiveram comprometidos em reforçar uma visão eurocentrada da história oficial do Brasil promulgada pelo Estado e suas elites. No artigo abordamos a tramitação dos processos de tombamento material e registro imaterial dos terreiros paulistas no Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico e Artístico (Condephaat), incluindo os debates ocorridos do âmbito do grupo de trabalho “Territórios tradicionais de matriz africana tombados em São Paulo”.

O dendê, símbolo peculiar e relevante da culinária nacional, tem sido objeto de investigação em diferentes vertentes, e neste trabalho será abordado pelo campo da visualidade e da cultura baiana. Buscou-se evidenciar o histórico do dendê, a tipologia e a classificação da estrutura formal, bem como a sua validação na religião de matriz africana do Candomblé. Nesse sentido, observa-se a existência do dendê na cultura material e imaterial das pessoas, sobretudo da população baiana, que interage nos modos de viver, trabalhar, conceber imagens e repertórios. A metodologia adotada é a revisão de literatura que compreende a identidade cultural, a identidade baiana, a cultura e o cultivo do dendê, e seu simbolismo no âmbito sagrado, que se consolidou com pensadores centrais como Munanga (2020), Mariano (2009), Barreto e Freitas (2008), Bolini (2012), Lody (1992, 2009), Moraes e Pachêco (1985), Correa (2012), Oliveira (2009). Desse modo, conclui-se que o dendê é um elemento interdisciplinar presente em diversos contextos do cotidiano como na cultura, na arte, nas relações de fé, em produtos, as ações efêmeras e o imaginário coletivo.

Este estudo objetivou analisar as representações sociais dos orixás presentes nas letras de cantigas de Candomblé reconhecidamente adotadas por comunidades religiosas. Pesquisa qualitativa, descritiva, desenvolvida com o suporte teórico-metodológico da Teoria das Representações Sociais, em sua abordagem processual. Analisou letras em português de cantigas relativas a 13 orixás, tais como Exú, Ogun, Oxóssi, Ossain, Logun-Edé, Obaluaê, Oxumaré, Xangô, Oyá, Oxum, Iemanjá, Nanã e Oxalá, do livro Cantando para os Orixás, de Altair Bento de Oliveira. A análise lexical do material foi realizada através do software Alceste® 4.5, que gerou um dendograma com cinco classes e em três blocos distintos, evidenciando o papel das Iabás7 e o cuidado materno, o processo de destruição-criação e de manutenção da vida e da comunidade pelas características de Ogum, Oxóssi e Logun-Edé e a relação da comunidade com os orixás e os elementos naturais. As representações sociais dos orixás para a comunidade religiosa do Candomblé apreendidas nas letras das cantigas cantadas no cotidiano das roças e dos ilês8 se estruturam por complexos e antigos thêmatas9 comuns às divindades do ocidente. Observou-se a objetivação na formação de determinadas representações, como a de masculinidade para Ogum, bem como a ancoragem de Oxalá na ancestralidade, na sabedoria e na paciência.

Oriundo das atividades tradicionais religiosas da etnia Yorùbá, por meio do culto Efon - variante litúrgica candomblecista -, nascido no Estado da Bahia, Valdemiro Costa Pinto, vastamente conhecido como “Pai Baiano”, migra para o Rio de Janeiro durante o século XX, fundando um popular Terreiro de Candomblé na Baixada Fluminense, consolidando ampla rede de sociabilidade, contribuindo através de ações sociais à comunidade circunvizinha, interagindo com centenários Candomblés na Bahia, servindo como escola religiosa e cultural para filhos de santo, descendentes, amigos e simpatizantes, caracterizando-se como difusor do culto e da cultura. Nesse sentido, o artigo analisará, com base na oralidade e documentalidade disposta pelo terreiro fundado por Valdemiro Baiano, o passado histórico do venerável Babalorixá Valdemiro, atendo-se, de toda maneira, aos seus feitos envolvendo o Ilê Axé Yangba Oloroke ti Efon, a migração do personagem histórico para o Ketu, na tradição do Terreiro do Gantois, entrelaçando-o com a atualidade do Ilê Ògún Megegê Axé Barulepê (terreiro fundado pelo referido).

In 2019, right before arriving in Salvador, Brazil, to develop missionary activities, an international Protestant organization declared that this city – the center of the black culture in the country – was “known for its people’s belief in spirits and demons.” The statement soon triggered indignation from activists and devotees of Candomblé, the Afro-Brazilian religion that is a key element of the city’s history and identity. This article analyzes the transformation of this case into a public problem, which demanded different forms of reparation and affirmation of religious differences. The text debates the extension of Candomblé's semiotic community in Salvador and how the circulation of its symbols in different social contexts furthers the dissolution of boundaries between “religion” and “politics.” I pursue such ideas by describing a form of civil protest that moves liturgical forms from the Candomblé temples to public spaces. Such civil protest technology engages music, dance, and a set of materialities, presenting an instructive performance of the constitution of “religion” and the “public” in a post-colonial landscape.

Desde a abertura ao público do sítio arqueológico do Valongo, em julho de 2012, numerosas performances artísticas e festivas, militantes, rituais e religiosas, acontecem no anfiteatro e na esplanada em torno do antigo cais. O artigo se interessa pela atuação das religiões de matrizes africanas nesse espaço, focalizando o ritual anual de lavagem do cais dos escravizados pelas Baianas. Ele mostra que as performances rituais ligadas ao candomblé de nação nagô-ketu (apesar de uma antiga e massiva presença bantu neste lugar) foram investidas de um papel central assim como de uma legitimidade singular no trabalho de resgate memorial, de afirmação de identidades e de reivindicação sociopolítica. Essas práticas populares, imateriais e efêmeras participam também da patrimonialização do Cais do Valongo.

This article discusses the concept of Afro-Brazilian fashion in Candomblé, considering their transatlantic symbolic exchanges in an aesthetics of dress, based on the four vectors proposed by Cunnington—fabric, color, shape, and mobility—through which fashion is expressed. In the eighteenth and nineteenth centuries, Brazil received ships from the African coast with așǫ oke, a handwoven fabric created by the Yorùbás to be used as head wraps or to be sewn and worn as shawls by Black women. This and other fabrics, such as wax prints, enter the terreiros as a search for aesthetic identity through clothing, especially during the second half of the twentieth century with the (re)Africanization movement. In this scenario, fabric and color join the shapes and silhouettes of Candomblé costumes to create aesthetic crossovers. While silhouettes common to Brazil's colonial period meet the various forms of fabric binding in traditional Candomblé costumes, the (re)Africanized terreiros bring more rectangular shapes to their dress. Adorning these costumes are the insignias worn by the òrìṣàs, which act as an extension of their gestures. Wielding, wearing, and adorning themselves with different insignias on their arms, head, and legs, the òrìṣàs dramatize their mythical stories, in narrative and symbolic performances of dress. Thus the Afro-Atlantic fashion seen in these costumes escapes the boundaries of Euro-Western fashion. [ABSTRACT FROM AUTHOR]

This article aims to analyze the importance of reading for the sociocultural transformation of children belonging to Afro-Brazilian religions from an Afrocentric approach. To conduct the research, an ethnography was carried out in a Candomblé yard, Ketu nation, located in the state of Rio de Janeiro. Afrocentric literature for children serves as a powerful tool to promote diversity, inclusion, and mutual understanding. It empowers children to embrace their cultural heritage, question injustice, and celebrate the richness of human diversity. Therefore, it is crucial for parents, educators, and librarians to encourage reading books that represent and celebrate African and Afro-descendant culture. [ABSTRACT FROM AUTHOR]

In this paper, an interpretation is attempted of the Romanian myth, “Legenda despre zidirea lumii”. Parallels are drawn with tales such as Genesis, the Babylonian narrative of Marduk constructing the world from Tiamat, and the Norse sto­ry of Odin shaping the world from Ymir. In the Romanian myth, Satan’s prideful omis­sion to enunciate God’s blessing as he collects sand results in the formation of varied terrains. His attempt to harm God inadvertently spreads divine blessings all over the world. Similarly, in Norse and Yoruba myths, stifling barriers and attempts at desecra­tion lead to the paradoxical spreading of life and blessings, emphasizing the unforeseen outcomes of resistance to divine will.

Onilé, an entity from ancient Dahomey, had its cult recreated in Brazil through Afro-based religions Brazilian, sometimes resembling the constitution of the ground/foundation of a Candomblé terreiro with the aim of expand the realizing force (asé|), through the recreation of mythical territories that recompose the microcosm African with their ways of life and production of ancestral knowledge redefined in the present. The text brings perceptions about Onilé in Africa and the Diaspora and its relationships with other existences in places and coexistence with differences intertwined with the thought of Totality-World and Poetic Relationship by Eduardo Glissant; the flows of Afro-Brazilian philosophy and the description of experiences observed in Candomblé terreiros Ilè Logun Edé Ala Key Koysan, in the neighborhood of Boca do Rio - Salvador-BA. [ABSTRACT FROM AUTHOR]

Focusing on the Brazilian spirit-incorporation religion of Umbanda, this article proposes a theoretical shift in conceptions of hybridity: a move from asking "what ingredients mix in what manner to produce what result?" to asking "how do we interpret religious innovation?" This approach sees meaning as simply the result of interpretation (not in terms of a representational relation between words and world). It also underlines the centrality of discursive claims of hybridity and purity, as opposed to historical issues of origins – a point clarified by comparing "hybridity" to "tradition." Comparison of Umbanda and Candomblé leads to the conclusion that each can be considered both "Afro-Brazilian" and "hybrid" in different ways. Candomblé exhibits semantic polarity (all groups accept that a certain sub-type is more authentic and hybridity marks divergence from that norm). Umbanda exhibits semantic plurality (wide variation between groups is not subject to such a normative judgment). [ABSTRACT FROM AUTHOR]

RESUMO Partindo do pressuposto de Alfredo Bosi (1996), sobre a potencialidade do caráter resistente de uma narrativa, a proposta do presente artigo é analisar a religiosidade popular do candomblé emTenda dos milagres, o romance (1969) de Jorge Amado e o filme etnológico (1977) de Nelson Pereira dos Santos. No romance e no filme, o candomblé surge como lugar de identidade, de resistência e de luta por justiça do povo negro e mestiço.

Este artigo tem por objetivo investigar as formas linguísticas de herança africana nas práticas ritualísticas do candomblé de nação queto, considerada uma variedade de iorubá, em sua relação com a escrita e linguagem não-verbal. Para tanto, utilizamos como corpus de análise as letras das cantigas oriundas do ritual da Sassain. Neste estudo, analisamos apenas alguns itens do léxico para apontar os aspectos sociais e culturais dessa produção linguística em seu uso real, que acompanha o uso da escrita e linguagem não-verbal como marcador de identidade africanizada. Com o embasamento teórico da Sociolinguística e coleta de dados pautada na etnografia, explicamos através das relações sociais os fenômenos linguísticos, principalmente os ligados à manutenção e à resistência, nesse espaço religioso, que resiste desde o período colonial no Brasil como herança africana que sofreu todo tipo de supressão cultural e preconceitos, mas ainda busca a criação de uma África simbólica (Evaristo, 2012), adaptando-se para a manutenção de sua cultura e resistindo até hoje, principalmente apoiada nas religiões de matriz africana, que conservam essas práticas ancestrais através da língua, da culinária, das crenças e paramentas.

O presente trabalho objetiva apresentar discussão acerca da importância da extensão universitária para a formação dos estudantes de Direito, bem como da imersão destes no universo das religiões de matriz africana, de forma a capacitar os futuros operadores do Direito para o melhor exercício da profissão, despidos de estereótipos e preconceitos relacionados ao Candomblé. A metodologia utilizada foi multi-métodos; técnica de coleta de dados: aula de campo, questionário, revisão bibliográfica e entrevista semiestruturada. Como análise de dados, utilizou-se uma abordagem teórica e empírica das vivências. Por suporte teórico, o texto valeu-se de Severino (2017), Costa (2021), Caputo e Passos (2007), Gil (1999), Villani e Nascimento (2003), entre outros. Os resultados revelam que a experiência promoveu uma apreciação do Candomblé e destacou a importância da transmissão oral de conhecimento para a compreensão dos estudantes, bem como foi basilar para a desconstrução de preconceitos e ampliação do alcance universitário para formação de ponte sólida entre sociedade/universidade com os terreiros inseridos diretamente nesse processo.

This paper centers on Isabella, a Candomblé follower who struggled with severe rheumatoid arthritis from an early age, arguing that care and self-care practices in Candomblé are intertwined to such extent that they challenge the dichotomy of caring and being cared for. In contrast to a linear model of care that positions care-giver and care-receiver at opposite ends of care relationships, the concept of 'circular care' describes forms of care that are directed at others and simultaneously at oneself. Exploring the religious kinship in a Candomblé house - with Candomblé deities (orixás) and between humans - this paper shows how circular care blurs the distinction between self and other. The emic concept of 'the double mirror' illustrates the 'constitutive alterity' of humans and orixás who relate to each other through kinship building and collective care practices. Since circular care frames one's care for the orixás and the religious family as healing self-care, failing to provide the correct care may in turn be experienced as detrimental self-neglect. The concept of circular care thus enables a deeper understanding of complex dynamics of care and self-care in the contexts of chronic illness, religion, kinship, and beyond. [ABSTRACT FROM AUTHOR]

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Timelines are well known temporal organizers in various types of African diasporic groove-based musics. But what happens when they are deliberately cut, rotated, or staggered? This article explores some compositional techniques used by Orkestra Rumpilezz, a big band from Bahia, Brazil, that combines jazz with Afro-Bahian carnival and sacred music and that bases its compositions on traditional and modified timelines. The paper offers metric interpretations of the orchestra’s timeline experimentations and relates them to their stated goal to “dignify and demonstrate the high level of rhythmic complexity of Afro-Bahian music.” The main demonstration is that the composer’s experimentations with timelines are a technique to increase rhythmic complexity and to elevate the status of Afro-Bahian music. Additionally, I propose a way to expand existing timeline models to account for more subtle and implicit relationships of timeline alignment found in Brazil. The main goal is to discover how the orchestra’s claimed rhythmic complexity is expressed through arrangement. This is achieved by combining music theory, analysis, and ethnographic work in Bahia.

his article considers representation, identity, perception, reception, and musical appropriation, within the so-called Bahian Percussive Universe in Salvador, Bahia, through the lens of Orkestra Rumpilezz. Rumpilezz is a relatively new big band from Salvador that specializes in the mixture of local rhythms (particularly from candomblé) with jazz. This orchestra portrays, constructs, and reinvents the local musical culture as centered in percussion and rhythm, engaging local and global discourses about the nature of African-derived musics. Based on ethnographic research, music analysis, and recent approaches to the study of music in society, here I discuss possible reasons for Rumpilezz's positive reception in Salvador.

O presente artigo é um revisitar da pesquisa de doutorado onde pesquisei os jogos de Máscara no Candomblé a fim de produzir estratégias de composições físicas para a cena contemporânea. Sob a perspectiva da Encruzilhada, cruzei a percepção desses jogos de Máscara com a metodologia de Jacques Lecoq e de outros encenadores do Teatro Ocidental. A partir de uma tríade metodológica que engloba pesquisa bibliográfica, pesquisa de campo e laboratório cênico, este artigo apresenta algumas das estratégias que foram desenvolvidas durante o doutoramento.

Resumo Ôrí é um filme documentário de 1989, dirigido por Raquel Gerber e guiado pela fala da intelectual negra Maria Beatriz Nascimento. Em um plano, a obra nos apresenta a história e os pensamentos de Beatriz, sendo estes narrados pela própria autora (em voz over). Em outro plano, o documentário aborda ações dos movimentos políticos e das instituições culturais negras registradas no período das gravações entre 1977 e 1988 no âmbito das quais a própria Beatriz, como militante, teve uma participação importante. Interconectando essas duas instâncias, o filme desenvolve o conceito de quilombo para narrar a problemática racial brasileira e as formas de resistência e luta do povo negro por meio de instituições como terreiros, escolas de samba, bailes black, etc. Nesse artigo pretendemos entender o pensamento elaborado pelo filme acerca das religiões afro-brasileiras, investigando a inserção de tais liturgias e cosmologias afro-atlânticas em um discurso estético, ético e político mais amplo. Inicialmente apresentamos a metodologia adotada e em seguida analisamos mais detidamente o objeto fílmico enquanto obra etnográfica e artística de múltiplos significados.

Resumo Este artigo tem como objetivo compreender como os terreiros de candomblé se organizam como resistência perante o racismo religioso. Para tanto, desenvolvemos uma pesquisa etnográfica em um centro de candomblé da nação Ketu Axé Oxumaré, localizado em Belo Horizonte (MG). Os dados das entrevistas foram submetidos à análise de narrativas. Os resultados sugerem que o candomblé é percebido pelos integrantes da casa de santo como uma estratégia, uma organização de sobrevivência não só física, mas também de estilos de vida subalternos. Trata-se da resistência da cultura afro-brasileira, uma resistência anticolonial que promove, por meio da religião, a pertença política de afirmação da negritude; de uma organização decolonial de sobrevivência, de manutenção e, sobretudo, de perpetuação de tradições e modos de vida nos terreiros negligenciados, aviltados, negados e subalternizados pela colonialidade.

Exploramos com Marcio Goldman alguns aspectos que contribuem para ilustrar os princípios cosmológicos do que é conhecido na literatura acadêmica brasileira contemporânea como “religiões de matriz africana”. Por meio das oferendas às divindades, somos apresentados a uma compreensão da dinâmica das forças que sustentam o universo das religiões afro-brasileiras, bem como a uma dimensão nacional de algumas das polêmicas sobre suas práticas. Em particular, ao analisar os argumentos que sustentam as críticas às oferendas de animais, examinamos os elementos problemáticos das concepções e sensibilidades contemporâneas ao abordar as relações entre essas práticas e o meio ambiente, entre humanos e não humanos e entre humanos e divindades. Assim, são apontados os limites e as contradições dos pressupostos teóricos e conceituais com os quais esses universos religiosos são geralmente abordados. Essas perspectivas reproduzem, de forma intencional ou inadvertida, visões simplistas e preconceituosas; mais especificamente, revelam suas raízes etnocêntricas e racistas. A partir de uma longa experiência de pesquisa em um terreiro de candomblé angola, como modulação de um universo religioso mais amplo, Marcio Goldman apresenta uma matriz de inteligibilidade que traduz a complexidade de um modo de pensar que concebe o mundo como uma grande rede que conecta tudo o que existe (humanos, divindades, animais, plantas etc.). Essa concepção está presente nas diversas expressões ou modulações das religiões de matriz africana nas Américas (candomblé, santería, vodu etc.). As oferendas e o processo legal que buscou bani-las são úteis para se pensar em visões de mundo que se confrontam, em condições de desigualdade, e trazem à antropologia o desafio de realizar um exercício capaz de retransmitir um diálogo simétrico e não hierárquico, como expressão de uma relação respeitosa com as religiões de matriz africana. Isso, por sua vez, exige da prática científica antropológica uma desaceleração capaz de criar uma linguagem de comunicação baseada em um diálogo que não seja construído a partir de uma posição de superioridade.

As religiosidades de matriz africana tem um importante papel na condução das práticas de saúde de seus devotos a partir de uma visão integral do corpo da pessoa que considera o ser humano em suas diferentes esferas, a espiritual, a social, a mental e a biológica. No candomblé, a cabeça, denominada de Orí, é entendida como a sede da individualidade do sujeito, possui um conteúdo espiritual, tem status de divindade, e guia os filhos e filhas de santo em sua jornada no Ayê. Se enfraquecida, ela pode trazer enfermidades, o que exige uma série de procedimentos rituais para o fortalecimento de Orí, como o bori, que se traduz no ritual de dar comida e bebida à cabeça, essencial para o restabelecimento da saúde espiritual ou física. A partir desse contexto, a pesquisa buscou compreender a importância de Orí para o processo saúde-doença de pessoas filiadas ao candomblé, entrevistando sujeitos de diferentes terreiros. Os resultados apontam para a capacidade de Orí em fortalecer o caráter das pessoas, seus valores e atitudes positivas diante da vida, como sendo fundamental para se fazer boas escolhas em prol da saúde, e evitar as enfermidades. Ter uma cabeça boa é ter uma saúde boa.

Este artigo reúne notas e explora novos dados sobre um tema ainda pouco visitado nos estudos sobre a religiosidade afro-brasileira, embora seja um fenômeno bastante difundido: o associativismo vinculado às religiões de terreiro. Através de jornais publicados em Salvador, especialmente nos anos 1970, bem como por meio de dados etnográficos e historiográficos, apresentam-se sujeitos, interpretações, propostas e associações vinculadas à religiosidade afro-brasileira, que permitem compreender melhor as relações entre a experiência dos povos de terreiro e as lutas por direitos do negro no Brasil, sobretudo os esforços pelo reconhecimento de sua cidadania plena e pela superação do racismo na sociedade brasileira. A pauta do reconhecimento dos rituais ancestrais como religião, que incluía noções de valorização e respeito, evidencia que os terreiros não estavam distantes da agenda do movimento social negro, que procurava se articular nacionalmente a partir dos anos 1930.

In scientific literature, mediumship and its different expressions were not always considered cultural and religious categories, with positions associated them with psychic illness predominating. In this sense, developmental psychology can contribute to the emergence of positions that no longer promote stigmatization and intolerance towards people who manifest mediumship. This investigation aims to highlight the main contributions of the bioecological theory of development to studies on mediumship in Brazil. 61 mediums were interviewed from different religious centers of Umbanda, Candomblé, and Kardecista Spiritualism, located in three cities in the inland of São Paulo and Minas Gerais States. Bioecological theory elements were identified in the mediums' narratives - person, process, context, and time - as discussed, the notions of ecological transition to understand life trajectories and ecological insertion to reflect on the role of the researcher in this research context. The data from this study reveal the need for revisions and improvements to the framework, especially in terms of ecological insertion, to allow access to the field and interlocutors in a systemic exploration of the phenomenon of mediumship. The person dimension can also be revised to encompass not only the demands, resources, and dispositions of the medium but also the entities/orixás incorporated by them during the possession trance, elements that are embedded in the description of who this medium is in terms of its bioecological characteristics. In addition to these recommendations, it is noteworthy that bioecological theory has contributed to an investigation of mediumship from a developmental point of view, focusing on processes of change and allowing the emergence of intelligibility committed to the comparison of this phenomenon in response to racist positions, prejudiced and intolerant that have traditionally marked the study of mediumship in the Brazilian context and also the care given to these mediums. [ABSTRACT FROM AUTHOR]

In this paper, we take our cue from Kevin Schilbrack's admonishment that the philosophy of religion needs to take religious practices seriously as an object of investigation. We do so by offering Afro-Brazilian traditions as an example of the methodological poverty of current philosophical engagement with religions that are not text-based, belief-focused, and institutionalized. Anthropologists have studied these primarily orally transmitted traditions for nearly a century. Still, they involve practices, such as offering and sacrifice as well as spirit possession and mediumship, that have yet to receive attention from philosophers. We argue that this is not an accident: philosophers have had a highly restricted diet of examples, have not looked at ethnography as source material, and thus still need to put together a methodology to tackle such practices. After elucidating Schilbrack's suggestions to adopt an embodiment paradigm and apply conceptual metaphor theory and the extended mind thesis to consider religious practices as thoughtful, we offer criticism of the specifics of his threefold solution. First, it assumes language is linear; second, it takes a problematic view of the body; and third, it abides by a misleading view of the "levels" of cognition. We conclude that the philosophy of religion should adopt enactivism to understand religious practices as cognitive enterprises. [ABSTRACT FROM AUTHOR]

Resumo A discussão sobre relações raciais, no Brasil e em outras margens do Atlântico, tende a privilegiar alguns signos exteriorizados, discursos e traços demarcadores da diferença. Porém, a condição de sujeitos reflexivos, capazes de analisar não apenas suas experiências, mas também de pensar múltiplas relações e alteridades, costuma ser negada a pessoas e grupos negros de diversas formas, mesmo na bibliografia especializada. Proponho neste artigo, na contramão dessas duas tendências, uma reflexão de cunho epistemológico sobre as noções de silêncio e segredo, centrais para o candomblé e para outras comunidades afrorreligiosas, a partir da trajetória do músico baiano Dorival Caymmi. Com isso, pretendo evidenciar certas dimensões não ditas, íntimas, dos processos de racialização brasileiros, que incluem o caráter estratégico do silêncio e das alianças solidárias, micropolíticas. Espero salientar, dessa forma, as possibilidades de agência e sobretudo a importância conceitual das ideias e histórias atualizadas pela vivência dos candomblecistas, suas entidades e seus terreiros.

The article seeks to understand how religious organizations of African origin, through the cult of female deities, value women and what are the social impacts on their lives. The research corpus was composed of the transcription of the six interviews and were analyzed according to the methodological orientation of the content analysis. It´s understood that the cult of deities provide women with the construction of an identity that seeks to break with machismo and to place women as a subject full of force, both magical and social and biological, since they are the extension of the deities themselves as well as those who control life.

O presente trabalho reflete sobre a concepção dramatúrgica expandida de uma poética negra em exercício intitulada Afrocênica, imersa no Coletivo AFRO(en)CENA, por meio do experimento cênico Travessias... ciclos transatlânticos. Problematiza-se o conceito de expressão na cena ritual, alinhavando a ideia de uma dramaturgia em ciclos, inspirada na cosmovisão do Candomblé Congo-Angola. Pretende-se contribuir para o alargamento de epistemologias no âmbito da performance negra, sobretudo no investimento de novas escritas cênicas que contemplem a horizontalidade da cena preta a partir da produção ritual social tradicional dos Bantu.

The present work reflects on the expanded dramaturgical conception of an acting black poetics entitled Afrocênica, immersed in the AFRO(en)CENA Collective, through the scenic experiment Travessias… ciclos transatlânticos. The concept of expression in the ritual scene is discussed, outlining the notion of a dramaturgy in cycles, inspired by the worldview of Candomblé Congo-Angola. It is intended to contribute to the expansion of epistemologies within the scope of black performance, especially in the investment in new scenic writings that take into consideration the horizontality of the black scene based on the traditional social ritual production of the Bantu.

O artigo apresenta informações sobre o Sítio Dagomé, um candomblé rural que funcionou na cidade de Salvador (Bahia) entre as décadas de 1830 e 1870. A partir de uma planta topográfica do terreiro produzida no fim do século XIX, o artigo explora as possibilidades historiográficas da cartografia para revelar aspectos da espacialidade, a sociabilidade e a práxis ritual do grupo religioso. Num segundo momento, trata do candomblé rural e dos conflitos fundiários entre rendeiros e proprietários, mostrando a imbricação entre a luta pela posse da terra, a economia agrícola e a institucionalização do candomblé. Na parte final, o texto examina a rede social da liderança do terreiro, indagando até que ponto a comunicação atlântica mediada por mercadores e viajantes africanos, na primeira metade do século, teve alguma incidência na formação do sítio Dagomé.

Diversity is a key characteristic of Brazilian culture, greatly influenced by the heritage of African diaspora peoples in the fields of aesthetics and religion. Both contemporary Art and Candomblé reflect a vibrant Africa that asserts its unique identity and reclaims ancestral roots through chants, crossroads, and artworks. This study aims to create a diagram, a semiotics of “terreiro”, with art and Candomblé as privileged expressions of the symbolic crossroad that signifies the black heritage in Brazilian culture—a resilient force. Barthesian semiotics guide us to question signification and image, and Deleuzian philosophy provides theoretical support of a diagram to explore our constitutive ancestry, where Candomblé and Art serve as starting points on an open path, transcending texts and their meanings, encompassing the aesthetic experience of this works and reflecting it to the texts. This article is the outcome of a broader study investigating the concept of ancestrality in audiovisual media and aimed to define a cartography that could potentially diagram artworks created by Black individuals in Brazil. Within this framework, we present an analysis of Clébson Francisco's multimedia works, an artist from Ceará. Although the results are partial, they provide a glimpse of a semiotics of “terreiro”, emphasizing the aesthetics of ancestrality and Candomblé as foundational aspects in the symbolic field of African heritage within Brazilian culture. [ABSTRACT FROM AUTHOR]

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